A Grande Viagem

0

Esse é um filme que tem toda a pinta de ser chato, mas, por incrível que pareça, é bem legal. Ele tem algumas características que poderiam levá-lo a ser cansativo, pois é de um diretor nascido no Marrocos, que cresceu na França, é falado tanto em francês como em árabe marroquino (além do árabe tradicional) e tem a seguinte sinopse: filho de pais muçulmanos, o jovem Reda, que vive no sul da França com sua família, se vê obrigado a levar o pai a Meca, em uma viagem de praticamente cinco mil quilômetros, de carro. Isso sem contar que o pai dele é um velho de normas rígidas por causa da religião e, durante a viagem, eles mal conversam, justamente porque não sabem direito o que dizer um ao outro.

Quem não gosta de filmes franceses, ou filmes do oriente médio (mais conhecido no Brasil pelos filmes iranianos), ou até mesmo quem odeia os filmes franceses e os filmes de língua árabe em geral, pode se surpreender se der uma chance para A Grande Viagem, afinal, é também um road movie e isso só o deixa ainda melhor.

Muito mais do que um mero retrato de uma religião estranha aos nossos olhos (como foi, por exemplo, o afegão Osama), o filme conta a história de um relacionamento entre pai e filho que leva o público a uma identificação com a obra, sem se importar muito com religiões. O jovem Reda não é muçulmano como o pai e não entende o que se passa na cabeça do velho, enquanto este aproveita a viagem de carro para tentar se aproximar do filho, mas é teimoso com suas idéias e com o que pensa da vida (qualquer semelhança com outros milhares de pais, espalhados pelo mundo, não é mera coincidência).

Ao se concentrar na evolução desse relacionamento do filho com o próprio pai, o diretor Ismaël Ferroukhi conseguiu ir além e mostrar um pouco do mundo islâmico de modo exemplar, pois ele chegou muito perto da imparcialidade. Tudo bem que nós, aqui do DELFOS gostamos do jornalismo parcial, mas quando se trata de religião, é sempre mais clichê e pior para o filme, quando esse defende determinada crença com unhas e dentes, pois nenhuma delas é perfeita e isso é um fato.

Com A Grande Viagem, Ferroukhi conseguiu passar uma mensagem que muitos filmes que tratam de religião não conseguiram: antes de sermos católicos, muçulmanos, judeus, protestantes, budistas ou qualquer outra coisa, somos seres humanos e isso é o que mais importa. Somos pais, somos filhos, somos irmãos, ou seja, temos um vínculo familiar com pessoas que nem sempre acreditam no que nós acreditamos, mas nós as amamos mesmo assim, independentemente delas acreditarem em Deus, Alá, Buda ou até no Maradona.

No final das contas, o filme é uma grande lição de tolerância. Pai e filho estão em outra sintonia. Vivem em mundos diferentes. Isso não significa que um não respeite, ou até mesmo não ame o outro, ao contrário, eles são diferentes e são capazes de tolerar essas diferenças. È o tipo de filme que o Bush, o Bin Laden e centenas de outros líderes políticos e / ou religiosos, definitivamente não devem gostar, pois ele mostra que a paz é possível e isso não é lucro para ninguém. Infelizmente.

Galeria

Galeria

REVER GERAL
Nota
Artigo anteriorSaiu o primeiro trailer de O Balconista 2. Assista aqui
Próximo artigoWhitesnake está terminando músicas novas
Alfredo De la Mancha
Alfredo é um dragão nerd que sonha em mostrar para todos que dragões vermelhos também podem ser gente boa. Tentou entrar no DELFOS como colunista, mas quando tinha um de seus textos rejeitados, soltava fogo no escritório inteiro, causando grandes prejuízos. Resolveu, então, aproveitar sua aparência fofinha para se tornar o mascote oficial do site.
a-grande-viagemPaís: França / Marrocos<br> Ano: 2004<br> Gênero: Drama<br> Duração: 108 minutos<br> Roteiro: Ismaël Ferroukhi <br> Produtor: Humbert Balsan<br> Diretor: Ismaël Ferroukhi<br> Distribuidor: California Filmes<br>