Depois de muitas semanas jogando, finalmente concluí a campanha de Assassin’s Creed Origins, somando 43 horas de jogo. E que campanha, delfonauta! Que senhora campanha!

Eu estava bastante cético com o lançamento de Origins, por motivos de ter esgotado minha fé na franquia – especialmente depois daquela empreitada cinematográfica meia bomba com o Fassbender, que soube aproveitar muito pouco do potencial da série.

Assassin's Creed Origins, Delfos
Eu quando saí do cinema.

Mas eu mordi a língua, e nunca estive tão contente em admitir que estava errado. Porque Origins é um jogaço. Mais que isso, considero que seja o melhor Assassin’s Creed de todos – mais pelo conjunto da obra do que pela narrativa em si, mas tudo bem.

FALANDO EM NARRATIVA

Pode até ser que a história de Origins não seja a mais incrível de toda a série, mas com certeza está entre as melhores. Ela começa já a todo vapor, jogando você de paraquedas no meio da trama. Somente depois de algum tempo – umas duas horas, talvez – é que você começará a entender o que está pegando.

Bayek de Siwa é o último dos Medjais, uma espécie de polícia egípcia que auxilia a comunidade a resolver tretas diversas. Esse cargo combina perfeitamente com a proposta do jogo, já que muitas das missões (especialmente as secundárias) envolvem ajudar o povo local a lidar com seus problemas.

Assassin's Creed Origins, Delfos
Tipo convencer essa mocinha a não se matar.

Ao contrário de muitos jogos de mundo aberto que fazem o jogador se sentir como um garoto de recados, correndo de um lado a outro somente porque sim, em Origins toda tarefa parece perfeitamente contextualizada.

Ir até o ponto X para eliminar um bando de crocodilos ou saqueadores, por exemplo, não soa forçado. Afinal, é esse tipo de atividade que se espera de um Medjai, já que ele existe para proteger seu povo. Ponto para a Ubisoft!

Outro aspecto que merece uma salva de palmas são os diálogos pós-morte, aqueles que se desenrolam quando você mata um sujeito importante. Essas cenas são criativas e impactantes, e me surpreenderam ao longo de todo o jogo, tanto pelos diálogos quanto pelo aspecto visual.

Assassin's Creed Origins, Delfos
Assassinado com uma pena.

MAIS QUE UMA HISTÓRIA DE VINGANÇA

A trama de Origins gira em torno do esforço de Bayek para caçar os homens responsáveis pela morte de seu filho. A história não é lá muito original, mas o bom é que ela acaba indo muito além disso, envolvendo conspirações e bastante politicagem.

Curiosamente, apesar do nome, o jogo jamais chega a citar o Credo dos Assassinos. Existe, sim, uma semente plantada ali, que deverá ser melhor desenvolvida na sequência. De qualquer maneira, em termos narrativos, há pouquíssimas conexões com o restante da série.

Os melhores trechos da trama advêm da relação entre Bayek e sua esposa, Aya – uma personagem bem mais interessante, violenta e complexa do que o Medjai. Aya é uma guerreira com sangue nos olhos, e também uma exímia navegadora (sendo que os trechos de navegação são sempre com ela).

Assassin's Creed Origins, Delfos
S2

Quando ambos interagem – seja em custcenes, seja durante o gameplay –, o jogo deixa de ser um RPG de ação e luta de espadas para se tornar a história de duas pessoas tentando encontrar a si mesmas. A relação entre eles é um troço bonito de acompanhar, mas igualmente triste. À medida que vão caçando os culpados pela morte de seu filho, ambos começam a perceber que suas vidas jamais voltarão a ser as mesmas.

Ainda que Bayek e Aya nutram sentimentos muito fortes um pelo outro, no fundo eles estão apenas tentando juntar os cacos do que sobrou de sua vida e lutando para descobrir seu lugar no mundo.

Além de Aya e Bayek, você controla Layla Hassan nos dias atuais, uma funcionária da Abstergo que desenvolveu seu próprio Animus. Layla está investigando a história de Aya e Bayek por conta própria, mas suas motivações não ficam muito claras. Infelizmente, a história de Layla fica em aberto. Parece que a Ubisoft quis apenas introduzir a personagem aqui para, futuramente, desenvolvê-la com mais cuidado.

Assassin's Creed Origins, Delfos
Layla em seu habitat natural.

HISTÓRIA SEM FIM

A trama de Assassin’s Creed Origins é envolvente e passeia por momentos históricos significativos, como a ascensão de Cleópatra e o inevitável domínio do Egito pelas mãos de Júlio César.

O problema é que a narrativa demora bastante para engrenar e, especialmente, chegar aonde todos queremos: a origem do Credo dos Assassinos – ou o mais próximo possível disso. Lá para o final, no último quarto do jogo, a história finalmente dá uma alavancada. Mas, quando você está vibrando no sofá, querendo saber o que acontecerá em seguida, o jogo termina, deixando uma porção de pontas soltas.

Assassin's Creed Origins
Melhor cena.

Tenho certeza (ou ao menos esperança) de que o próximo jogo continuará do ponto em que este parou. Estou curioso para conhecer o futuro desses personagens, que podem e merecem ser ainda mais desenvolvidos. Um pouco disso será revelado a partir de hoje, com o DLC The Hidden Ones.

Quanto à minha relação com a franquia Assassin’s Creed, não tenho dúvidas de que está mais sólida do que nunca esteve. Eu tinha zero expectativas para este jogo, mas agora só quero saber quando sairá a continuação. Pois é: às vezes é bom estar enganado.