Sonata Arctica em São Paulo (26/2/2008)

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Um estudo antropológico: inspirado pelo show do Sonata Arctica.

Minha relação com o Sonata Arctica é um tanto curiosa. Lembro que, quando o primeiro CD deles, o Ecliptica saiu, eles foram divulgados como a banda que ia abrir a turnê conjunta do Rhapsody com o Stratovarius. Isso chamou a atenção de todo mundo e o álbum em questão, com seu Metal Melódico rápido e cheio de melodias pegajosas, me conquistou de imediato.

Depois veio o EP Successor, que eu ainda achei legalzudo – em especial a cover de Still Loving You do Scorpions, que conseguiu transformar uma música da qual eu não gosto em um Metalzão de primeiríssima – e finalmente o segundo disco, Silence. Desse, eu gostei bem menos e as letras estúpidas realmente fizeram a banda cair no meu conceito. Afinal, dizer numa baladinha linda algo como “I have found the whore in you” parece até piada de comercial de escola de inglês.

Aí eles vieram para o Brasil e fizeram um show curto onde praticamente metade do set era composto de baladas. Tudo bem, o Sonata Arctica faz ótimas baladas, mas ainda assim, foi um exagero. Acabei comprando o próximo álbum, Winterheart’s Guild, por obrigação de colecionador, e como também não me empolgou, desisti de comprar tudo deles.

Agora que você já conhece minha história com a banda, podemos ir para a resenha do show propriamente dito. Com cerca de 20 minutos de atraso, finalmente as luzes se apagam. Uma curiosidade é que os seguranças demoraram muito para liberar o acesso dos fotógrafos ao chiqueirinho. O resultado é que, quando eu cheguei lá, a banda já estava no palco.

Aliás, isso foi outra coisa estranha. O normal em shows de Metal é a banda entrar correndo, já tocando sua primeira música. Nesse caso, os caras subiram no palco, ficaram dando tchauzinho e coisas do tipo ANTES da introdução terminar, com exceção do vocalista Tony Kakko, que ficou mostrando suas habilidades no air keyboard (confira essa humorística posição na galeria de fotos).

Finalmente, a banda começou a tocar as primeiras músicas. Eles mandaram ver, praticamente sem pausas, In Black and White, Paid In Full, Victoria’s Secret e Broken, enquanto as menininhas das primeiras fileiras davam gritos histéricos que eu nunca imaginei ouvir em um show do Sonata (isso já era chato nos do Edguy e do Nightwish). Isso me fez lembrar o que um amigo me falou há muitos anos: para deixar as minas histéricas, é só compor baladinhas. Pior que isso é verdade… E não dá para negar que, embora as letras sejam horríveis, o Sonata manda bem nas melodias. E isso parece ser o suficiente.

A primeira coisa que me chamou a atenção foi que o tecladista Henrik Klingenberg (que tentou agradar da forma mais clichê possível: usando uma camiseta do Brasil) usa uma teclarra (ou seria um teclarra?), aquele instrumento bizarro que parece saído diretamente de um túnel do tempo dos anos 80. E isso é legal. Até porque tocar teclado em uma banda de Metal e não poder correr pelo palco deve ser meio frustrante. Na verdade, eu já sabia disso, pois também me surpreendi com esse fato ao assistir ao DVD For The Sake of Revenge, mas como eu não me lembrava, me surpreendi de novo. ,-)

A segunda coisa que me chamou a atenção foi o vocalista, Antônio Caco de Vidro. No show anterior, eu lembro que sua presença de palco lembrava a de um maníaco, uma coisa meio stalker, manja? Bem o tipo de cara que comporia uma letra como a de The End of this Chapter ou a supracitada que contém a pérola “I have found the whore in you”, mas o cara mudou bastante nesses seis anos e agora não é mais tão assustador.

Na verdade, sua roupinha xadrez e sua forma de agir, apoiando o peso no pedestal do microfone, lembravam mais um dos nerds que cantam em uma banda de Rock Alternativo falando sobre quadrinhos e dificuldades amorosas do que um dos nerds que cantam em bandas de Metal Melódico falando de dragões, trovões, espadas e honra. O cara chegou inclusive a sentar no palco em alguns momentos. Herança da época que o Sonata se chamava Tricky Beans, talvez? Aliás, na hora que ele sentou, eu imediatamente virei minha câmera para o sujeito, que olhou e sorriu, como você pode verificar na galeria.

O único que poderia ser considerado mais poser, aliás, esse era quase tão poser quanto o Manowar, é o novo guitarrista Elias Viljanen, que fica o tempo todo na frente de um ventilador que fazia suas madeixas voarem como se ele estivesse em um comercial de shampoo. Durante essas primeiras músicas, a histeria feminina também se manifestou em presentinhos, pois a banda agradeceu um coração de pelúcia e um bichinho que alguém deve ter jogado no palco (um desses presentes você confere na galeria, nas mãos do vocalista).

A primeira pausa veio só depois da quarta música, quando Toninho Caco o Sapo anunciou que tocariam uma do primeiro álbum. “Finalmente”, pensei com meus botões. E ele começou a anunciar algo que começava com 8th, mas parou de falar e anunciou San Sebastian, que está no EP Successor e foi depois regravada para o segundo álbum.

Como a maior parte das bandas de Metal Melódico, os caras não são de falar muito, e já emendaram a próxima música e a primeira balada do setlist, Shamandalie. A seguir vem Caleb, durante a qual Tony Kakko dança valsa sozinho.

A próxima música foi anunciada como a mais lenta que já compuseram e veio a que Tonhão Kakko ameaçou anunciar antes, a rapidona 8th Commandment. Neste ponto, a galera foi realmente à loucura. Parecia até que o Bruce Dickinson tinha aparecido no palco ou algo do tipo, o que me faz deduzir que não sou só eu que considero o Ecliptica um álbum excepcional. E olha que a faixa em questão está muito longe de merecer destaque entre as melhores do disco. Ah, sim, o vocalista nem precisou cantar o primeiro refrão, pois seu público cuidou disso para ele.

Outro sucesso da banda veio a seguir: Black Sheep. Além da fiel teclarra de Henrik, também tinha um teclado tradicional no palco, que ele usava em alguns momentos. Nessa música, ele solou nos dois ao mesmo tempo. Depois dessa, veio uma breve música instrumental, provavelmente para o Totonho poder tirar água do joelho.

Logo em seguida, o vocalista voltou, gritando “hell, yeah” várias vezes. Sim, eu sei o que você está pensando: Tony Kakko (pois é, acabaram as minhas traduções para o nome dele) lê o DELFOS. Wolf and Raven foi a próxima, que foi imediatamente emendada na música cuja tradução serve de chamariz para esta matéria: Full Moon. Mas algo estava diferente. Pois é, o início levado apenas ao piano foi rearranjado para uma versão mais pesada. Ficou bem interessante e a repercussão dela novamente me fez concluir que eu não estava sozinho na expectativa de mais músicas do primeiro álbum.

Depois de cerca de uma hora de show, a banda sai do palco. Como já é praxe nos shows em São Paulo, ninguém mais pede o bis, todo mundo fica só esperando os caras voltarem. Como eles pareciam estar fazendo doce, pois estavam demorando muito, depois de alguns minutos a galera começou a chamar pelo nome da banda. Mesmo assim, nada. A turminha, então, simplesmente desistiu de gritar e mais vários minutos se passaram. Foi, sem exageros, o intervalo para o bis mais enrolado e chato da história! Mais de dez minutos depois que os finlandeses saíram do palco, quando já tinha gente ficando de saco cheio da enrolação e indo embora, os caras parecem ter se tocado que o público não ia mais chamar a banda e que o lugar estava começando a esvaziar e alguém sentou na bateria.

Quando as luzes se acenderam, vimos que não era o batera Tommy Portimo (que parece a Barbie), mas o próprio Tony Kakko quem estava segurando as baquetas. O cara fez um mini-solo genérico, seguindo a fórmula que já foi muitas vezes demonstrada aqui no DELFOS e finalmente cedeu o banquinho ao titular.

Depois de um breve coro de “olê-olê-olê”, começaram It Won’t Fade, seguida de Gravenimage. Tony diz que vão tocar mais duas músicas, mas prometeu que não vão demorar mais seis anos para voltar. As próximas duas são Don’t Say a Word e a pegajosa The Cage, que foram seguidas da curta Vodka, que é praticamente uma despedida e foi tocada numa versão instrumental, diferente da que vemos no DVD da banda. Tony se despede da galera dizendo que nos ama e mandando um beijinho, o que deve ter derretido o coração de muitas das moçoilas presentes.

Era pouco depois das 23 horas, e a banda encerrava seu show após menos de 90 minutos (contando a pausa de 10 minutos para o bis), como já é tradição em apresentações de bandas escandinavas, sabe-se lá por qual motivo. Aliás, já que os shows das terras geladas do norte são tão curtos, os ingressos deveriam ser mais baratos, não acha? A gente devia fazer um abaixo assinado para conseguir isso. ,)

Mas peraí… como um show do Sonata Arctica pode encerrar sem Replica, uma das melhores baladas da história do Metal? Pois é, amigão, essa é a pergunta que me faço até agora. O Sonata não tocar Replica é quase como o Iron Maiden não tocar Aces High: não dá para acreditar que isso já aconteceu. Sem falar outras do primeiro disco que todo mundo gosta, como Kingdom For a Heart, que estava no set até pouco tempo atrás e Blank File, uma das minhas preferidas.

Embora desse para imaginar que o show fosse ser curto e contaria com várias músicas mais recentes, eu nunca imaginei que clássicos como Replica e Kingdom For a Heart fossem sair um dia do setlist da banda, e isso me decepcionou bastante. O show teve bons momentos e boas músicas, mas faltaram clássicos mais antigos e não dá para não tirar pontos pela curta duração, somada ao exagerado intervalo antes do bis, que correspondeu a praticamente 10% do tempo de show. Agora vamos ver se eles não vão demorar mais seis anos para voltar de novo.