Mr. Mercedes

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A essa altura de sua carreira, Stephen King já lançou mais de 50 romances e contou todo tipo de história possível, envolvendo toda gama de personagens. Ou ao menos era o que pensávamos. Afinal, dentro de seu vasto universo literário, o autor deu por falta de um tipo clássico da literatura para chamar de seu: o detetive.

É uma omissão que ele corrige com a criação de Bill Hodges, ex-detetive de polícia aposentado que estrela Mr. Mercedes, o primeiro volume de uma trilogia dedicada ao personagem. É, parece que King gostou mesmo de sua nova criação para dedicar-lhe três livros inteiros.

Seja como for, neste primeiro volume acompanhamos Hodges recém-aposentado. Com muito tempo livre nas mãos e muito pouco para fazer, sua vida logo vai ficar muito mais agitada quando um de seus antigos casos não resolvidos voltar à tona.

Um assassino que matou um monte de gente com um carro (atropelando-os enquanto estavam numa fila para uma feira de empregos) e nunca foi pego entra em contato com Hodges para se vangloriar, para provocar o policial aposentado. Isso é o bastante para fazer Bill conduzir sua própria investigação particular para finalmente pegar o psicopata.

Enquanto isso, o próprio assassino vai voltar a sentir o desejo de matar, e criar seus próprios novos planos para satisfazer sua vontade. King cria um típico jogo de gato e rato entre o detetive e o criminoso, escalando a tensão conforme a história avança.

Uma boa sacada sua foi dividir a narrativa entre Bill e o próprio assassino do Mercedes, intercalando os dois. Desta forma, os capítulos centrados em Hodges têm uma pegada policial, centrando-se mais nos procedimentos investigativos e na psicologia do detetive aposentado que sentia falta da ação, talvez até infringindo as regras para voltar a sentir a adrenalina da caçada.

Já os capítulos do assassino são mais Stephen King típico, com o suspense pairando no ar de que algo terrível pode acontecer em breve graças aos desígnios do sujeito. Uma novidade aqui, contudo, é que o autor insere mais humor negro nestes capítulos, algo até então não muito utilizado por ele em suas obras.

Analisando friamente, o livro está na média dos bons trabalhos de King, ainda que não vá entrar em nenhuma lista dos seus melhores de todos os tempos. Ainda assim, é o tipo de leitura que prende a atenção e te deixa querendo sempre seguir em frente. O autor também é bem sucedido com a criação de Bill Hodges, tornando-o um bom personagem, com problemas relacionáveis e bastante tridimensional, pronto para encarar as outras duas aventuras que o escritor planejou para ele.

Mas enquanto isso, Mr. Mercedes funciona muito bem no que se propõe, tanto apresentar este novo personagem para a galeria de tipos marcantes do escritor, quanto ser uma boa leitura que mistura os gêneros policial e suspense. Sem dúvida um dos bons trabalhos mais recentes de Stephen King.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
mr-mercedesPaís: EUA<br> Ano: 2014 (EUA) / 2016 (Brasil)<br> Autor: Stephen King<br> Número de Páginas: 398<br> Editora: Suma de Letras<br>