Um estudo antropológico

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Assim como os fatos explicitados nesta PD aconteceram na sessão de imprensa de 300, o que vou abordar neste texto ocorreu durante a cobertura do show do Sonata Arctica, cuja resenha completa vai magicamente aparecer na página principal do site amanhã (ou, se você está lendo isso atrasado, ela já apareceu e já sumiu e, se você quiser ler, vai ter que procurar por ela na seção de shows).

Inicialmente, contaria isso na própria resenha do show, como as minhas tradicionais divagações que estão presentes em quase todos os meus textos. Como sei, contudo, que a concisão não é uma de minhas qualidades como redator, temia que me estendesse muito, levando o foco do show em si para as minhas reclamações. Separando em dois textos, posso me estender à vontade sem nenhum problema. Mas vamos à historinha.

Estava eu, fotografando a banda do nosso amigo Tony Kakko quando, na terceira música (e a última que poderíamos registrar, como é de praxe), enquanto mirava o guitarrista, uma mulher começou a querer se enfiar no pouco espaço que tinha entre o segurança e eu, e a cutucar meu braço e minha câmera, atrapalhando a foto que eu estava tirando.

Permita-me descrever melhor o cenário antes de continuar com os acontecimentos. O chiqueirinho do Citibank Hall estava relativamente vazio e dava para se movimentar facilmente no espaço para fotografar qualquer lugar do palco, o que nem sempre acontece. Eu estava na parte centro-esquerda do palco (o que nada tem a ver com minha posição política) e, ao meu lado esquerdo nesse momento, tinha um segurança que se encontrava a alguns centímetros de mim. Ou seja, o cara estava literalmente do meu lado. À direita, tinha pelo menos dois metros completamente vazios, visto que, neste momento, a maior parte dos fotógrafos se concentrava nas laterais do palco.

Deu para entender? Então, a mulher em questão provavelmente queria fotografar o vocalista, que estava no centro, e ela poderia facilmente ter feito isso entrando no grande espaço à minha direita, o que a deixaria sozinha em frente ao Antônio Caco himself. Acontece que, sabe-se lá por qual motivo, ela queria porque queria entrar naqueles poucos centímetros entre o segurança e eu. Como se isso não fosse suficientemente folgado e mal-educado, ela nem sequer pediu licença, mas veio atrapalhando as fotos que estava tirando, cutucando e me empurrando.

Quando ela chegou me empurrando, olhei para a fulana com a maior cara de ponto de interrogação, tentando entender o que estava acontecendo. Olhei para o meu lado direito e estava vazio. Atrás de mim, também estava vazio. Veja bem, o chiqueirinho da casa em questão tem capacidade de acomodar confortavelmente duas fileiras de fotógrafos, talvez até mais. Inclusive, na primeira música, eu não consegui ficar na primeira fileira, que estava toda ocupada por outros fotógrafos, e isso é normal. É fácil fotografar da segunda e, embora não seja tão confortável, não compromete o trabalho de forma alguma.

Mas a mulher queria briga. Estressado do jeito que sou e, principalmente, uma vez que era a terceira música e eu tinha consciência que já tinha tirado mais fotos do que precisaria, topei a imbecilidade dela, grudei o pé no chão e não me mexi mais até acabar o tempo de ficarmos lá.

Ou seja, no resto da música, ficamos um empurrando o outro e ela gritando coisas como “sai daqui” ou “divide o espaço”. Sinceramente, achei a folga da fulana tão absurda que fiquei com a impressão de que ela nunca tinha passado por uma situação social na vida, e perguntei se era o primeiro show dela. A resposta dela foi super criativa: “deve ser o seu”. Comecei a rir da cara dela, o que deve tê-la deixado mais brava ainda, e daí me lembrei que é comum em shows ter uma pentelha que fica exigindo que você abra espaço para ela. Não me lembro exatamente do rosto da dita-cuja, mas dado o modus operandi, provavelmente se trata da mesma filhote de cruz-credo.

Veja bem, não é como se eu estivesse parado em algum lugar por onde as pessoas precisam passar, como a entrada/saída do chiqueirinho ou como a turminha que fica conversando nas portas de faculdades. Se fosse o caso, ela estaria com a mais completa e absoluta razão. Mas eu estava mirando uma fotografia, no lugar apropriado para isso e provavelmente iria para outro lugar assim que ficasse satisfeito com a imagem que capturei. E mesmo que eu tivesse escolhido um lugar para fotografar o palco sempre do mesmo ângulo, estaria no meu direito e ela poderia escolher qualquer ponto vazio do palco para isso.

Inclusive, fiquei tão estupefato pelo comportamento da mulher, que queria até conversar com ela depois e tentar entender o que se passava na sua cabecinha desprovida de profissionalismo. Um estudo antropológico, por assim dizer. Infelizmente, não a encontrei depois. O objetivo desta matéria, portanto, é solicitar a ajuda dos delfonautas para tentar chegar a alguma conclusão sobre isso, pois eu não consigo conceber uma única situação em que alguém pode agir como ela e achar que tem razão.

Ah, um detalhe: a mulher em questão é visivelmente bem mais velha do que os fotógrafos que costumamos ver em shows de Metal. A maioria parece estar abaixo dos 30, enquanto a fulana com certeza já passou dos 40, o que deixa ainda mais estranho ela ir a shows para ficar arranjando briguinhas juvenis com as pessoas que estão tentando trabalhar.

Voltando ao nosso estudo, vamos tentar imaginar como a dita-cuja agiria em outras situações semelhantes. Você está no cinema, sentado, numa boa, aguardando o filme começar. Vem uma mulher e começa a puxar seu braço, sem falar nada. Diante da sua recusa em sair dali, ela começa a gritar, xingar e finalmente tenta sentar no seu colo. Sim, eu sei, se ela fosse gostosona, isso até seria legal, mas esse definitivamente não era o caso. Até porque uma gostosona grosseira ainda é grosseira e, sabe como é, ninguém gosta de mulheres grosseiras.

Situação hipotética 2: você está no museu, admirando um quadro, uma escultura ou qualquer outra coisa. Não tem ninguém ao seu redor. Aí aparece a dita-cuja e começa a empurrar você, a xingar e coisas semelhantes dizendo que quer estar EXATAMENTE no lugar onde você está.

Percebe quão absurdo isso é? Parece coisa que o Nelson faria nos Simpsons, mas definitivamente não dá para entender como existe alguém que age assim no dia a dia da vida adulta, considera isso um comportamento aceitável e ainda acha que está certa.

Será possível que a “fotógrafa” em questão seja tão absurdamente mimada que seus pais, de alguma forma, a convenceram de que, quando ela chega, todos devem sair, talvez até prestar reverências? Ou será que as pessoas sempre se afastam quando ela chega por motivos como a sua aparência putrefata ou seu odor desagradável e ela interpretou isso de forma diferente, como se todos tivessem a obrigação de abrir espaço? Finalmente, será possível que ela tenha feito isso porque me achou bonitinho, queria se aproximar de mim e sua mente foi completamente lavada pelas comédias românticas hollywoodianas que pregam que um casal que se conhece brigando acaba vivendo feliz para sempre? Bom, esse é o caso que mais me assusta e, se essa for a opção verdadeira, já deixo aqui registrado que ela já não teria chance nenhuma comigo antes de agir como uma troglodita. Depois, então, é mais fácil o som se propagar no vácuo. 😉

Brincadeirinhas à parte, eu estou até agora tentando entender esse comportamento e espero até que ela leia esse texto e me mande um e-mail explicando seu ponto de vista, pois eu sinceramente não acho que algum delfonauta vai conseguir inventar alguma justificativa. Simplesmente não existem dois lados para essa história, a não ser que seja um lado 100% certo (oi! ^^) e outro 100% errado.

Aliás, outra coisa que queria saber é para onde diabos essa mulher trabalha. Acho difícil que qualquer veículo mantenha uma pessoa tão desagradável em sua folha de pagamento (imagina você estar trabalhando e daí chega a mulher exigindo trabalhar exatamente onde você está sentado?), o que deixa a opção de que ela é uma daquelas pragas que se credenciam como “freelancer” e cujo trabalho nunca é publicado em lugar nenhum, salvo em um site próprio de portfólio ou algo do tipo. Sim, é um absurdo que pessoas assim consigam credenciais enquanto outros veículos honestos ficam de fora, mas esse é o Brasil, o país onde contatos valem mais que a capacidade profissional e isso já foi discutido antes e mais de uma vez nessa coluna.

Ainda que não cheguemos a nenhuma conclusão sobre nosso pequeno estudo antropológico, esse texto vale como registro. Essa é a imprensa brasileira, caros amigos. Digo mais, esse é um retrato do povo brasileiro. Folgado, sem educação e sem a menor capacidade de viver em sociedade. Não é de se estranhar que o nosso país nunca se envolve nos conflitos internacionais. Estamos muito ocupados guerreando contra nós mesmos.

Pior é que agora eu vou ter pesadelos em que, na calada da noite, a mulher aparece no meu quarto e exige que eu saia da minha cama para ela ocupar meu lugar. Putz, acho que eu preferia quando meus pesadelos eram com o Jigsaw. Pelo menos o modus operandi dele faz sentido. Já dizia aquela frase: a vida é mais estranha que a ficção, já que a realidade não precisa fazer sentido…

FAIXA BÔNUS: Outros estudos antropológicos de figuras comuns em shows de Metal

Os casos abaixo são coisas menos graves e mais bem-humoradas que venho reparando há tempos e aproveito este espaço para solicitar a ajuda dos delfonautas para compreender.

A turminha da memória: esse corresponde a pelo menos 10% do público presente em qualquer show de Rock, então imagino que alguns delfonautas se encaixem na descrição e possam esclarecer. É o carinha que fica o tempo todo com o celular para o alto (supostamente) gravando o show. Além de atrapalhar a visão de quem está atrás, é simplesmente incompreensível. Por que ele faz isso? Para ter memórias do show? Mas que diabos de memórias o cara vai ter se ele passou o concerto inteiro olhando para a tela de duas polegadas de uma máquina? Particularmente, acho que ele teria memórias mais legais assistindo a um DVD da banda em casa, com uma gravação profissional e em uma TV de verdade. O legal do show é ver ao vivo, cacilda! Essa turminha é praticamente a versão headbanger de outra turminha irritante: a que vai para lugares como o Louvre, posa ao lado da Mona Lisa para uma foto, mas nem sequer olha para o quadro. E se alguém parar para admirar, ao invés de manter o fluxo fluindo para que os demais tirem fotos, ficam bravos (substitua o Louvre e a Mona Lisa por qualquer outro atrativo turístico de qualquer cidade e você com certeza perceberá que já esteve em contato com essa galera).

O carinha que se acha o Rockstar: esse particularmente não me incomoda, mas eu acho bastante curioso e igualmente incompreensível. É aquele sujeito que, em determinadas músicas, se empolga tanto que se vira de costas para o palco, começa a encarar seus amigos, enquanto canta, faz air guitar e bate a cabeça. O que será que ele pensa? Que os amigos vão parar de olhar para a banda para assistir ao seu showzinho particular? Via de regra, os amigos ficam é olhando para o palco, fingindo nem conhecer o empolgado, que nem percebe isso e continua com o “espetáculo” até a música acabar, quando ele se vira novamente para o palco e continua assistindo como se nada tivesse acontecido.

Tem mais, com certeza, mas acho que esses são os mais engraçados. Um dia ainda faço um Top 5 de figurinhas bizarras em show de Rock. Se você lembrar de alguma, deixa aí nos comentários.

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