Praticamente todas as pessoas que eu conheço ficaram realmente surpresas quando este CD foi anunciado, afinal, quem esperaria um trabalho solo justo do fundador do Iron Maiden?
Todos pensavam que Steve dirigia com punhos de aço as rédeas da Donzela, e que ele podia fazer o que quisesse no comando da banda, mas parece que a história não era bem essa. Mesmo o velho Estevão sentiu uma necessidade de se arriscar em novos desafios e colaborar com outros músicos, sem o peso que o nome Iron Maiden traz. E assim nasceu British Lion, primeiro trabalho solo do baixista.
Logo nos primeiros segundos de This Is My God, que abre o trabalho, ele não deixa nenhuma dúvida de que este não é um CD do Iron Maiden. Bom sinal a princípio, afinal, não faria sentido fazer um álbum solo para mostrar mais do mesmo. Mas a história fica diferente quando você sente um pouco de falta dos seus companheiros tradicionais.
O CD começa arriscando em uma sonoridade moderna, com peso, um baixo marcante (como não poderia deixar de ser) e efeitos de guitarra. Aliás, para os mais aficionados por Maiden, como eu, vale ressaltar o timbre diferente que o baixista colocou neste álbum que, em minha opinião, é bem mais bonito do que o que ele usa na Donzela. O primeiro problema, porém, aparece quando Richard Taylor começa a cantar. Ah, que saudades do Bruce Bruce!
Taylor tem uma voz fraca, que quase se esconde atrás dos instrumentos. Até o baixo se destaca mais do que a voz do cantor. Aliás, o baixo realmente está bem na frente (o que não deixa dúvidas de que é um álbum feito e produzido por um baixista) e faz melodias bem interessantes. O problema é que os companheiros de banda não parecem acompanhar estas inspirações, e soam em muitos momentos previsíveis. Sabe como na Liga da Justiça todos os heróis parecem “emburrecidos” para que o Batman se torne o cérebro da equipe e justifique seu lugar? Aqui fiquei com a mesma impressão: o baixo de Harris nem é tão genial, mas se destaca tamanha a mesmice do que acontece nos outros instrumentos.
As coisas continuam parecidas em Lost Words e Karma Killer. Em Us Against The World, o começo com guitarras dobradas à Maiden promete algo do que estamos mais acostumados, mas a promessa não se cumpre e o álbum continua com uma pegada pop. Não que isto seja um problema, mas as faixas, apesar de não serem ruins, realmente não convencem.
Neste momento eu já estava um pouco desanimado com o CD, pensando que iria ter que dar uma nota bem baixa para British Lion. Eis que The Chosen Ones surge. Apesar do “come on” desanimador de Taylor, que me faz ter vontade de pegar um pijama e ir dormir, a música dá uma guinada no álbum e apresenta a banda se aproximando muito mais do som do rock setentista. Parece outra banda, e, a esta altura do campeonato, você já está mais acostumado com o vocal fraco e até se conforma. Segundo o próprio Harris, em entrevista à RockHard, esta faixa “lembra muitos elementos do UFO e [dizem] que se assemelha também ao The Who“. Uma música boa e divertida!
A World Without Heaven também continua com o resgate ao passado e a ascensão do disco. Segundo Steve, na mesma entrevista, é a música que mais lembra os elementos do Maiden. E eu concordo.
Judas já volta a soar mais moderna, mas desta vez eles acertam mais a mão. Uma faixa interessante e que me lembrou um pouco Muse. Se você é um trüe headbanger isto pode soar como uma crítica, mas esta não é minha intenção. Aliás, se você é um metalhead, este CD definitivamente não é pra você, fique sabendo desde já. Esta música tem um corte muito inesperado, que me fez pensar que meu mp3 tinha dado algum problema. Você vai saber do que eu estou falando quando ouvir. Achei uma parte bacana que valia ser ressaltada.
O disco continua com Eyes Of The Young e These Are The Hands, músicas bem comerciais, mas que podem divertir. Para encerrar, Steve e sua turma não resistem e se entregam ao “poder da balada”. The Lesson, porém, não é uma balada óbvia, é uma bem dramática e introspectiva. Uma bela faixa, e, provavelmente, é onde a voz de Taylor soa melhor.
E assim se encerra British Lion. Steve Harris se arriscou em águas realmente diferentes das que tem seguido pelo Maiden, tentando soar mais pop e moderno, mas onde ele realmente se ressalta é quando volta às raízes e arrisca no rock setentista. De qualquer forma, ver o baixista mudando seu jeito de tocar, seu timbre e se renovando é sempre interessante. Uma pena que a banda não o acompanha e em muitos dos momentos você fica com saudades de Adrian, Nicko e, principalmente, de Bruce. Aliás, se fosse pra chamar alguém pra cantar músicas com uma pegada mais pop, poderia ter chamado a filhota, Lauren, porque pelo menos ela é gostosa tem uma voz mais potente.De qualquer maneira, o disco pode divertir, mas com moderação.
Pode voltar para a Donzela, Steve, não sentirei falta de suas empreitadas solo. Continue com seu timbre “estalado”, suas “cavalgadas” e “tiros pelo baixo”. Gostamos mais assim. Deixa este negócio de carreira solo para o Bruce.