The Big Bang Theory

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Fato: por alguma razão, os nerds estão na moda atualmente. Fato: desde que Friends acabou, em 2004, as sitcoms em seu formato tradicional (o que exclui pérolas como Scrubs, The Office e Arrested Development) estavam em baixa. O melhor exemplar do gênero nesse período era a apenas mediana Two and a Half Men que, embora me arrancasse algumas risadas, ainda era pouco se comparado aos tempos áureos do já citado Friends, e também Seinfeld e That ‘70s Show.

Eis que em 2007 surge uma nova sitcom, criada por Chuck Lorre (coincidentemente, um dos criadores de Two and a Half Men) e Bill Prady. Utilizando o tema da moda, os nerds, como ponto de partida, The Big Bang Theory surpreendeu, e graças a ela hoje temos mais um ótimo exemplar das comédias de situação em seu formato clássico. E mais, uma comédia sobre nerds, para eles e escrita por representantes desse grupo (como praticamente tudo na tevê estadunidense atual).

Na série, acompanhamos as aventuras muito loucas de cinco personagens. Quatro deles são cientistas extremamente inteligentes, trabalham na mesma faculdade (e dois deles moram juntos), são totalmente nerds e sem o menor tato para relações sociais com pessoas de fora do grupo. E claro, há também a personagem oposta que serve como a visão do telespectador médio. São eles:

– Leonard Hofstadter (Johnny Galecki): A princípio o protagonista da série, Leonard é o mais normal do grupo de cientistas. É um físico apenas mediano (e, por isso, alvo das críticas de Sheldon) cujo maior problema é sua dificuldade em chegar na mulherada. Serve como escada para as piadas de Sheldon.

– Sheldon Cooper (Jim Parsons): Rapidamente tomou o posto de personagem principal de Leonard. Sheldon basicamente é um “nerd do mal”. Físico brilhante, divide o apartamento com Leonard, é cheio de manias e gosta que tudo seja feito do seu jeito. Por causa disso, todos o acham extremamente irritante, mas é mais fácil fazer o que ele quer do que tentar discutir, pois inevitavelmente ele vencerá com sua lógica impecável. Na realidade, ele não faz essas coisas por maldade, e sim porque, apesar de ser considerado um gênio e um prodígio no campo das ciências, não faz a menor ideia de como funcionam as relações sociais mais simples. E por conta disso, ele é o dono das melhores piadas.

– Penny (Kaley Cuoco): Jovem que veio do interior para a cidade grande em busca do sonho de se tornar atriz. Quando a série começa, ela acabou de se mudar para o apartamento em frente ao de Leonard e Sheldon e, para se manter, arranjou um trampo de garçonete na lanchonete frequentada pela turminha altoastral. De alguma forma, consegue fazer amizade com os quatro, mas não entende nada do que Sheldon fala. Na primeira temporada, era o objeto de desejo de Leonard, mas ela só tinha olhos para os tipos bombados. Sua presença é legal porque ela tem as reações típicas de um leigo numa roda nerd, que bóia com as piadas estilo “você é um deles!”.

– Howard Wolowitz (Simon Helberg): Um autêntico cafanerd, que dá em cima de qualquer coisa que tenha peitos (e é rejeitado por qualquer coisa que tenha peitos). Howard é engenheiro e projeta ferramentas utilizadas no espaço pela NASA. Mesmo assim, é meio complexado por ser o único do grupo a não ter doutorado (só mestrado). Usa sempre aquelas camisas de gola rolê por baixo de uma camiseta (há um episódio onde ele rasga a camiseta e não há outra camisa por baixo, só a gola) e ainda mora com a mãe, com a qual se comunica aos berros. Repare nas fivelas dos cintos dele, sempre são alguma coisa legal (o símbolo do Batman, um joystick de Nintendo 8 bits e por aí vai)! Sem dúvida, o mais estiloso dos quatro.

– Rajesh Koothrappali (Kunal Nayyar): Esse é o meu favorito. Raj é indiano (dã!) e embora não fique muito claro, parece ser astrônomo. Porém o que interessa é uma incrível peculiaridade: ele não consegue falar com mulheres. Ele fica mudo. Não consegue nem falar com os próprios amigos se tiver uma fêmea no recinto, só é capaz de cochichar no ouvido de algum deles. Ele só consegue dizer alguma coisa ao sexo oposto se estiver bêbado, mas aí só saem besteiras. O mais inacreditável é que o personagem foi inspirado em um antigo colega de trabalho do cocriador Bill Prady, que tinha o mesmo problema.

O ponto forte da série são, sem dúvida, os diálogos. Ele agrada tanto aos nerds apaixonados por cultura Pop quanto àqueles que adoram ciências. Todos são bem construídos, com um timing perfeito (mérito também dos atores) e com um conhecimento enorme dos nossos queridos hobbys.

Sente só: os personagens leem gibis (e são DCnautas convictos, fãs do Flash), têm uma noite da semana reservada só para jogar Halo, discutem Star Trek na mesa da lanchonete e vão a festas a fantasia vestidos de Thor, Frodo e Efeito Doppler (e o Sheldon tentando explicar essa fantasia é hilário). Além de usar muito bem essas referências como um atrativo a mais, muitas vezes elas até passam para o primeiro plano. Assista ao episódio da máquina do tempo para ver do que estou falando, é o melhor da série.

Outra coisa que me arranca risadas em todos os episódios são as sutis críticas às convenções sociais, geralmente centradas em Sheldon. Como ele é deficiente nessa área (não consegue detectar sarcasmo, por exemplo), toda vez que tem que lidar com relações interpessoais, acaba expondo o absurdo de certas coisas que fazemos. Claro, muitas vezes isso é bastante exagerado. Lembro-me de um episódio onde ele tem de demonstrar alegria por uma conquista acadêmica de Raj e Leonard o aconselha a sorrir. Ele arreganha os dentes de forma bizarra, no que Leonard diz algo como “você tem que parecer feliz pelo seu amigo e não parecer que está tentando matar o Batman!”.

No entanto, mesmo com esse humor inteligente e lotado de referências para todos os gostos, a meu ver a série peca num quesito muito importante, e na verdade foi isso que evitou que ela levasse o incomparável Selo Delfiano Supremo. Refiro-me ao desenvolvimento das histórias, extremamente falho.

A série se sustenta puramente em cima dos diálogos e a história dos episódios muitas vezes fica relegada a segundo plano, e algumas vezes nem chega a ser concluída. É muito comum a história principal do episódio ser apresentada logo no começo, aí há um monte de diálogos sensacionais que não necessariamente têm a ver com a trama e quando você vê, já acabou. Mas ei, o que aconteceu com aquele personagem? Ele sumiu! Ou, ei, essa história não teve desfecho! É uma coisa bem esquisita que fica mais aparente na segunda temporada.

Pois a primeira teve uma linha geral que era Leonard tentando conquistar Penny. Sim, o velho clichê de dois milhões de sitcoms dá as caras aqui também. O sujeito desajeitado tentando ganhar a gostosa loirinha que só tem olhos para pitboys. Inacreditável que não tenham conseguido pensar em algo melhor do que isso. Pelo menos parecem ter resolvido essa trama de uma vez por todas no começo da segunda temporada (embora de vez em quando parece que vai acontecer alguma recaída neste tema, o que é outro lugar comum por demais indigno para um programa tão tremendão quanto este), que, por conta disso, ficou sem uma linha principal, ocasionando o problema das histórias sem propósito ou desfecho.

Mesmo assim, The Big Bang Theory me faz rir como há anos não ria com uma sitcom. Sejamos francos, se você é nerd e gosta deste tipo de série, então não há mais o que dizer. As chances de ela agradar você são altíssimas. Então vá atrás, afinal, como diz a ótima musica de abertura, a cargo do Barenaked Ladies, tudo começou com o Big Bang.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
the-big-bang-theoryAno: 2007/ainda em exibição<br> Elenco: Johnny Galecki, Jim Parsons, Kaley Cuoco, Simon Helberg e Kunal Nayyar.<br> Canal: Warner<br>