Pesquisando para esta resenha, descobri que o escritor e diretor Marc Lawrence é o pesadelo de todo homem que se preza: um cineasta especializado em comédias românticas. Não só isso, até agora todos os filmes dirigidos por ele são protagonizados pelo Hugh Grant. Deve rolar um bromance aí.
Isso não é necessariamente ruim, visto que a dupla fez o bom Letra e Música. Por outro lado, eles também fizeram essa porcaria aqui. Virando a Página, a nova empreitada, felizmente pende mais para o lado da primeira opção, ainda que não seja tão bom quanto a comédia romântica onde Hugh Grant era um astro da música esquecido dos anos 80.
Mas a história ainda carrega tintas pop suficientes para chamar a atenção. Desta vez o ator interpreta um roteirista de cinema oscarizado que nunca mais conseguiu repetir o mesmo sucesso. Com a carreira em declínio e as opções minguando, acaba aceitando a contragosto um cargo de professor de roteiro numa faculdade numa cidade pequena.
Claro, o cara só está nessa pela grana e não tem o menor interesse em ensinar. Em seu primeiro dia na cidade já passa o rodo em uma de suas alunas e também não cai nas graças de outra professora, muito influente na instituição. Mas quando conhece outra de suas alunas, mais velha e mãe solteira (Marisa Tomei, a musa de George Costanza em Seinfeld), decide tomar jeito e encarar a nova carreira com seriedade.
Como na maioria das comédias românticas, a história é previsível e bastante clichê, ainda que esta siga pelo viés mais platônico do que de fato abertamente romântico. Contudo, há alguns elementos que ajudam a dar uma graça a mais para esse exemplar.
Claro, o fato de o protanista ser roteirista e discutir a estrutura da escrita cinematográfica é uma, bem como o seleto grupo de alunos de sua classe que rende algumas situações engraçadinhas, como o nerd fanático por Star Wars, a menina artística-deprê e a outra que está escrevendo o roteiro mais banal do mundo.
O personagem do Hugh Grant, que é basicamente o que ele interpreta em todo filme, também funciona, com suas tiradas ácidas e mordazes e aquele perene ar de quem não queria estar ali. Quando assisti, não sabia dessa ligação com Letra e Música e lembro que pensei que ele era uma versão piorzinha, mas ainda razoável, da película em questão.
Agora que sei que eles têm um cineasta em comum, a comparação é mesmo inevitável. Assim, Virando a Página é uma comédia romântica nos mesmos moldes, porém não no mesmo nível de qualidade. No entanto, se você gostou de Letra e Música e quer ver algo nos mesmos parâmetros, desde que não assista com a expectativa lá em cima, pode gostar deste aqui também.