Minha falta de apreço por cinebiografias está bem registrada neste site. Como resposta às pessoas que dizem que os atores mandam muito bem ao imitar figuras registradas em muitos vídeos, como Freddie Mercury Johnny Cash, sempre digo que “qualquer comediante meia boca imita Silvio Santos“. Pois veja só, finalmente o patrão ganha uma cinebiografia para chamar de sua. E o timing não poderia ser mais perfeito para as empresas envolvidas.

Algumas semanas atrás, a sessão de imprensa de Silvio estava marcada. Porém, entre o convite e a sessão, o apresentador morreu. Toda morte é uma tragédia, claro. Mas capitalisticamente falando, a Imagem Filmes se deu bem, estando com uma cinebiografia pronta para lançar semanas depois de uma das figuras mais queridas do Brasil ter batido as botas. Claro, eles adiaram um pouco a estreia, mas como você pode ver, bem pouco. Mas vamos ao filme.

CRÍTICA SILVIO

Silvio é uma cinebiografia um tanto diferente. A fórmula para estes filmes é deveras batida, normalmente mostrando a vida do homenageado de forma linear, seguindo a famosa estrutura rags to richesSilvio, o filme, já começa com Silvio Santos rico e famoso. Na verdade, tão famoso que logo de cara o filme aborda o sequestro de sua filha.

A narrativa principal acontece pouco depois disso. O chefe da quadrilha que sequestrou Patricia Abravanel começa a ser caçado pela polícia, e ele acredita que a intenção dos coxas é matá-lo. Totalmente no instinto de sobrevivência, ele decide ir para a casa do Silvio Santos na esperança de que isso o mantenha vivo tempo suficiente para ir para a cadeia.

Silvio, Silvio Santos, Rodrigo Faro, Imagem Filmes, Delfos

Durante este sequestro domiciliar, os dois conversam bastante. Silvio Santos navega a tensa situação de forma simplesmente genial, sem nunca antagonizar seu algoz. É realmente uma inspiração, e o fato de o bandido ter ido justamente lá em busca de ajuda mostra o nível de carisma que Silvio Santos tinha no nosso povão.

A CINEBIOGRAFIA EM SI

A parte cinebiográfica decorre das conversas entre os dois. Silvio começa a contar sua história para inspirar o criminoso e ganhar tempo. Daí, o filme aproveita para mostrar o início da vida profissional daquele camelô ambicioso que se tornaria uma das pessoas mais famosas do Brasil.

Esta parte do passado da vida dele é a mais chata, mas felizmente o longa não se estende muito nela. Apenas momentos pontuais e muito conhecidos são abordados. Do camelô ao rádio, ao programa de TV, à realização do sonho do canal próprio. Silvio se diferencia por focar em um momento realmente tenso e interessante da vida de seu homenageado e esta parte é realmente bacana, em especial pela genialidade do apresentador em navegar por este momento de tamanha tensão.

RÁ-RÁI!

Lembra que eu falei lá no início que qualquer comediante meia boca imita o Silvio Santos? Pois é realmente curioso que Rodrigo Faro tenha optado por não fazer isso. Ele não está fisicamente parecido com o apresentador e não fala como ele. Pensei que talvez a ideia fosse diferenciar a persona pública da privada, mas até mesmo nas cenas do programa o ator não age como o esperado. Suponho que a persona de Silvio Santos foi tão utilizada para a comédia que, se ele tivesse de fato incorporado o apresentador, impregnaria o filme de humor involuntário.

Silvio, Silvio Santos, Rodrigo Faro, Imagem Filmes, Delfos
Acha parecido?

Ao invés disso, ele age como uma pessoa normal, mas alguém muito inteligente – pura lábia, como o sequestrador o define. E este era Silvio Santos, afinal de contas. Apenas alguém com muita lábia e carisma conseguiria chegar ao ponto que chegou em nosso país, apesar de toda a sorte que, claro, está envolvida no processo.

Então apesar de não ter ficado parecido com Silvio Santos, as atuações de Silvio em geral são boas, em especial de Johnas Oliva, que faz o sequestrador. Ele é capaz de fazer com que um personagem odiado por muitos brasileiros que viveram a época, se torne trágico e até simpático.

Silvio é um bom filme. Certamente muito superior ao que eu esperava que fosse. Não é o longa que vai me fazer gostar de cinebiografias, mas se dá bem ao arriscar sair de uma fórmula que já deu o que tinha que dar antes mesmo de eu nascer.