Nada é menos cinematográfico, menos imagético, do que um sujeito falando ao telefone por 85 minutos. Mas aí está a força do cinema. Ele comporta de tudo, até coisas que à primeira vista parecem não combinar com ele, desde que seja bem-feito.

Para a sorte da produção dinamarquesa Culpa, ela é sim muito bem realizada. E sim, é essencialmente um cara no telefone por toda a sua duração. E você não vai desgrudar da poltrona até que ele termine sua última ligação.

Isso porque o truta em questão, Asger, trabalha como atendente da central de emergência da Dinamarca. Essencialmente, quando alguém liga solicitando ajuda da polícia ou uma ambulância, ele é o cara responsável por colher os dados e enviar o que for necessário.

Delfos, Culpa, CartazEis que ele atende a ligação de uma mulher desesperada, falando de forma truncada. Até que ele se dá conta de que ela está sendo sequestrada e o meliante está ao lado dela. A partir daí ele faz de tudo para tentar descobrir exatamente o que está acontecendo e informações vitais para poder ajudá-la, tipo o modelo do carro onde ela está sendo levada e o número da placa, em que direção eles estão indo, se ela conhece quem a levou e por aí vai.

A partir desse primeiro telefonema, Asger não só vai passar os dados para a central de polícia, como vai se envolver no caso muito mais do que sua função exige, ou mesmo permite. A partir daí vamos lentamente descobrindo informações sobre seu histórico, junto do desenrolar do caso da mulher.

ALÔ?

A coisa funciona muito bem. O filme inteiro é essencialmente a câmera em Asger em seu computador e telefone na salinha da central. E tudo se desenrola através de suas conversas telefônicas. Essencialmente, o espectador é posto na exata posição dele. Você sabe apenas o que ele sabe e o desenrolar do caso todo você só escuta pelo telefone, o que merece uma menção ao bom trabalho de som do filme.

E isso torna tudo muito tenso, pois nunca vemos o que está acontecendo. Somos limitados a ouvir apenas fragmentos, à medida que novas informações vão surgindo. É de fazer você não querer desgrudar os olhos da tela até a história finalmente acabar.

Também é um daqueles filmes que depende essencialmente do protagonista, já que a câmera fica o tempo todo em cima dele. E nesse sentido o ator Jakob Cedergren faz um excelente trabalho ao segurar o filme todo.

Delfos, Culpa

Há ainda mais alguns elementos que deixam tudo ainda mais interessante, mas não convém contar aqui. Quanto menos você souber, melhor. Fato é que, como suspense, ele funciona que é uma beleza.

Culpa é o tipo de produção pequena, que parece simples de fazer, mas que depende demais da qualidade de diversos elementos (roteiro, montagem, atuação) para dar liga e atingir o objetivo de deixá-lo tenso o tempo todo. Neste caso, todos os tais elementos deram essa liga e o resultado ficou ótimo. Se você gosta do gênero, não deixe de assistir.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
critica-culpaTítulo: Den Skyldige<br> País: Dinamarca<br> Ano: 2018<br> Gênero: Suspense<br> Duração: 85 minutos<br> Distribuidora: California Filmes<br> Data de estreia: 27/12/2018<br> Direção: Gustav Möller<br> Roteiro: Gustav Möller e Emil Nygaard Albertsen<br> Elenco: Jakob Cedergren, Jessica Dinnage e Omar Shargawi.