O Exorcismo de Emily Rose

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Já se vão 32 anos desde que O Exorcista apavorou platéias mundo afora, incluindo este redator, que jurou nunca mais assistí-lo em sua vida (sim, morri de medo. E daí?). Agora, o tema é novamente abordado em O Exorcismo de Emily Rose. Antes que você me pergunte já dou a resposta: não, a história de Emily Rose não é tão tremendona (e absurdamente assustadora) quanto a da garotinha Regan, mas a seu favor há o fato de ser inspirada na história real de Anneliese Michel, uma garota alemã que sofreu os mesmos horrores da senhorita Rose, mas nos anos 70. Que meda!

Outro fator favorável é a forma como ele é levado. O trailer passa toda a pinta de um filme de terror. Diabos (literalmente), a história é típica de um filme de terror. Mas na verdade a película é conduzida como um… drama de tribunal! E quer saber? Essa abordagem não apenas funciona muito bem, como eleva a obra acima da média dos últimos – e formulaicos – exemplares de filmes de medo.

Mas não se preocupe, o fator calafrio é bem alto. Fazia muito tempo que eu não tomava sustos de pular da poltrona ou ficava enterrado nela pensando que a sala de exibição estava escura demais pro meu gosto.

Pois bem, o filme começa com a prisão do padre Moore (Tom Wilkinson, o Carmine Falcone de Batman Begins) pelo homicídio culposo (aquele considerado não intencional) da jovem universitária Emily Rose (calma, delfonauta, eu não estraguei nenhuma surpresa, trata-se da primeira cena do filme, além de estar escrito em todas as sinopses) por negligência durante um ritual de exorcismo.

Segundo a promotoria, a jovem apresentava um tipo raro de epilepsia psicótica e o padre contribuiu para sua morte ao aconselhar Emily a parar de tomar o remédio para tal desordem, visto que seu problema era de ordem espiritual. A jovem estaria possuída pelo demônio, ou melhor, por seis demônios para ser mais exato. Haja espaço para tanto bicho ruim dentro dela.

Cabe à advogada de defesa Erin Bruner (Laura Linney, de Kinsey – Vamos Falar de Sexo), que só aceitou o cargo para ser promovida em sua firma, tentar livrar a cara do padre, mesmo achando sua história completamente absurda. Claro, à medida que o julgamento transcorre e os fatos vão sendo apresentados (e coisas bizarras começam a acontecer – tan, tan, taaannnn…) ela começará a questionar se sua visão de mundo agnóstica não estaria equivocada.

O filme deixa a cargo do espectador escolher se Emily Rose era apenas doente e seus espasmos e visões seriam frutos de ataque epilético ou se a garota estava é com o diabo no corpo mesmo. Ele apresenta a velha batalha da ciência contra a religião. Pelo lado da promotoria, o padre é tratado como uma piada, um ignorante que se deixou levar por superstições. Pelo da defesa, a principal questão é: se Emily tinha mesmo a tal doença, por que o remédio que ela tomava não fazia efeito? De fato, ela só piorava. Há coisas que nem a ciência consegue explicar. E como sabemos, num tribunal é preciso haver explicações para tudo.

A ação na corte é entrecortada por flashbacks da triste história de Emily e dos fatos que deflagraram toda essa bagunça. E é aqui que o bicho pega. Sob a possível influência dos seres infernais, a garota se contorce, fala com voz de homem em dialetos arcaicos e apronta outras barbaridades.

As situações apresentadas são menos gráficas que as de O Exorcista (não há vômitos verdes e nem masturbação com crucifixos), mas tão assustadoras quanto. Destaque para o bom e discreto uso de efeitos visuais e do som (praticamente um pré-requisito nos filmes de horror). Mas a maior responsável pelo medão provocado é mesmo Jennifer Carpenter (nenhum parentesco com John Carpenter), a desconhecida atriz que dá vida (e possessão) a Emily. Com um trabalho de linguagem corporal excelente e suas pupilas dilatadas, toda vez que ela manifestava um ataque dos coisas ruins, fazia este pobre jornalista roer as unhas. Só espero que ela não sofra o mesmo destino de Linda Blair, que ficou tão marcada por seu papel em O Exorcista que simplesmente nunca mais conseguiu outro trabalho de destaque a não ser na paródia de seu próprio personagem em A Repossuída (aquele com o tremendão Leslie Nielsen).

Por fim, devo comunicar que nunca mais verei o horário de 3 horas da manhã do mesmo jeito! (para descobrir a razão você terá de assistir ao filme).

Se você gosta de uma experiência cinematográfica do tipo que, após sair do cinema, qualquer barulho esquisito em casa te deixa de cabelo em pé, então O Exorcismo de Emily Rose é a pedida ideal. Depois, só não venha reclamar do prejuízo pelo aumento na conta de luz.

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Alfredo De la Mancha
Alfredo é um dragão nerd que sonha em mostrar para todos que dragões vermelhos também podem ser gente boa. Tentou entrar no DELFOS como colunista, mas quando tinha um de seus textos rejeitados, soltava fogo no escritório inteiro, causando grandes prejuízos. Resolveu, então, aproveitar sua aparência fofinha para se tornar o mascote oficial do site.
o-exorcismo-de-emily-rosePaís: EUA<br> Ano: 2005<br> Gênero: Terror/Drama<br> Duração: 119 minutos<br> Roteiro: Paul Harris Boardman e Scott Derrickson<br> Diretor: Scott Derrickson<br>