Vou começar esta resenha com uma frase impactante que resume bem tudo o que você vai ler abaixo:
O LOBÃO É UM BABACA QUE DEU UMA SORTE INCRÍVEL NA VIDA
Isto posto, quero deixar claro que não o conheço pessoalmente, mas respeitava suas opiniões polêmicas quando era o apresentador do MTV Debate, e do Saca-Rolha há algum tempo. Curiosamente, conheço muito pouco de sua vasta carreira musical de quase 40 anos, e isso não é bom sinal, pois me considero relativamente bem inteirado da cena nacional roqueira dos idos de 70 e 80.
E já que mencionei os talentos musicais do rapaz, faça um teste rápido: quantas músicas do Lobão você conhece? Quais dessas fizeram mesmo parte da sua vida?
Esse é exatamente o problema de 50 Anos a Mil, a autobiografia de uma das personalidades brasileiras mais polêmicas: Lobão nunca foi um cara reconhecido pela música, mas sim pelos apuros que passou ao longo dos últimos – pelo menos – 30 anos. E esses “apuros” nada têm de atitudes revolucionárias, como todo press release do livro dá a entender, mas sim de um egocentrismo babaca do artista em questão e, sim, eu cheguei a essa conclusão após terminar de ler a obra supracitada.
Da primeira à última página, o artista se julga a última cereja do bolo da música nacional e isso é muito, muito, mas muito irritante! Para cada trabalho, Lobão fala de suas músicas como se fossem obras primas da cultura brasileira, mas a todo o momento eu me perguntava: “do que esse cara está falando? Essa música fez tanto sucesso e eu nunca ouvi?” e quando finalmente ia atrás da tal composição, encontrava um daqueles Rocks bobinhos genéricos nacionais e aí eu tinha certeza do porquê de nunca ter ouvido.
É bastante diferente de Eu Sou Ozzy, por exemplo, onde o cara também é polêmico, não se acha grande músico, mas gravou uma penca de coisas legais e é respeitado pelo talento.
O mesmo vale para nomes como Mötley Crüe, Lemmy, Tim Maia, Michael Jackson, James Brown, Jimi Hendrix, Jim Morrison, Chuck Berry e tantos outros artistas conhecidos, polêmicos e respeitados, mesmo que você não curta o estilo musical de cada um! Ainda existe o diferencial de que Ozzy é um cara engraçado, por exemplo, e sua biografia está recheada de histórias divertidas.
Já Lobão parece apenas uma figura trágica e triste que se sente totalmente deslocado no mundo, mas também não faz nada para (se) ajudar. Suas decisões são sempre egoístas e inconsequentes. Ao longo dos anos, ele se mostra sempre um péssimo pai, amigo, filho, namorado, neto… etc! Ou seja, temos aqui a perfeita simbologia de um babaca!
AS OPINIÕES E ATITUDES POLÊMICAS DO LOBÃO
Alheio a toda a arrogância e prepotência que permeiam o livro, ainda temos as tais opiniões polêmicas do cara sobre quase tudo. Veja, não tenho o menor problema com pessoas que defendem a legalização das drogas, mas daí a defender uma vida inteira de abusos como forma de combater o sistema é outra história. Não, não tem como ficar a favor. Fora que fica nítida a impressão de que Lobão adora utilizar palavras difíceis apenas para esconder seu próprio vazio intelectual.
Para complementar e deixar claro o limite da babaquice, Lobão entra numa de glorificar o crime e desmoralizar todo nosso sistema penal. Os policiais são sempre malvados e os traficantes, a “gente boa” do morro. Em um determinado momento, parecia que eu estava assistindo a um daqueles filmes que glorificam favelas, manja? Na boa, se o seu sonho é morar numa favela, alguma coisa está muito errada! Pior ainda se você fala isso, mas mora numa bela mansão paulistana, bem longe dos morros cariocas, como é o caso do músico.
Apenas para exemplificar outra das inúmeras babaquices que você vai encontrar aqui, no Rock In Rio II (em 1991), Lobão – por iniciativa própria, que isso fique bem claro – optou por se apresentar na noite do Heavy Metal dividindo o palco com Megadeth, Judas Priest e Sepultura. No relato da biografia, não restam dúvidas que o cara escolheu se apresentar naquela noite apenas como uma provocação infantil ao público de headbangers que não curtia seu trabalho.
Pior: a apresentação de Lobão teria diversas participações “especiais” colocadas ali com o único propósito de irritar o público, entre elas Ivo Meirelles e a bateria da Mangueira.
Na boa, só lendo os dois parágrafos acima, você já deduz que vai dar popô: lógico que Lobão e sua banda não conseguiram se apresentar com a chuva de coisas que voava no palco e, já na segunda música, todos fugiram com o rabinho entre as pernas para o camarim. Aí vem o “gênio” Ivo Meirelles resolvendo encarar o público e volta ao palco empunhando uma bandeira da escola de samba da Mangueira, imaginando que assim os bangers iriam se sensibilizar. Claro que a reação foi exatamente o inverso, e aí sim, voou tudo o que era possível sobre Ivo e a bandeira: radinhos, pilhas, tênis, copos com urina, entre outros apetrechos.
Se você não conhece o Ivo Meirelles, basta saber que ele foi o responsável por isso aí embaixo:
Esses imbecis não percebem o que podem causar com atitudes arrogantes assim? Será que só vão parar quando acontecer alguma tragédia (e quem já foi em qualquer show de Metal sabe que é algo BASTANTE possível)? O mais interessante é que Carlinhos Brown, outro “gênio”, repetiu a mesma coisa em 2001 no Rock In Rio III. Como diria o velho filósofo: errar é humano, mas insistir é babaquice!
E as coisas nesse nível ou pior se repetem do começo ao fim da leitura. Lobão tira sarro de todas as autoridades brasileiras, destrata os pais, atira contra a polícia, foge do país a mando do próprio advogado quando tem um mandado de prisão (justo, por sinal) expedido, se aproveita de amizades perigosas e troca favores com políticos. Enfim, representa tudo o que há de mais escroto no povo brasileiro e seu “jeitinho” de empurrar com a barriga os problemas, fugir da lei, ganhar vantagens e celebrizar babacas.
O LOBÃO É UM BABACA, MAS O LIVRO ACERTA EM ALGUNS PONTOS
Apesar da antipatia pelo personagem principal, esta resenha é sobre o livro e não sobre o Lobão e aí o escritor contratado Claudio Tognolli, acerta em vários pontos, explorando bem qualquer momento em que o músico interage com outras personalidades nacionais, valendo como registro do caráter de muitos outros artistas e também dos bastidores da indústria musical brasileira.
Outro ponto legal são os trechos entre capítulos, intercalando notícias de vários jornais e revistas das respectivas épocas contando uma visão externa daquilo que Lobão conta em cada capítulo e expondo bem o ridículo de muitas das situações.
Por outro lado, Claudio erra ao adotar a didática confusa de Lobão, cheio daquele vazio intelectual que mencionei acima. O grande problema é que torna a leitura de alguns capítulos cansativa, mas de fato aproxima o leitor do personagem “Lobão”. Basta assistir a qualquer entrevista ou depoimento do cara.
Por fim, deixo a imagem abaixo da galeria como a mais pura síntese de tudo o que você vai encontrar na biografia: não se engane pela risada do Lobão, ele está rindo da SUA cara. Você que trabalha, paga seus impostos e tenta viver uma vida justa e decente. Se você quer um bom manual de como passar a vida tomando atitudes equivocadas e decepcionando as pessoas ao redor, pode começar por este livro aqui.