Webcomics nacionais: Tirinhas

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A internet é hoje a base de divulgação para praticamente todo tipo de arte e entretenimento. Os games, a TV, o cinema com seus crowdfundings e campanhas virais… Para a música, então, este já é o único jeito de criar uma base de seguidores. Os quadrinhos, é claro, também estão inclusos. Não só as grandes editoras estão tentando se adaptar, mas também há um grande volume de conteúdo de qualidade sendo criado especificamente para publicação online. Há uma infinidade de HQs e graphic novels pela rede, só esperando para serem descobertas.

Mas existe também um tipo que não fica restrito ao nicho nerd e tem justamente o que precisa para ser compartilhado rapidamente e assim viralizar de fato: as tirinhas. Assim como as impressas, publicadas nos jornais e que a gente tanto vê em provas e livros de português, na internet as tirinhas continuam sendo uma forma simples e rápida de arte, tanto pelo lado visual quanto pelo texto. Elas combinam humor, crítica social e reflexão nas coisas do dia-a-dia, e atingem um público bem maior, abrangendo até a temida turma do “too long, didn’t read”.

Quando se fala em tirinhas a gente já se lembra dos clássicos gringos: Peanuts, Calvin e Haroldo, Hagar, o Horrível, etc. Mas os jornais brasileiros nunca deixaram a desejar. Por aqui a gente tem (ou tinha) Laerte, Glauco, Ziraldo, Maurício de Souza, Millôr Fernandes, Henfil, Adão Iturrusgarai e tantos outros.

As tirinhas para a web também começaram nos EUA, a partir dos anos 90. Os artistas tinham suas tirinhas distribuídas aos jornais pelas chamadas Syndicates, que eram bastante rígidas quanto aos temas e limitavam a criatividade. Eles então aproveitaram a novidade dos browsers e da World Wide Web para criar sites e blogs onde, sem ter de se preocupar com restrições do que é ou não “comercial”, puderam começar a fazer tirinhas sobre games, filmes e cultura pop em geral, falar de suas profissões e outras coisas que faziam parte de seus cotidianos.

Uma olhada rápida nos pioneiros dos apelidados Webcomics como Argon Zark!, Penny Arcade, PvP, Sluggy Freelance e User Friendly torna fácil perceber que são todos feitos de nerd para nerd. Algumas são nerds até demais: o renomado XKCD, por exemplo, é escrito por um cara que trabalhava na NASA e às vezes traz piadas tão cheias de física e matemática que nerds de humanas como eu geralmente não entendem.

Com o tempo, os brasileiros foram chegando e agora também temos uma cena inteira de “Webcartunistas”. Uma cena grande, criativa e incrivelmente diversificada: tem realmente de todos os gêneros, com textos e desenhos de todos os níveis de complexidade. E o mais legal é que é uma cena colaborativa: os artistas linkam uns aos outros em seus sites, convidam os colegas para participações especiais, organizam eventos… enfim, apoiam o trabalho dos outros e crescem em conjunto.

E eles estão tão espalhados pela rede que mesmo se você não souber quem é o artista ou em que site ele publica suas tirinhas, muito provavelmente pode reconhecer seu traço porque já viu alguma delas em sua timeline do Facebook, do Twitter, do Tumblr ou qualquer rede social que você frequente.

Destes já familiares tem o WillTirando, lar da impagável Dona Anésia; o ora nonsense ora filosófico Ryotiras; as Mentirinhas do Fabio Coala, que tem um estilo especialmente fofo; o Dr. Pepper, que agrada aos fãs do gringo Cyanide & Happiness; o Um Sábado Qualquer, que consegue a façanha de fazer humor sobre religião sem criar polêmica; a representante feminina Mulher de 30; O Vida de Suporte para os T.Is da vida; e muitos, muitos outros.

E não seria surpreendente se você achasse o trabalho deles também impresso, afinal, a ordem agora inverteu. Antes os artistas de jornal migravam para a internet: Laerte, por exemplo, criou seu site em 1998. Hoje, a grande maioria dos blogs de tirinhas acabam servindo como vitrine para seus artistas, dando a eles a visibilidade que precisam para fazer dinheiro com seus sites ou se lançarem na indústria. No jornal você provavelmente acha os Malvados de André Dahmer; e nas livrarias com certeza pelo menos um dos muitos trabalhos dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá, os primeiros brasileiros ganhadores do prêmio Eisner, que publicam as tirinhas mais poéticas que eu já vi no 10 Pãezinhos.

Amanhã aqui no DELFOS você confere uma entrevista exclusiva com o cara por trás de um dos sites mais legais dessa atual cena de Webcomics nacionais, que como tantos outros, começou despretensiosamente, mas conquistou uma legião de fãs e agora vende até bichinhos de pelúcia de seus personagens. Não perca.