Hoje o assunto é diferente. Of Bird and Cage é um álbum conceitual de heavy metal composto por Arnold Nesis, apresentado em formato de game. Entre os músicos, temos uma galera de bandas conhecidas, como TherionEpicaWithin Temptation, etc. Você pode conferir alguns dos artistas presentes no site oficial. A questão é: será que Of Bird and Cage funciona bem, tanto como um game e como um álbum de música? E a história, é boa? Ora pois, bem-vindo à análise Of Bird and Cage.

Análise Of Bird and Cage, Of Bird and Cage, Capricia, Heavy Metal, Delfos
Como diz o Capitão América: eu peguei essa referência!

ANÁLISE OF BIRD AND CAGE

Of Bird and Cage é a história de Gitta, uma jovem de 25 anos que passou a vida enterrada em relacionamentos abusivos com diversos homens. O pai, os namorados, ela simplesmente não dá sorte com caras. A história é inspirada por A Bela e a Fera, e faz refletir sobre as perguntas “será que esses caras têm algo de bom? Será que merecem perdão?”.

A música é realmente muito boa. Bem cantada e bem tocada. Tem belos pianos, ótimos solos de guitarra, e a cantora que faz a personagem Gitta, que não consegui descobrir quem é nem consultando a assessoria de imprensa que forneceu o código de review, dá um show.

Análise Of Bird and Cage, Of Bird and Cage, Capricia, Heavy Metal, Delfos
Essa sou eu. A pequena Gitta.

O estilo da música é bem dramático, com fortes influências de musicais. Isso deixou o som bem próximo de uma das minhas bandas preferidas, o Savatage. Afinal, acho que ninguém mais faz heavy metal tão dramático e com tanta cara de teatro quanto a banda do Jon Oliva.

UM ÁLBUM CONCEITUAL DE HEAVY METAL

Eu gostei muito mesmo da música, mas tenho alguns comentários. O que temos aqui é uma trilha sonora. Ou seja, tem várias partes repetitivas ou bem paradas, que servem para potencializar o sentimento da história, mas que não é necessariamente agradável de ouvir simplesmente como música. Além disso, tenho uma questão com os vocais. A Gitta detona, com uma das melhores performances vocais femininas de heavy metal que já tive o prazer de ouvir. Ela me lembrou bastante a voz da Sharon Den Adel e eu considero a voz dela uma das mais belas do estilo, ao lado do Michael Kiske. Os homens, no entanto, são outra história.

Análise Of Bird and Cage, Of Bird and Cage, Capricia, Heavy Metal, Delfos
“Eu sou a fera!”

Há vários personagens homens, e cada um deles é feito por um cantor diferente. Porém, todos têm a voz MUITO parecida. Todos cantam de forma “malvada” o tempo todo. São vocais guturais e sussurros sinistros a todo momento. E, sim, os homens da história são malvados. Mas não são malvados o tempo todo. Inclusive, a história depende de você ter uma certa simpatia pelo que se diz “a fera”, e isso fica mais difícil se ele canta agressivamente mesmo em momentos que deveriam ser meigos.

Veja, não é uma crítica a vocais guturais em si. Este estilo de canto certamente tem seu valor e espaço. Mas alguns personagens da história precisavam de mais cor do que apenas isso. A própria Gitta é bem sucedida em ser malvada e vítima quando a história pede por isso.

ANÁLISE OF BIRD AND CAGE: A HISTÓRIA E O GAMEPLAY

Se a parte musical de Of Bird and Cage é excelente, não dá muito para evitar falar disso: como jogo, ele falha miseravelmente. Cada música do álbum é um capítulo da história e, depois que começa, toca o tempo todo. O gameplay, em primeira pessoa, é ao mesmo tempo simples e complicado.

Análise Of Bird and Cage, Of Bird and Cage, Capricia, Heavy Metal, Delfos
Acorde esse cara. Mas como?

Em geral, cada trecho te coloca em uma área limitada, tipo na sala de uma casa. E te dá objetivos, do tipo “pegue a chave, a carteira e o cartão de crédito”. E daí você fica ali, desesperadamente tentando cumprir o objetivo, antes de o timer na parte inferior da tela terminar. Quando isso acontece, a próxima parte da música e da história começam, você estando pronto ou não.

O problema é que o jogo não te diz onde estão os objetivos ou como fazê-los. Tipo, na imagem acima, eu precisava acordar aquele cara. Tenho a sensação de ter interagido com tudo e não ter descoberto o que fazer. E depois o cara sumiu da história, sem nenhuma explicação de quem era ou porque estava lá. Isso não é um bom roteiro.

O GAMEPLAY E A HISTÓRIA

Basicamente, você tem um objetivo que não sabe como cumprir, daí o tempo acaba e aparece um cara que faz algo horrível com a Gitta. Não sei se foi intencional, mas se a ideia de Of Bird and Cage é emular a sensação de desespero de uma mulher presa em relacionamentos abusivos e sem saber como escapar deles… bom, foi assim que me senti. Mas como jogo, isso não é legal. Os desenvolvedores dizem que a história depende das suas escolhas, mas em geral eu não escolhia falhar. Eu só não sabia como ser bem sucedido. Igual na vida real.

Análise Of Bird and Cage, Of Bird and Cage, Capricia, Heavy Metal, Delfos

Não ajuda o fato de o gameplay em si ser terrível. Você só sabe se algo é interagível ao colocar sua mira exatamente em cima da coisa. Só que a mira é minúscula e quase invisível. Em um jogo de dardos logo no início, eu simplesmente não conseguia enxergá-la para saber onde mirar. E eu tenho boa visão.

Ainda há cenas de combate, tanto de pancadaria quanto de tiroteios e essas são ainda piores. Basicamente, você fica dando socos no ar desesperadamente, torcendo para, quando o tempo acabar, a barrinha estar virada para o lado do win. Em outras cenas, há os tradicionais QTEs, que são muito exigentes e poluídos. Cada botão que aparece pode exigir três ações (segurar, martelar ou apertar). Então é necessário diferenciar a ação necessária com vários botões aparecendo na tela AO MESMO TEMPO. De novo, se a ideia é fazer você se sentir sem saber como escapar do abuso, deu certo. Mas como jogo isso não é legal.

SOBRE PÁSSAROS E JAULAS

Análise Of Bird and Cage, Of Bird and Cage, Capricia, Heavy Metal, Delfos
O combate é terrível, e não deveria existir.

Também tenho problemas com a história em si. Eu senti que não tinha agência nela, por simplesmente não saber como cumprir os objetivos. E daí fui levado por um caminho de vítima indefesa a uma história de vingança cruel. As referências a Bela e a Fera são claras, mas outra obra cultural que Of Bird and Cage lembra bastante é aquele filme antigo I Spit on Your Grave, que ganhou um remake mais recente, chamado no Brasil de Doce Vingança.

Tanto como vítima como quanto vingadora, simplesmente não me senti bem em nenhum momento da história de Gitta. Mas até aí, a ideia da arte não é ser necessariamente confortável ou divertida. Of Bird and Cage me incomodou por muitos motivos. A ponto de que eu não conseguiria falar sinceramente aqui que é um bom jogo. Se o compararmos, por exemplo, com Sayonara Wild Hearts, outro álbum conceitual em formato de videogame, o da Annapurna é muito melhor em todos os sentidos. Mesmo contando uma história também pesada.

Mas talvez este não tente ser um bom jogo. Talvez a intenção seja mesmo incomodar. E neste aspecto ele foi muito bem sucedido. A ponto de que eu não me senti confortável reduzindo minha experiência a uma nota fácil de digerir. Of Bird and Cage é pesado, incômodo e faz sofrer. E sinto que ele foi criado para ser assim. Se isso é algo que te interessa conhecer, é outra história. E só você pode responder.