5 tokusatsus inesquecíveis

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Quem foi criança no final dos anos 80 e começo dos 90, com certeza vivenciou a verdadeira febre que foi a explosão dos tokusatsus (os seriados japoneses live action cheios de efeitos – e muitas vezes “defeitos” – especiais) no Brasil. A invasão destes heróis coloridos de olhos puxados e monstros de roupas de borracha ajudou a popularizar animês, mangás, filmes e outros elementos da cultura pop nipônica que aterrissaram por aqui posteriormente, transformou a saudosa e extinta Rede Manchete num dos canais mais lembrados e apreciados por quem viveu a época e, claro, foi seguida por uma verdadeira enxurrada de outros seriados de efeitos especiais duvidosos, mas muita criatividade, que fez a alegria da molecada nas tardes daquela época pré-internet.

Por isso, como andei numa fase saudosista recentemente, resolvi rever alguns desses seriados para me lembrar da época em que tomar um goró para mim era leite achocolatado e para saber se hoje, depois de velho e decrépito, curtiria esses programas tanto quanto antigamente. Posso dizer que tive muitas surpresas. Algumas positivas, outras não. Daí surgiu então a ideia de fazer este singelo texto, falando um pouco sobre aquelas que considero as cinco melhores séries de tokusatsu daquela época áurea. Assisti a todas elas quando era criança e as reassisti recentemente. O critério é mesmo o puro e simples gosto pessoal. Então, sem mais delongas, passemos a uma menção honrosa e depois às cinco tremendonas:

MENÇÃO HONROSA: JIRAIYA – O INCRÍVEL NINJA

O que é: Sétimo exemplar do gênero conhecido como Metal Hero, (heróis geralmente solitários usando armaduras), foi exibida na terra do sol nascente entre 1988 e 1989, tendo um total de 50 episódios. No Brasil, chegou no começo dos anos 90 pela Rede Manchete e rapidamente virou um dos tokusatsus mais populares por aqui, lembrado com carinho até hoje.

Qual é a da série: O jovem Toha é treinado por um mestre ninja desde a infância para enfrentar um clã de ninjas do mal. Quando chega a hora, recebe a armadura de Jiraiya e a espada olímpica, com a qual ele não perdoa ninguém e desfere seu golpe mortal.

Por que é tremendona: Ninjas, cara. Todo mundo adora ninjas e Jiraiya soube usar bem a adoração geral por esses misteriosos guerreiros, ainda que de uma forma muito mais chamativa e espalhafatosa, visto que, para um sujeito que teoricamente deveria ser furtivo, sua armadura vermelho berrante não é nada discreta. Além disso, aquele episódio onde ele leva uma sova do guerreiro que se faz de bêbado foi marcante.

Sobrevive ao teste do tempo?: De todas da lista, esta foi a única que não consegui rever depois de velho, o que contribuiu para entrar apenas como menção honrosa e não na lista oficial. Mas de memória lembro também que em determinado momento Jiraiya ganha uma pistola laser e depois até um tradicional robô gigante, coisas que não tinham nada a ver com a proposta ninja da série e já me incomodavam naquela época.

Uma curiosidade: A tradução literal do nome original da espada do herói é Espada do Vácuo Luminoso Óptico-Magnético. Não se sabe por que causa, motivo, razão ou circunstância ela foi traduzida aqui como Espada Olímpica, mas eu diria que foi uma decisão bem acertada. Até hoje esse nome é lembrado e, como mais uma curiosidade inútil, eu tive minha própria Espada Olímpica (de brinquedo, é claro). E eu não perdoava ninguém.

5 – BLACK KAMEN RIDER

O que é: A oitava série da família Kamen Rider (é tipo Ultraman, todo ano aparece uma versão nova), exibida no Japão entre 1987 e 1988 e primeira da franquia a chegar ao Brasil, indo ao ar pela saudosa Rede Manchete a partir de abril de 1991, aonde também era chamada de Blackman.

Qual é a da série: Na noite de seu aniversário de 19 anos, os irmãos de criação Issamu Minami e Nobuhiko Aikizuki são sequestrados pelos Gorgom, um império de mutantes malignos que almeja a dominação mundial, e submetidos a uma cirurgia que os transforma em potenciais sucessores do imperador Gorgom. Issamu consegue escapar antes que suas memórias sejam apagadas e usa seus novos poderes como Black Kamen Rider para combater os Gorgom e tentar salvar Nobuhiko, que não tem a mesma sorte e é transformado no terrível Shadow Moon.

Por que é tremendona: O primeiro episódio, que mostra a transformação de Issamu em Black Kamen Rider, tinha o maior climão de terror. Ele passa pelo processo contra sua vontade, os três sacerdotes Gorgom tinham um visual sinistro, bem como os primeiros monstros, e grande parte desse episódio se passava à noite, algo um tanto incomum para seriados do gênero. E, claro, havia Shadow Moon, com sua armadura prateada, um dos melhores visuais dos tokusatsus e a trágica trama de irmão tendo de enfrentar irmão, que deixava tudo ainda mais dramático. Uma curiosidade é que o último de seus 51 episódios nunca foi exibido aqui, já que a Manchete não o comprou, visto que, como o preço das fitas com os episódios eram bem caros, eles só adquiriam as que vinham com dois episódios por fita para fazer valer o dinheiro. Assim, vários seriados com número ímpar de episódios acabaram prejudicados pela mão fechada das emissoras. Por isso, muita gente nunca viu o desfecho da luta final entre Black Kamen Rider e Shadow Moon. Hoje em dia, no entanto, é possível encontrá-lo na Argentina com legendas em português.

Sobrevive ao teste do tempo?: Não muito. O primeiro episódio ainda mantém uma estética de terror, mas o resto dos episódios provou-se não tão assustadora quanto eu me lembrava da infância. O visual dos monstros, de insetos realmente sinistros nos primeiros episódios, rapidamente passa para designs mais ridículos e sem graça. O grande número de episódios também enrola bastante no andamento da história e cansa.

Uma curiosidade: A série ganhou uma continuação direta, Kamen Rider Black RX, com o protagonista Issamu Minami passando por uma mutação e se transformando numa nova versão do herói. Este seriado também foi exibido no Brasil pela Manchete.

4 – CYBERCOP – OS POLICIAIS DO FUTURO

O que é: O gênero tokusatsu era dominado pelo estúdio Toei. A Toho, mesma casa do Godzilla nos cinemas, resolveu tentar abocanhar uma fatia desse filão televisivo e o resultado é esta série em 34 episódios que foi ao ar no Japão entre 1988 e 89 Aqui, foi exibido pela Manchete no começo dos anos 90.

Qual é a da série: No ano de 1999 (que, na época, era o futuro), uma equipe de policiais de elite usando armaduras tecnológicas e armas de ponta (tipo uma super Swat) chamada Cybercop tem de proteger Tóquio da organização terrorista Destrap e seus robôs e máquinas do mal.

Por que é tremendona: A história, envolvendo ficção científica e viagens no tempo, era bem legal e muito mais elaborada do que a média do gênero, as armaduras eram bacanas e o nervosinho Marte era um dos personagens mais legais, com suas picuinhas com Júpiter. O misterioso Lúcifer, com sua armadura bacana, visual de pistoleiro do velho oeste e história mal resolvida com Júpiter era outro ponto alto.

Sobrevive ao teste do tempo?: Pela história sim, não faz feio vista depois de adulto, e o número reduzido de episódios a deixa bem dinâmica e sem encheção de linguiça. A relação entre os personagens é outro ponto positivo. Por outro lado, os defeitos especiais, que já eram péssimos à época (isso porque a série, diferente dos outros tokusatsus, que eram rodados em película, foi filmada em vídeo, no formato beta, com um grande uso de tela verde, mas o vídeo simplesmente é péssimo para esconder as trucagens, daí o péssimo visual dos efeitos) hoje são ainda mais risíveis e fazem o chroma key de Chaves e Chapolin parecerem dignos de uma superprodução hollywoodiana. Se você conseguir relevar a péssima qualidade visual da série, no entanto, ainda cai bem.

Uma curiosidade: Essa aqui é trágica. O ator Shogo Shiotani, intérprete do tremendão Akira/Marte, era muito apegado ao seu personagem, e durante os anos 90 e começo dos 2000 tentou incansavelmente convencer algum estúdio a produzir uma nova versão ou continuação da série, sem sucesso. O ator sofria de transtorno bipolar e, após este fracasso, entrou em depressão e se matou em 2002, jogando-se de cima de um prédio.

3 – METALDER – O HOMEM MÁQUINA

O que é: A sexta série da categoria Metal Hero, foi exibida originalmente entre 1987 e 1988. Por aqui, foi ao ar pela TV Bandeirantes em 1990. Teve 39 episódios no total.

Qual é a da série: Hideki Kondo é um ciborgue criado pelo cientista Dr. Koga como última tentativa do Japão dar uma virada nos rumos da 2ª Guerra Mundial, mas não chega a ser ativado. Ele só vem à vida nos dias atuais (ou na década de 80, se preferir) para combater o Império Neroz, uma organização criminosa mundial com o intuito de controlar secretamente os rumos do planeta.

Por que é tremendona: Foi o maior fracasso do gênero Metal Hero no Japão, tanto que foi drasticamente encurtada para apenas 39 capítulos, a menor de todas (e para ressaltar, Cybercop, com seus 34 episódios, não faz parte do gênero Metal Hero, sendo inclusive de outra produtora). Hoje em dia ganhou status cult. Muito disso se explica: talvez seja o mais adulto de todos os tokusatsus, com uma trama com pinceladas filosóficas e anticapitalistas, com um tom melancólico, contemplativo e deprê e subvertendo absolutamente todos os clichês do gênero. Todos os monstros são apresentados já no primeiro episódio, o Império Neroz já está estabelecido, Metalder sequer é humano e perde a primeira luta, combate vários monstros de uma vez só, consegue fazer adversários passarem para seu lado e o final não é feliz. É muita mudança de uma vez só para seu público-alvo, a criançada, que não comprou a ideia à época, mas hoje há muita gente que aponta esta como a melhor série do gênero já produzida.

Sobrevive ao teste do tempo?: E como, talvez seja a única que realmente merece ser revista depois de adulto, não só pelo saudosismo, mas por todos os elementos elencados acima, muitos dos quais podem ter passado batido na infância. Eu já gostava quando era criança, quando reassisti recentemente, fiquei realmente surpreso com todos esses fatores que não tinha percebido em minha tenra idade e deixam a trama realmente como a mais bem elaborada do estilo. E até achei mais violenta do que me lembrava. E como bônus, há uma boa variação de cenários de batalha, ao invés de ficar sempre só na tradicional pedreira da Toei.

Uma curiosidade: No auge da popularidade dos Power Rangers, a Saban resolveu investir em mais um produto similar. Eles compraram os direitos de Metalder, bem como de Spielvan (que no Brasil chegou a ser chamada de Jaspion 2, mas não há nenhuma relação entre as séries) e Shaider e juntaram tudo na desgraceira chamada VR Troopers. Chegou a passar aqui no Brasil, mas é melhor nem lembrar.

2 – ESQUADRÃO RELÂMPAGO CHANGEMAN

O que é: A nona série da categoria Super Sentai (super equipe), exibida originalmente no Japão entre 1985 e 1986. Foi a primeira série de tokusatsu a dar as caras por aqui, junto com Jaspion, sendo lançada primeiro em VHS e exibida pela Rede Manchete a partir de 1988.

Qual é a da série: Cinco soldados de uma divisão especial do exército recebem os poderes da Força Terrestre, virando os Changeman. Sua missão é combater a invasão dos alienígenas do império de Gôzma, liderados pelo Senhor Bazoo. Para isso contam com um monte de armas, incluindo a tradicional change-bazuca e, claro, os veículos que se unem formando um robô gigante.

Por que é tremendona: Por ter sido o primeiro Super Sentai lançado aqui, apresentou as regras do gênero para todo mundo. Os membros da equipe, cada um de uma cor (e, neste caso, cada um representando também um animal mitológico), e com golpes e personalidades diferentes. A bazucada para matar o monstro da semana, a volta do mesmo em formato gigante e a luta final com o robô. Era um clichê atrás do outro, não fazia sentido (por que demoraram tanto para tentar dar uma bazucada no Gyodai?), mas era divertido.

Sobrevive ao teste do tempo?: Só em saudosismo. De todas presentes nessa matéria, Changeman é a que tem a estrutura mais convencional e utiliza todos os já citados clichês do gênero à risca, sem qualquer inovação. Uma criança não se importa com as repetições engessadas das estruturas dos episódios, mas depois de adulto, é um tanto cansativo ver exagerados 55 capítulos da mesma coisa. Ainda assim, tem personagens marcantes, como Buba, o pirata espacial, e aquela mina com voz de homem que me dava medo quando eu era moleque (e, admito, continuou dando medo depois de grande também). O final, contudo, é realmente legal.

Uma curiosidade: Com seus 55 episódios, é a segunda série mais longa do gênero, perdendo apenas para Goranger, o primeiro Super Sentai, que foi ao ar no Japão de 1975 a 1977 e teve nada menos que 84 capítulos! Originalmente, Changeman teria redondos 50 episódios, mas a produção de Flashman, sua sucessora, atrasou e a produtora resolveu produzir mais cinco capítulos de Changeman para cobrir a demora.

1 – O FANTÁSTICO JASPION

O que é: A quarta série do gênero Metal Hero, apresentando uma história totalmente nova após suas antecessoras, as quais formavam uma trilogia de detetives espaciais. Exibida originalmente em terras nipônicas entre 1985 e 1986, chegou aqui junto com Changeman, primeiro em vídeo e depois pela Rede Manchete em 1988, tornando-se um enorme sucesso e verdadeiro fenômeno da cultura pop.

Qual é a da série: Em 46 episódios, conta a história de Jaspion, criado pelo profeta Edin para combater o demônio espacial Satan Goss, que tem o poder de enfurecer os monstros. Não demora muito para que a batalha chegue à Terra. Jaspion tem então de juntar os pedaços de uma profecia para assim encontrar o Pássaro Dourado, único ser capaz de derrotar Satan Goss.

Por que é tremendona: Não fez muito sucesso no Japão, mas aqui, por ter chegado primeiro (junto com Changeman), foi uma verdadeira febre. Mistura referências a Star Wars (os primeiros episódios, passados no espaço. O visual de Satan Goss, inspirado em Darth Vader), com um herói de visual espalhafatoso (roupas civis bizarras e um cabelo estilo black power). A trilha sonora é ótima, apresenta um dos vilões mais estilosos do gênero (MacGaren e sua armadura preta) e até hoje é lembrada com carinho em homenagens ou sacanagens pela internet.

Sobrevive ao teste do tempo?: Sim, continua tão divertida quanto na infância, e ainda percebi várias coisas que não tinha notado antes. Tipo as muitas chupações de Star Wars no começo (a cena da cantina foi copiada inteira) e, sobretudo, como ela é bem dirigida. O primeiro combate mortal entre Jaspion e MacGaren é filmado praticamente como um western. Vale a pena rever a série para prestar atenção nesses detalhes mais técnicos.

Essas foram as minhas cinco favoritas. Como sempre ressaltamos, o DELFOS é um espaço democrático e queremos saber quais são as suas. Assim, aproveite o espaço de comentários para compartilhar conosco a sua lista de tokusatsus preferidos e por quê. Agora, dá licença que eu vou pegar meu robô gigante para exterminar aquele monstro que está destruindo Tóquio. Até a próxima.

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