Xbox 360

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Surpreso, delfonauta? Pois é, que tal começar as resenhas da next-gen com uma resenha do primeiro console da geração lançado e, até o momento, o único a sair em terras tupiniquins (quase) da forma como deve ser feito. O legal seria se conseguíssemos fazer uma resenha do Wii e do PS3 também, mas isso depende de algum de nós comprar o console ou de um delfonauta que queira compartilhar suas opiniões com a gente, o que não sabemos se vai acontecer, mas vamos nos concentrar no presente. Eu nunca li uma resenha de console antes (nem sei se existem), mas vou tentar fazer um texto bem completo aqui, falando sobre tudo que gostaria de saber quando estava decidindo sobre qual console comprar.

AS PRELIMINARES

Nunca foi tão difícil comprar um console. Para começar, eu lia um monte de coisas assustadoras sobre problemas sem solução, três luzes vermelhas, super aquecimento, datas de fabricação, coolers… AAAAAAH! Me deu saudades de quando, há uns quinze anos, fui de carro até um shopping com a minha mãe para comprar um Master System. Como a vida era simples naquela época.

A grande vantagem de um videogame sobre um computador é justamente que é um aparelho fechado, que vai ficar igual (e atual) por alguns anos, sem se tornar obsoleto duas semanas depois. Só que isso de ficar tendo que ligar o console em nobreaks e comprando coolers é um saco. Para piorar, a tomada aqui de casa é das tradicionais, não tem três pinos, o que me deixa ainda mais preocupado. Todo mundo também falava para ver a data de fabricação e só comprar se fosse fabricado depois de abril de 2006. Mais complicações. Isso tudo me levou até a considerar comprar o nacional pelos absurdos três mil reais cobrados por aqui. Pelo menos tudo seria mais simples. Mas, caceta, é uma diferença absurda em relação ao console importado.

Depois de muito pensar, decidi arriscar e comprar. Consegui encontrá-lo por 1500 reais e me programei para voltar lá uma semana depois. Quando voltei para comprar, o local estava em algum tipo de fiscalização da Receita Federal e todas as lojas do local que vendiam games estavam fechadas. Por que será? Como aparentemente a fiscalização duraria alguns meses, tive que apelar para um plano B e decidi procurar no eBay.

Troquei algumas mensagens com o vendedor, que me disse que a fabricação era em abril. Beleza, vamos nessa. Acabei comprando o bichinho por 390 dólares, mais 85 de frete. Total de 475. Pensei que provavelmente pararia na alfândega, pelo tamanho e peso, mas que mesmo se parasse, o preço não passaria de uns 1600 reais, ainda consideravelmente mais barato que o 360 tupiniquim.

Enquanto esperava o console chegar, já fui até uma loja e comprei o Gears of War nacional. Afinal, precisava de um jogo para brincar quando o console chegasse. Paralelamente, aproveitei que um amigo meu estava vindo dos States e comprei mais seis jogos na Amazon para que ele trouxesse para mim. Agora era só esperar.

O tempo previsto de entrega era de cinco dias úteis. Como comprei em uma segunda, achei que chegaria na segunda seguinte, mas, para minha surpresa, chegou no domingo de manhã. E direto na minha casa, o que significa que acabou saindo por menos de 1000 reais, um terço do valor tupiniquim! Hell, yeah! Deus abençoe a Receita Federal e sua fiscalização na loja onde eu iria inicialmente comprar! 😉

Ainda assim, estava com muito medo. Não tenho nobreak e nem um estabilizador sobrando (o que tenho está ligado no computador) e a tomada que fica próxima à TV está com um filtro de linha lotado, com PS2, receiver, DVD, videocassete, etc. O que fazer? Felizmente, achei uma tomada do outro lado da TV que nem sabia que existia. Peguei um filtro de linha que estava sobrando e liguei só o 360 nele. Pronto. Esse é o máximo que eu poderia fazer.

O MOMENTO DA VERDADE

Dei uma bisoiada rápida no manual para ver se não estava ligando nada de forma a causar uma explosão, coloquei as pilhas no controle e era finalmente hora de ligar meu novo console. Para minha surpresa, o 360 tem algo que é muito legal e muito óbvio, mas que eu nunca tinha visto em um videogame: é possível ligar e desligar o console pelo controle. Ao ligar, todo empolgado, vejo que, mesmo sendo um 360 estadunidense, o menu tinha opção de ficar em português. E não o de Portugal, mas o do Brasil mesmo. Particularmente, prefiro deixar tudo na língua original porque acho que as traduções costumam ser feitas nas coxas e muitas vezes é mais difícil entender o que está nos menus em português do que nos em inglês, mas isso deve ser uma boa notícia para aqueles não versados na língua de Shakespeare.

Criei meu perfil, tudo funcionando perfeitamente. Com medo dos tais superaquecimentos, virei um ventilador na direção dele. Depois de alguns dias, parei de fazer isso, pois ele nunca chegou a esquentar tanto quanto esperava, mesmo depois de horas ligado. Fica, no máximo, morninho. Fucei o menu inteiro, onde tive algumas surpresas que conto depois. Era hora de jogar. Coloquei meu Gears of War e mandei ver. Mas a historinha acaba por aqui. Vamos à analise.

A DASHBOARD

A Dashboard é o programa principal do videogame, como se fosse um Windows do 360. Na primeira vez que você liga o console, vai criar um perfil com suas preferências como, por exemplo, se você prefere marchas automáticas ou manuais em jogos de corrida. O que você definir no seu perfil já deixa todo novo jogo que você rodar adequado automaticamente às suas preferências. Durante esse setup, você também vai escolher se os gráficos serão em alta definição, se o som vai ser em Dolby Digital 5.1 ou PCM Stereo e outras coisas menos importantes. A configuração é bem simples, mas você vai ter que aprender a mexer na Dashboard sozinho, pois o manual do 360 é um dos piores manuais de videogame que já vi, não cobre quase nada das opções, não explica como controlar DVDs de filmes, como copiar coisas para o console, enfim… É basicamente um daqueles Quickstart Guide que costuma vir com eletrônicos para que você brinque logo e leia o manual grandão só depois que já estiver menos empolgado, manja?

Tudo configurado, fui dar uma olhada no resto da Dashboard. Ela tem algumas “abas” diferentes. Uma para Xbox Live, uma para os Games, uma para Media e uma para configurações (onde você pode mexer em mais coisas além das opções escolhidas no guia inicial, então recomendo uma olhada ali antes de começar a jogatina). O 360 faz, basicamente, tudo relacionado ao entretenimento que um computador faz, o que é bem legal.

A de Media foi a que me trouxe mais surpresas. Para começar, o HD (que é divulgado ser de 20 Gb, mas que já vem com apenas 12 Gb livres) vem de fábrica com um monte de conteúdo. Tem um making of do Xbox 360, um outro do filme Titanic (vai saber o motivo) e alguns outros vídeos. Vem também com mais de 10 músicas, a maior parte delas de Rock Alternativo, mas também algumas coisas mais Pop, como New Order. Embora a maior parte das bandas seja desconhecida (pelo menos para mim), achei as músicas bem escolhidas, visto que os nerds estadunidenses costumam gostar mais de Rock Alternativo mesmo. E já que a Microsoft parece conhecer seu público alvo no quesito gosto musical, é ainda mais bizarro vermos que ela incluiu o tal vídeo sobre o Titanic, ao invés de algo sobre o Matrix, por exemplo.

Ainda nessa parte de Media, você pode tocar seus CDs de música, ripar as músicas do CD para o HD ou até mesmo conectar um MP3 Player (via USB) e tocar direto dele. Infelizmente, não consegui copiar os MP3 do player direto para o HD, o que economizaria bastante tempo, já que não precisaria ripar os CDs de novo (já foi um saco ripar uma vez, no computador).

Uma coisa bem legal que é possível fazer é tocar as músicas do HD ou do MP3 Player enquanto você joga. Se você fizer isso, a música do jogo vai ser substituída pela que você escolheu, mas os efeitos sonoros continuam rolando. Isso permite uma liberdade que me agradou bastante, como, em um jogo com músicas chatas, ou sem música, colocar uma que você curta ou, ainda mais divertido, em um daqueles jogos de terror, onde você morre de medo, colocar algo tipo Trem da Alegria e arruinar de vez todo o clima que a desenvolvedora se esforçou para criar.

Por fim, para encerrar a aba de Media, no quesito DVDs de filme, o 360 estadunidense é região 1 (o brasileiro é região 4), o que infelizmente, impossibilita que eu aposente meu DVD Player que é região livre, e isso é essencial para mim, já que muitas coisas que eu gosto de ter não saem no Brasil, então eu tenho discos que são até região 2 e não apenas as regiões 1 e 4 que a maioria dos brasileiros usa. Seria bem legal se houvesse uma forma de abrir o console para as outras regiões como dá para fazer com a maior parte dos players do mercado, mas, pelo que sei, isso não é possível ainda. Se fosse, eu comprava o controle remoto e aposentava meu DVD fácil, fácil. Se bem que é ridículo o fato desse controle remoto nacional custar mais caro do que um player, mas isso é outra história. Quanto menos aparelhos eu tiver na minha estante, melhor.

Para encerrar a análise da Dashboard, na parte de Games, tem a opção “Xbox Live Arcade” que é para jogadores casuais que não querem passar horas imersos em uma história densa. São basicamente jogos simples, que podem ser comprados na Live e baixados direto no HD. O 360 já vem com o jogo Hexic instalado, que é um puzzle na linha do Tetris, onde você tem que juntar trios de peças das mesmas cores. Particularmente, não é meu estilo e já vi puzzles bem melhores, mas quem curte vai se divertir bastante.

Na Live, você pode comprar (ou baixar demos) de clássicos de várias épocas, como Doom, Street Fighter II Turbo, Ultimate Mortal Kombat 3, Frogger e Pac-man ou até de jogos desenvolvidos especialmente para o Xbox 360, mas que têm um climão old-school. Recomendo, principalmente, Clonin’ Clyde, um jogo com gráficos dignos da next-gen, mas cuja ação se desenvolve em um side-scrolling bem parecido com Earthworm Jim, por exemplo. É realmente refrescante jogar um jogo desses, sem frescuras, mas tecnicamente rico e, principalmente, é curioso vermos o quanto um jogo de quase 30 anos atrás, como Pac-man ainda é deveras divertido.

Ah, sim, antes que eu me esqueça, atualizações para a Dashboard podem ser baixadas da Internet. Já existe uma que aumenta a resolução máxima para 1080p, mas que tem dado problemas para muita gente. Eu atualizei aqui e não deu nada errado. Alguns jogos também exigem uma atualização, mas é bem simples. Você coloca o jogo e ele mostra uma mensagem perguntando se você quer atualizar. Se você responder que sim, ele instala e, em alguns segundos, o jogo começa. Você não precisa estar conectado à Internet, mas se não fizer essa atualização, o jogo não roda.

A XBOX LIVE

O cabo de rede que vem com o 360 é muito curto para que eu consiga puxar ele do local onde fica a TV para onde fica o computador (e o modem). Tive que comprar um cabo maior para poder ligar, e tive um trabalhão para passar ele pela casa de modo que não incomodasse ou ficasse feio. Acho ridículo que o console já não venha de fábrica sendo wireless (como o Wii, por exemplo). Você até pode comprar um adaptador para ter essa funcionalidade, mas ele custa quase 100 dólares lá nos States. Aqui não deve sair por menos de 400 reais.

Também é bem frustrante o fato de a Live ser paga. Não é exatamente cara (acho que são 50 dólares por ano), mas ainda assim é paga, e não deveria ser. Por outro lado, justamente pelo fato de ser paga, a Microsoft se esforça bastante para convencer você a pagar pelo serviço e, verdade seja dita, é bem interessante. O console já vem com 30 dias grátis e é bem provável que eu pague depois para continuar jogando online. Mas uma dica: NÃO dê seu cartão de crédito no sistema. Você não tem como alterar ou apagar depois e a assinatura da Live é eternamente renovada, a não ser que você ligue para os EUA para pedir o cancelamento. Só de ligações internacionais, já devo ter gastado mais de 20 reais e ainda não resolvi o problema, então não faça a mesma besteira que eu. Se você quer assinar a Live, compre um daqueles cartões pré-pagos (disponíveis na Amazon).

Quase todos os jogos parecem ter algum suporte online, seja cooperativo, deathmatch, download de conteúdo novo (fases, personagens, etc – dizem que em Guitar Hero 2 será possível até baixar novas músicas e também as canções do primeiro jogo) ou simplesmente um ranking dos melhores do mundo. Alguns jogos, como Project Gotham Racing 3, por exemplo, possibilitam que você corra contra um “fantasma” que repete a corrida recorde, é como se você estivesse correndo contra o cara que fez a corrida mais rápida do mundo. Diz aí se isso não é legal!

Uma outra coisa que achei muito boa, na teoria, mas que na prática não deve funcionar bem se chama Game with Fame. Isso são torneios especiais onde os gamers vão jogar contra pessoas famosas. Imagina você jogar contra o seu ídolo? Ou dar um pau no Christian Bale em um jogo do Batman, por exemplo? Isso, sem dúvida, promete, mas imagino que a fila seja tão absurda que deixe praticamente inviável. Mas vai saber, né? Fazendo uma pesquisinha básica, descobri que tiveram muitos poucos desses eventos até agora, e o único remotamente interessante foi com o Tenacious D, a banda do Jack Black.

Um adendo interessante é que todo jogo tem um sistema de Achievements (conquistas), que são desafios que já vêm com o jogo e, quando cumpridos, dão pontos para o seu perfil. Essa pontuação aparentemente é usada online para encontrar jogadores com o mesmo nível de habilidade que o seu. Sem contar que sem dúvida aumenta o lasting value de um jogo, pois você pode querer jogar muitas vezes para pegar todos os Achievements.

Se você optar por não pagar pelo serviço, você vai poder baixar demos (o que é essencial se você, como eu, não pretende usar jogos piratas), vídeos e coisas do tipo, então algum conteúdo você tem. Sem pagar, você pode fazer tudo que os pagantes, menos jogar.

Quando conectei pela primeira vez à Live, estava com uma conexão de 256 Kbps e, no geral, os jogos rodavam sem lags. Às vezes, em Call of Duty 3, o cara que você matou demora um pouco para cair ou em Need For Speed: Carbon, alguns carros se mexem de forma um tanto errática, mas é melhor isso do que lags. Depois, mudei minha conexão para uma de dois mega e continuou igual, o que significa que não era um problema de velocidade. Agora, em Dead or Alive 4, o lag chega a ser tão forte em alguns casos que impossibilita o jogo (até na conexão de dois mega, mas pode ser um problema do outro lado). É uma pena.

O sistema do 360 automaticamente pára de fazer quaisquer downloads que você esteja fazendo quando conecta para jogar, o que eu acho um desperdício. Se, com 256 Kbps, conseguia jogar numa boa, sem dúvida dois mega é mais que o suficiente para jogar e baixar coisas ao mesmo tempo.

Normalmente os jogos têm duas opções para você jogar online: Player e Ranked. No primeiro, você joga com qualquer um que estiver online, no segundo, o sistema tenta escolher pessoas com o mesmo nível de habilidade e salva as estatísticas. A idéia é ótima, mas na prática não funciona. Provavelmente eles usam a pontuação dada pelos Achievements, o que não quer dizer muita coisa pois, quanto mais jogos você tem, mais Achievements consegue (normalmente, pelo menos metade das “conquistas” de um jogo são alcançadas naturalmente e “sem querer” no decorrer da primeira jogada até o final), o que não significa necessariamente que você é bom neles. E eu sou a prova disso, pois sempre que entro para jogar online, levo um coro de todo mundo. Por isso prefiro jogar cooperativo (depois que essa matéria foi publicada, percebi que essa seleção é feita por “pontos” conseguidos no próprio jogo, não pelos Achievements). 😉

É fato científico de que os melhores jogadores são os nerds de 14 anos e eles são maioria na Live. Como eu já não sou mais um nerd de 14 anos há mais de 10 ciclos terrestres, o único jogo no qual não apanho feio de todo mundo é Need For Speed. Em Call of Duty, por exemplo, eu simplesmente desencano de ganhar a batalha. Se eu matar mais do que morrer, já estou bem feliz, mas até isso é difícil de acontecer. Em Dead or Alive, pior ainda. Se eu ganho um round, já tenho que sair pela casa comemorando, porque eu normalmente perco feio em todas as lutas em que me envolvi. Espero que a Microsoft consiga melhorar esse sistema dos Ranked Matches para que os nerds mais velhos tenham alguma chance de ganhar um ou outro jogo online, ao invés de só levar surras.

Para completar, o sistema também permite que você mande mensagens de texto ou voz (através do headset), faça chats em áudio ou vídeo (se você tiver a câmera do console) e até adicione pessoas como amigos. Aliás, se você quiser me adicionar ou jogar comigo, minha gamertag é Delfiano. Só manda uma mensagem antes para eu saber que você veio daqui, pois eu não aceito amigos aleatórios. 😉

Você também pode fazer reviews das pessoas com quem você jogou, o que é basicamente dizer se você quer ou não jogar de novo com o cara. O que você falar afeta a reputação do dito-cujo e, segundo a Microsoft, isso faz com que os babacas joguem só com os babacas enquanto as pessoas legais jogam com “o resto de nós”. Não sei até que ponto isso funciona, pois até agora só recebi uns poucos reviews (e minha reputação já é cinco estrelas, o máximo permitido). Teve uns caras que quiseram jogar comigo de novo e um que não quis jogar mais porque eu “saí cedo demais”. Mas pô, eu precisava ir almoçar. 😉

Para terminar, você também pode baixar programas de TV e filmes em alta definição. Chamou-me bastante a atenção a venda de Superman Returns em High Definition por uns sete dólares (depois percebi que isso na verdade era um aluguel e você tem apenas alguns dias para assistir), mas aí me toquei que, embora seja mais legal do que o DVD, o arquivo tem uns oito giga, o que ocuparia praticamente todo o espaço do HD, deixando a compra inviável. A Microsoft deveria ter pensado nisso antes e colocar um drive que gravasse DVD-Rs para que pudéssemos deslocar o conteúdo do HD para lá e para cá, o que é essencial dado o conceito da Xbox Live. Aliás, alguns programas de TV têm alguns episódios gratuitos, o que é bem legal, pois você acaba tendo acesso a conhecer coisas que nunca passariam na TV tupiniquim.

Se você está em dúvida se vale a pena se dar ao trabalho de puxar um cabo de rede até o videogame, eu te digo: vale! Mesmo com a conta Silver, você pode se divertir pra caramba com o console, só baixando demos e programas de TV gratuitos e, se você não tiver acesso a isso, vai perder boa parte do que deixa o 360 um videogame tão legal. Só não cometa o meu erro e dê seu cartão de crédito para eles.

O DESIGN

Sem exagero, eu diria que o Xbox 360 é o videogame mais bonito da história. A essa altura, sem dúvida você já o viu em alguma loja e pode ou não concordar comigo, mas eu não me lembro de um console mais bonito. A cor e o formato são bonitas e ele é grande, mas não tanto como eu esperava.

O controle também é um dos mais belos, se não o mais. Os botões coloridos deixam ele bonitão e o formato é bem agradável de se ver, sem contar que o fato de ser sem fio ajuda bastante na estética, pois o console fica sozinho, na estante e o controle fica junto com os outros controles remotos. Ah, sim, e é ótimo ter novamente um controle cujos botões seguem a ordem lógica, como a Sega sempre fez. Em baixo, AB e, em cima, XY. Nada de triângulos e quadrados ou aquela ordem bizarra que a Nintendo costumava usar na época do Nintendinho e do Super Nes, que eu nunca consegui decorar. Como que era? B e X em baixo e em cima, Y e A, ou algo assim? Sei lá… Só faltava a Nintendo colocar o L do lado direito e o R do esquerdo, mas, por algum motivo bizarro, essa inversão ela nunca fez. Só sei que é bem melhor você saber exatamente onde fica um botão sem precisar olhar para o controle, simplesmente porque os nomes dos botões são lógicos. Por causa disso que a jogabilidade da Sega sempre foi melhor e que eu nunca fui muito fã da casa do Mario. Voltando ao 360, só acho que o controle deveria ter seis botões na parte da frente, mas aparentemente, os controles estacionaram com apenas quatro, sabe-se lá por quê.

Tudo bem, o design não é uma categoria essencial ou das mais importantes, mas é bem mais legal você ter um 360 bonitão enfeitando a estante do que um PS2 nojento (que, aliás, classificaria como o console mais feio da história), mesmo que tenha sido um videogame muito legal.

A RETROCOMPATIBILIDADE

Uma das coisas mais óbvias e que mais demoraram para ser implantadas na história dos games é um grande defeito da nova geração. Ao contrário do PS2, onde bastava colocar um jogo de PS1 no videogame e sair jogando, os novos consoles parecem estar tendo sérios problemas com isso.

O 360 roda alguns jogos seletos do Xbox original (uma lista completa pode ser encontrada na Internet) mas, aparentemente, você precisa estar com o console conectado à Live para baixar um emulador específico para cada jogo o que, além de ser chato, ainda exige espaço extra no HD. Ainda não testei isso, pois não tenho nenhum jogo do sistema anterior, mas acho que deveria ser mais simples que isso. É uma pena.

FINALMENTE: OS JOGOS

Chegamos ao principal de todo videogame: os jogos. Afinal, sem bons games, nenhum console pode triunfar. Na verdade, o objetivo aqui vai ser falar principalmente da qualidade técnica que o console é capaz de criar, já que os games devem ser analisados separadamente, uma vez que todo sistema tem títulos tremendões e ridiculamente ruins.

Para começar, acho que é essencial falar sobre o equipamento em que analisei para que o delfonauta tenha uma idéia do que eu vi e ouvi. O console está ligado em uma TV CRT de 29 polegadas, o que significa que estou usando o vídeo normal, não em alta resolução. Por outro lado, o som está ligado a um receiver 6.1, que é mais do que suficiente para o som Dolby Digital 5.1 do console. Os jogos que consegui analisar com calma até o momento foram Gears of War, Dead Rising, Need for Speed: Carbon, Call of Duty 3, Condemned: Criminal Origins, Kameo e Project Gotham Racing 3 e os comentários abaixo são baseados nessa mostra.

Comecemos pelos gráficos. Estava meio receoso nesse aspecto, pois pelas fotos que vi na net e os jogos que vi nas lojas, não me parecia grande coisa. Games como Medal of Honor: Pacific Assault, de PC, me impressionavam bem mais. Porém, títulos como Gears of War (cuja resenha completa sai essa semana) mostram do que o 360 é capaz. Foi o primeiro game que joguei e realmente me senti na next-gen. Os gráficos desse são tão bons que, em alguns momentos, parece até que estamos assistindo a uma animação da Pixar para adultos. Acredite, é impressionante. E isso numa TV normal, imagino a diferença que deve fazer se já tivesse jogado de cara numa LCD de 40 polegadas em alta resolução. Tudo bem que Gears está sendo considerado um dos melhores gráficos da história, então como seriam os gráficos de um jogo mais genérico?

Bom, o único problema visual de Gears, na minha opinião, são as cores meio pálidas, mas isso foi mais uma opção artística do que uma limitação do console, como mostram os coloridíssimos mundos do fofo Kameo. Esse tem aquele visual na linha Sonic e Mario, com mundos mágicos e coloridos e personagens bonitinhos. É da primeira geração de títulos de 360 (lançados há mais de um ano) e mesmo assim impressiona.

Need for Speed é outro que quase parece um filme. Não é tão bom como Gears, mas é, definitivamente, next-gen. A sensação de velocidade dada pelos efeitos de blur é absurda e os carros não só têm modelos perfeitos, como amassam e até ficam riscados, sem falar que refletem a luz e partes do cenário no capô, o que é bem visível se você usar a visão do cockpit. Call of Duty 3 também é muito impressionante. Outros que não joguei tão a fundo, mas que também me impressionaram pelos gráficos do demo, são Fight Night Round 3 e Moto GP.

Outros jogos como Condemned e Dead Rising não impressionam à primeira vista, mas sim quando você presta atenção em determinados aspectos. Condemned, por exemplo, tem personagens feios, meio quadradões e tal, mas a animação e a iluminação são tão boas e tão realistas que deixa difícil você não se impressionar. Dependendo da arma que você usar (como uma marreta, por exemplo), é possível até ver seus inimigos cuspindo os dentes depois de se recuperar de um golpe bem dado.

Dead Rising é bem padrão e parece até um jogo de PS2 mais colorido. Até que você começa a reparar nos detalhes do shopping (dá até para ver a marca dos aparelhos de ar condicionado) e, principalmente, no fato de que você dificilmente verá dois zumbis iguais próximos na tela. E, não raro, você luta com algumas centenas de zumbis de uma vez. Sem falar que colocar tanto personagem na tela ao mesmo tempo sem ficar lento definitivamente não é para qualquer console.

Por fim, Project Gotham Racing 3 foi o único até agora que me decepcionou em gráficos. Definitivamente não tem nada de mais aqui, nada que já não vemos em jogos de PC há alguns anos.

Ah, sim, uma coisa que nunca entendi no PS2, no Mega Drive e nos demais videogames é porque os jogos sempre eram feitos em uma proporção “errada”, que deixava faixas pretas em cima ou embaixo da TV ou, em alguns casos, deixava pedaços da imagem fora da tela (como Two Crude Dudes do Mega). Não é nem que a proporção era widescreen, era errada mesmo. Isso aparentemente foi corrigido aqui. Todos os que joguei ocupam a tela inteira e, imagino que numa TV widescreen deve ser a mesma coisa.

Infelizmente, no quesito gráficos, o 360 tem um problema gravíssimo e, ao mesmo tempo, tão fácil de resolver que é ridículo que mesmo nos jogos mais recentes do console isso ainda aconteça: se você não jogar em alta resolução, muitos jogos ficam com as fontes tão pequenas que deixa bem difícil de ler. Dead Rising é o caso mais grave, pois fica quase não jogável por esse simples detalhe (principalmente porque a maior parte dos diálogos do jogo não são falados e as legendas passam bem rápido)! As letras são tão pequenas que parecem até borrões na tela. Outros jogos, como Gears of War também têm esse problema mas, na maior parte das vezes, o que aparece escrito na tela são botões que você precisa apertar. Como cada botão tem uma cor diferente, você pode deduzir qual é sem enxergar a letra no meio dele. O problema são os gatilhos e botões de cima, que são todos brancos, então quando esses aparecem, você vai ter que espremer os olhos ou pausar e ir buscar uma lupa para entender a mensagem. O mais bizarro é que, nos jogos de PC, as letras ficavam pequenas demais quando você aumentava muito a resolução, não o contrário. Parece até estranho pensar que, no 360, quanto mais baixa a resolução, menor a letra.

Um dos motes publicitários do 360 é a imersão proporcionada pelos jogos. E, muito mais do que os gráficos, uma boa imersão só é possível com um bom surround (e não com aquele Pro Logic nojento do PS2, que era pura enganação) e, nesse ponto, o 360 brilha!

Desde a época do Sega-CD, os sons de videogame já começaram a trazer diálogos perfeitos e trilha sonora gravada por músicos de verdade, e isso não teve grandes mudanças nas gerações seguintes. Contudo, o Dolby Digital 5.1 do 360 impressiona, não apenas pela qualidade cristalina, mas principalmente pelo surround que realmente funciona. Em muitos jogos, chega a ser melhor que muitos filmes, já que a maior parte dos DVDs de filme tem uma mixagem sofrível que carrega nas caixas da frente e deixa as traseiras quase desligadas (o que às vezes me deixa meio frustrado por ter gasto uma boa grana em um receiver).

Condemned é o mais impressionante. O jogo é em primeira pessoa e é possível você descobrir exatamente onde estão os inimigos e outros personagens pelo som. Sem contar que vários efeitos sonoros saem de várias caixas diferentes, contribuindo muito para o clima de terror do game. Outros, como Need for Speed, também são perfeitos. Você sente o barulho do vento passando por você, você ouve o barulho de um carro sendo ultrapassado exatamente como na vida real e, se fechar alguém, vai ouvir a buzina vinda de trás, da forma como deve ser. É possível até descobrir se o rival está tentando passar você pela esquerda ou pela direita pelo barulho do carro e fechá-lo sem nem precisar olhar no retrovisor. É fenomenal.

A única reclamação que tenho do som é que ele se limita a Dolby Digital 5.1 ou, pelo menos, é o que dá a entender na Dashboard, já que o som de todos os títulos é escolhido no setup do videogame, não do jogo. Quem já ouviu o som DTS (principalmente o DTS 96/24) sabe o quanto ele é superior ao Dolby Digital, sem falar que deveria existir a possibilidade de usar as versões 6.1 dos dois sistemas (o Dolby Digital EX e o DTS-ES). Claro que é possível que a Dashboard tenha uma atualização que acrescente essas opções, mas isso não me parece planejado no momento, já que nunca vi ninguém nem sequer manifestar esse desejo por aí.

OS DEFEITOS

É, amiguinho. O 360 tem defeitos sim, e graves. Embora eu não tenha sofrido com superaquecimento nem três luzes vermelhas, o console também não funciona perfeitamente. É bem comum um jogo ser interrompido com a mensagem de que o disco está sujo e não pode ser lido. Você tira o disco e ele está limpinho. Outras vezes, o jogo trava sem motivo, o que nunca aconteceu no meu PS2. Por que isso acontece? Eu não sei, mas é um absurdo e, em alguns momentos, pode gerar acessos de raiva, como no caso de jogos na linha do Dead Rising, onde é comum você ficar mais de uma hora sem salvar (por causa da maldita estrutura de saves do jogo) e pode perder tudo por algum problema estúpido do console.

Outro problema que tenho é com a ergonomia do controle. Tem alguma coisa errada com a parte onde fica a mão esquerda, sobretudo o polegar que mexe na alavanca, pois meu dedo tem doído bastante. Ele já doía no PS2, mas ficou ainda pior no 360. Isso pode não ser um problema para todos (talvez dependa do tamanho da sua mão), mas me incomoda muito e várias vezes tive que parar de jogar por causa dessa dor, o que nunca aconteceu antes com outros videogames.

O controle ainda tem outros problemas menos graves. A vibração, por exemplo, não é tão legal quanto a do Dualshock do PS2 (que foi a única coisa que me impressionou no videogame da Sony quando o comprei). A do 360 é bem mais genérica, se é que você entende. Além disso, no manual do console e na caixa do controle diz que o nível de vibração é ajustável, mas não ensina como fazer isso. Procurando, encontrei apenas na Dashboard a possibilidade de desligá-la, mas não de diminuir ou de aumentar a intensidade, como o manual dá a entender. Para completar, como todo controle sem fio, este utiliza pilhas (duas tamanho AA). O manual recomenda que não se use pilhas recarregáveis, mas não explica o motivo. Diz apenas “para melhores resultados”. Pois então, a pilha que vem com o controle durou alguns dias, acho que cerca de uma semana. Já as recarregáveis duram bem menos. Não raro, menos que um dia. Isso não faz sentido nenhum na minha cabeça, já que, para câmeras digitais, por exemplo, essas mesmas pilhas duram bem mais que as comuns. Vai ver a Microsoft está mancomunada com as fabricantes de pilhas não recarregáveis. De qualquer forma, acho que ninguém mais usa pilhas comuns hoje em dia e é um saco ter que ficar trocando as pilhas do controle quase todo dia. Quando utilizo o headset, é pior ainda, e já chegou ao ponto de ter que trocar duas vezes no mesmo dia.

CONCLUSÃO

O 360 é uma tremenda máquina. Tecnicamente, é realmente muito poderosa e vale muito mais a pena você investir uns mil e tantos reais nele do que uns três ou quatro mil em um PC que vai se tornar obsoleto em uma semana. O triste é pensar que seus principais problemas decorrem de falta de capricho ou de atenção (as fontes pequenas em alguns jogos, os travamentos aleatórios) ou de burocracia imbecil (o problema com o cartão de crédito na Live). E pior, a falha de leitura do DVD aparentemente já era um problema no primeiro Xbox. É ridículo que, tantos anos depois, isso ainda não tenha sido resolvido. Também não gosto de ter que ficar preocupado com o fato de não ter nobreaks ou com a ameaça eterna das três luzes vermelhas. Talvez se a Microsoft tivesse segurado o lançamento por mais um ano e lançado junto com o PS3 e com o Wii, tivesse sido capaz de resolver essas questões e, quem sabe, ter lançado o melhor videogame da história e talvez o primeiro a faturar o Selo Delfiano Supremo.

Infelizmente, o Xbox 360 tem fama de ser um dos consoles mais problemáticos já feitos (onde já se viu ter que olhar a data de fabricação antes de comprar?) e isso sem dúvida vai levar muitos indecisos a ficarem com o Wii. Para os corajosos que decidirem encarar os problemas, provavelmente vão se divertir bastante. Eu, pelo menos, acredito que é uma opção melhor que o PS3 e um videogame complementar ao Wii, cuja sensação de jogar deve ser completamente diferente. E como disse o Fábio Bracht nesse texto, pelo preço do PS3, você compra o 360 e o Wii. E é o que eu pretendo fazer! E você? Vai do que nessa próxima geração?

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
xbox-360Ano: 2005<br> Gênero: Videogame<br> Preco: 2999 o kit nacional e 399 doletas o Premium estadunidense.<br> Plataforma: Duh!<br> Fabricante: Microsoft<br> Versao: Duh 2, a volta dos que não foram!<br> Distribuidor: Microsoft<br>