A Hora da Escuridão

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Quando cheguei ao cinema onde seria exibido A Hora da Escuridão, encontrei uma colega de profissão que o Corrales e eu havíamos conhecido em uma outra ocasião e perguntei a ela: “e aí, empolgada para o filme?”. Após a reação de desgosto dela, comentamos que este longa tinha recebido trailers sérios demais, mas com a imagem do press-kit que recebemos (que é o pôster que você vê ao lado), estávamos em dúvida se a proposta do filme era ser sério ou divertido. E quer saber? Depois de assisti-lo, eu ainda não tenho certeza qual é a dele!

A sinopse é tão sem noção que precisei sacaneá-la em um trailer que divulgamos no ano passado: quatro estadunidenses e mais um cara estão em Moscou quando uma invasão alienígena começa. Aparentemente, apenas os americanos sobrevivem e agora vão ter que fugir dali porque, oras, não dá para ser atacado por fuckin’ etês invisíveis no mesmo país que abrigou Lenin e Stalin no passado.

Ok, eu sacaneei ela de novo nesta resenha também. =P

Logo no começo após o extermínio, um dos personagens principais fala com seriedade e confiança: “iremos até a embaixada dos EUA. De lá, vamos para casa”. Delfonauta, essa é uma lógica imbatível. Afinal, com Moscou toda destruída, sem gente, sem comida e sem aviões, a embaixada dos States é o lugar que terá todos os recursos necessários para salvá-los e enviá-los de volta ao solo da liberdade. Não importa que ela fique em Moscou, o que é dos States é sempre melhor e mais seguro.

A Hora da Escuridão está cheio desses momentos extremamente engraçados, desde que você não os leve a sério. Na maioria das vezes, o humor parece não intencional. Ao mesmo tempo em que não dá para acreditar no que está acontecendo, o longa parece sério!

Em uma cena, o grupo está em um navio (nem pergunte), que é atacado por etês. O negócio explode, e aí todo mundo cai em um rio. Todos conseguem se salvar e nadam até o local combinado, com exceção da mocinha, que some. E ela vai parar do outro lado de Moscou. Não darei mais detalhes para não estragar, mas garanto que essa cena não faz o menor sentido, assim como o restante do filme.

O filme é um slasher misturado com apocalipse zumbi. Os personagens variam de “um pouco burros” a “totalmente desprovidos de cérebro”, e isso é muito legal nas cenas em que eles escapam dos etês, e especialmente quando não escapam. Um exemplo da inteligência deles é quando um sujeito encontra uma metralhadora no chão, arma que havia sido provada inútil contra os aliens. Os outros personagens perguntam o que o cara irá fazer com aquilo, ao que ele retruca: “Sei lá, eu me sinto mais seguro com ela”. Sim, até eu me sentiria, mas o delfonauta já deve imaginar como termina essa história.

Quem assistir vai perceber que os cortes neste longa são um pouco bizarros, e assim a narrativa fica às vezes confusa e/ou incoerente. Geralmente, isso acontece quando os personagens demonstram alguma dificuldade absurda para chegar a algum determinado lugar e, passado o momento de tensão, avançam com muita rapidez até o local que antes estavam sofrendo para alcançarem. Um exemplo mais claro disso é quando um personagem fala que é impossível passar por uma área infestada de inimigos, e que se eles usassem uma rota alternativa, levariam cinco semanas para cumprir o trajeto. Depois, ele sugere seguir caminho pelo metrô e pronto, poucos minutos depois eles chegam aonde queriam.

Embora A Hora da Escuridão deixe dúvidas se ele é um longa totalmente descompromissado, há diversas pistas indicando que os roteiristas, o diretor e o elenco estavam todos doidos quando fizeram o filme. Uma certa mensagem de celular no final, então, me fez rir tanto que eu até fiquei com medo de chamar atenção na sala de cinema. Delfonauta, aquilo é muito ridículo! E ao mesmo tempo brilhante, devido ao elevado nonsense da cena em si.

É bom que A Hora da Escuridão seja tão engraçado sem querer (ou ele até quer ser palhaço durante a maior parte do tempo, sinceramente não sei), porque na verdade esse filme é ruim demais. As atuações são em geral medíocres, os cortes são péssimos e o roteiro está tão cheio de incoerências e clichês que se eu levasse esse filme a sério, ele ganharia um Alfredo e olhe lá.

Não é todo mundo que vai encarar A Hora da Escuridão como um filme de comédia (aparentemente) não intencional. O problema é que, justamente por esse humor não ser escancarado, algumas pessoas podem achá-lo sem graça. Algumas partes dele são sérias e outras possuem um humor bastante bobo. Ou seja, consigo imaginar alguns delfonautas entediados e outros procurando por um bom survival com diálogos interessantes onde só há espaço para estadunidenses sem noção fugindo de etês invisíveis.

Minha dica para assistir é juntar um grupo de amigos e/ou sua (seu) namorado (a) pentelho e preparar-se para fazer piadinhas depois da sessão. Se for assistir, não veja em 3D, porque os efeitos são mínimos.

Curiosidades:

– Para quem está duvidando que este longa é ridículo, selecione o espaço abaixo com várias das pérolas encontradas nele. São todos spoilers feios, mas que podem ajudar a deixar claro o que falei durante toda a resenha. Veja apenas se estiver muito curioso.

Bizarrice nível baixo: Os aliens possuem um campo de força que os tornam invisíveis, mas um personagem russo descobre um jeito de quebrar a defesa deles. Ele criou uma arma de “micro-ondas concentradas” (!). Sim, e os efeitos se ampliam quando o raio é atirado na água, assim como a eletricidade.

Bizarrice nível médio: os sobreviventes encontram alguns russos armados até os dentes. O chefe está sentado em um cavalo. Um outro usa uma porta de um carro de polícia como escudo. Um cara forte e punk carrega sozinho pelos menos três bazucas e o outro, embora não tão ridículo, tem vários adereços curiosos em sua roupa. Eles lutando contra os etês é algo impagável.

Bizarrice nível alto: no começo do filme, uma das mocinhas recebe uma mensagem de celular da mãe, que pergunta por que a moça saiu dos Estados Unidos sem avisar e foi até Moscou. Quando ela e o outro mocinho são resgatados pelo submarino nuclear ao final do filme, a moça recebe uma mensagem que diz mais ou menos isso: “Filha, estou bem, encontrei sobreviventes. Espero que você esteja bem e voltando para casa. Beijos, te amo, mamãe.” Essa é a parte ridícula ao final do filme a qual me referi no texto, especialmente depois de um longa tão sem noção quanto este.

REVER GERAL
Nota
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Daniel Villela
Daniel adora heavy metal, rock progressivo e Frank Zappa, jogos de FPS, aventura, plataforma e RPG, é fanático pelo MCU, curte séries de TV como Mad Men, Breaking Bad, Demolidor, 24 Horas, Friends e The IT Crowd. No lado profissional, é formado em Jornalismo, pós-graduado em Comunicação Empresarial e trabalha na área de Marketing.
a-hora-da-escuridaoPaís: Estados Unidos/Rússia<br> Ano: 2011<br> Roteiro: Jon Spaihts<br> Elenco: Emile Hirsch, Olivia Thirlby, Max Minghella, Rachael Taylor e Joel Kinnaman.<br> Produtor: Timur Bekmambetov<br> Diretor: Chris Gorak<br> Distribuidor: Fox<br>