O trabalho mais famoso de Neil Gaiman na DC até hoje sem dúvida é Sandman, considerada uma das grandes HQs de todos os tempos. Recebendo a medalha de prata, eu diria que vem Os Livros da Magia. Em primeiro lugar, por causa da grande qualidade desta minissérie em quatro edições. E em segundo por causa de toda a controvérsia causada quando o livro Harry Potter e a Pedra Filosofal virou mania mundial. Mas voltemos a este assunto um pouco mais à frente. Primeiro, vamos à sinopse.
Tim Hunter seria um típico garoto inglês de 12 anos e óculos, não fosse ele possuir o potencial para ser um grande mago algum dia. Sabendo disso, quatro figuras do universo místico da DC (Vingador Fantasma, John Constantine, Dr. Oculto e Mister Io) decidem lhe apresentar aspectos diferentes do mundo da magia, para que Tim, de posse deste conhecimento, decida por si mesmo se vai querer essa magia em sua vida, ou se prefere continuar vivendo na ignorância como um garoto normal.
Assim, cada edição mostra um de seus “guias” revelando-lhe um aspecto importante para sua escolha. Tim é apresentado à história do mundo (no caso, o universo DC), às principais figuras místicas do presente, visita mundos fantásticos que não sabia que existiam, e, por fim, vislumbra um possível futuro sombrio. Ah, sim, por conta de seu potencial praticamente ilimitado, existe uma pequena facção que o vê como uma ameaça e deseja matá-lo antes que ele faça sua escolha.
Como você pode ver só pela sinopse, há muitas similaridades entre a HQ de Gaiman publicada originalmente na virada de 1990 para 91, com o romance de J.K. Rowling publicado na Inglaterra em 1997.
Fora a semelhança física entre os dois personagens e o fato de ambos serem os chosen ones do mundo mágico, ainda há outras coisas. Tim Hunter, por exemplo, logo na primeira edição acaba ganhando uma coruja de estimação. Eu não sou um grande conhecedor de Harry Potter, mas ele também não tinha uma coruja? Hum…
Incríveis coincidências à parte, o próprio Gaiman já se manifestou sobre o assunto, dizendo que não acredita em plágio e que provavelmente ele e Rowling simplesmente beberam da mesma fonte de referências para criar suas respectivas histórias. Então tá.
Seja como for, a série de Gaiman tem uma pegada adulta, não por acaso tendo sido publicada pelo selo Vertigo, centrando-se principalmente na discussão místico-filosófica que ele sabe fazer tão bem, sobre a natureza de uma escolha e as várias possibilidades que cada uma delas acarreta.
A primeira e a quarta edições, que mostram, respectivamente, a criação do mundo e seu futuro (nesta com Tim e seu guia avançando literalmente até o fim dos tempos) são as melhores em termos de roteiro, com momentos (com o perdão do trocadilho, mas não dá para resistir) mágicos. A segunda edição também se destaca, por causa da personalidade marota de John Constantine, que apesar do jeito de malandro amoral, é o guia que mais cria laços com Tim Hunter.
Embora cada edição seja ilustrada por um artista diferente, não há grandes diferenças de estilo, e todos eles fazem um bom trabalho, deixando a série uniforme artisticamente e longe da estética mais desleixada dos quadrinhos adultos da própria Vertigo.
Para fãs do escritor inglês, Os Livros da Magia é um dos pontos altos de sua carreira nos quadrinhos e merece a recomendação. E para os órfãos de Harry Potter também pode se revelar uma excelente pedida.
CURIOSIDADES:
– Os Livros da Magia foi publicado cinco vezes no Brasil. No começo da década de 1990, a editora Abril o lançou primeiro como minissérie e depois como encadernado. Em 2002, a Opera Graphica relançou a minissérie, posteriormente republicando-a também no formato encadernado. E em 2013 a Panini a relançou novamente, agora em formato encadernado de luxo, com capa dura e extras, ao preço de módicos 25,90 mangos.
– A minissérie fez tanto sucesso que gerou uma série regular de mesmo nome que dava sequência às aventuras de Tim Hunter. Ela durou 75 edições publicadas entre 1994 e 2000, mas Neil Gaiman não teve nada a ver com ela.