Aliança do Crime

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Filmes de máfia são sempre legais, mesmo quando não são dos melhores exemplares. Você sempre pode contar com fartas doses de violência, tiroteios, os mafiosos matando tempo (além de pessoas) falando bobagens no maior clima “turma do fundão da escola” e, claro, a palavra “fuck” tende a ser usada indiscriminadamente em todos os contextos e variações.

Em suma, os longas do gênero tendem a ser um bom passatempo, mesmo não sendo exatamente marcantes como um Os Bons Companheiros ou a trilogia O Poderoso Chefão. Aliança do Crime está a léguas de distância dos exemplos que acabo de citar. Na verdade, nem deveria estar no mesmo parágrafo que eles. Mas até que é ok, e rende duas horinhas razoáveis, ainda que não exatamente épicas.

Ele trata da história real do mafioso James “Whitey” Bulger, que domina a zona sul de Boston com seus esquemas ilegais e sua violência desenfreada. Não bastasse o talento para o crime, Bulger também era bem relacionado. Seu irmão Billy (Benedict Cumberbatch) era senador e Whitey, ainda por cima, era informante do FBI, dedando os concorrentes da máfia italiana e usando a própria agência para eliminar os rivais e assim angariar ainda mais poder.

A história, como você pode ver, possui elementos o bastante que lhe conferiam potencial para ser um dos melhores trabalhos do gênero, mas como já foi bem estabelecido, isso fica longe de acontecer. Toda a condução é extremamente morna, diria até bastante fria em vários momentos. Carece de punch, coração. Ao invés disso, o roteiro segue a cartilha do gênero sem criatividade, tornando-o previsível.

Durante todo o tempo fiquei imaginando que Martin Scorsese faria miséria com essa película. Talvez este seja o grande problema. O diretor Scott Cooper tem apenas três longas (contando com este) em sua filmografia. Talvez com um pouco mais de experiência, poderia dar um gás melhor aqui.

O potencial para ser algo maior e muito mais legal está sempre lá, mas nunca é aproveitado, optando apenas pelo arroz com feijão. Ficou bom, mas poderia ser muito melhor. Assim, o grande destaque fica mesmo por conta das atuações individuais. Todos os nomes do elenco entregam performances sólidas.

Em particular, Johnny Depp é quem acaba por levar a película nas costas. Depois de um longo período de personagens repetidos, sempre requentando o estilo esquisitão que tanto aprecia, aqui o ator finalmente sai do piloto automático e entrega uma atuação caprichada, ainda que não fuja de outra de suas predileções, a de esconder o rosto debaixo de maquiagem.

Agora careca e com as lentes de contato mais feias do mundo, que lhe dão um ar quase vampiresco, ele constrói um James Bulger ameaçador, violento e deveras assustador quando contrariado. Bom para lembrar a todos porque ele é um dos melhores atores de sua geração, fato que andava meio esquecido após tantas parcerias sem graça com Tim Burton e outros trabalhos que apenas pareceram lhe render um cheque bem gordo.

No mais, é o típico filme de máfia com todas as suas reviravoltas e situações típicas. Para quem gosta do gênero, as atuações acima da média e os acontecimentos padrão do estilo garantem diversão suficiente para merecer uma assistida. Contudo, se este não é seu tipo de história, não é Aliança do Crime que vai fazê-lo mudar de opinião.

CURIOSIDADE:

– Já que citei Martin Scorsese, vale lembrar que o verdadeiro James “Whitey” Bulger serviu de inspiração para o personagem de Jack Nicholson, o mafioso Frank Costello, no tremendão Os Infiltrados.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
alianca-do-crimePaís: EUA<br> Ano: 2015<br> Gênero: Cinebiografia<br> Duração: 122 minutos<br> Roteiro: Mark Mallouk e Jez Butterworth<br> Elenco: Johnny Depp, Joel Edgerton, Benedict Cumberbatch, Dakota Johnson, Kevin Bacon, Peter Sarsgaard, Adam Scott, Corey Stoll e Juno Temple.<br> Diretor: Scott Cooper<br> Distribuidor: Warner<br>