Se o primeiro livro da série Dexter é bastante similiar ao seriado televisivo, tornando-o assim pouco atraente para quem acompanhou as loucas aventuras do assassino vingador na telinha, é neste segundo volume que as coisas mudam de figura.
Querido e Devotado Dexter parte por um caminho totalmente novo, inexplorado na TV. Embora a telinha tenha claramente pegado um ou outro elemento emprestado, os modificaram bastante para transformá-los em algo completamente diferente do que o livro apresenta. Assim, este romance finalmente cumpre a função que eu esperava desde o anterior: servir para matar as saudades de um dos meus personagens favoritos com uma história totalmente nova.
Infelizmente, assim como a série de TV, e como parece ficar cada vez mais claro a cada novo livro do personagem que eu leio, seus romances também são bastante irregulares, transformando o que poderia ser muito tremendão num produto apenas razoável. Mas antes que entre neste problema, vem a sinopse.
O Sargento Doakes, em sua eterna desconfiança de que há algo de muito errado com Dexter, passa a vigiá-lo de perto. Dexter, por sua vez, tem então de dar um tempo em sua atividade favorita até tirar o policial de seu encalço. Aproveita para reforçar seu disfarce de pessoa normal, estreitando ainda mais seu relacionamento com Rita e os filhos dela.
Mas eis que surge um novo psicopata na cidade. Conhecido como Doutor Danco, não é um assassino. Na verdade, é até pior. O cara extrai cirurgicamente todos os membros e pedaços não vitais de suas vítimas (língua, pálpebras, lábios, etc) deixando-as vivas, só torço e cabeça. Contudo, ele está fazendo isso por um motivo bem simples: vingança. E ainda possui uma ligação com o passado do próprio Doakes nas forças armadas.
A princípio, essa mudança de tom foi bem inesperada. Pela primeira vez Dexter não persegue um assassino propriamente dito (embora suas vítimas desejassem estar mortas) e nem uma pessoa que mata inocentes a esmo, mas sim um cara com uma lista bem definida de pessoas a quem jurou vingança e não são exatamente livres de alguma culpa. Ponto positivo para a variação na trama.
Contudo, o grande problema permanece. Jeff Lindsey simplesmente não é um bom escritor. A meu ver ele é tipo um George Lucas, um excelente criador de conceitos e argumentos, mas sem a capacidade de realizá-los à altura.
Novamente ele faz um livro curto demais para a história que apresenta. Tudo é muito corrido e mal desenvolvido, personagens apresentam reações totalmente absurdas e que ficam inexplicadas por conta da economia de páginas e tudo se resolve atabalhoadamente nos últimos parágrafos deixando o clímax bem morno.
Fiquei imaginando o que um bom escritor de suspense faria com esse livro. Um Stephen King, por exemplo, poderia fazer miséria com uma narrativa dessas. E certamente sua versão do romance teria no mínimo o triplo de páginas.
Ressalto que o grande problema não é a quantidade de páginas. Existem ótimos livros ainda mais curtos que esse. O problema é que ele trata sua história como baixa literatura, como aqueles livros que você compra só para ler durante uma viagem de ônibus ou avião. E fazendo isso, está desperdiçando excelentes argumentos que visivelmente possuem potencial para almejar uma qualidade maior que a alcançada.
Querido e Devotado Dexter apresenta uma história totalmente nova para quem já assistiu à série de TV, e por isso garante a diversão. Mas a sensação de grande potencial perdido que permeia toda a rápida leitura incomoda.
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