Tróia

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Você gosta de filmes épicos? (Nota do Carlos: Sim!) Mitos da Grécia antiga e seus personagens clássicos? (Nota do Carlos: Sim!) Então Tróia foi um filme feito para você. (Nota do Carlos: IUPI! )

Há muitos anos eu não via um bom filme épico e posso dizer que me surpreendi positivamente com o resultado apresentado aqui. É óbvio que o filme também tem os seus defeitos, mas no geral temos um trabalho bem competente e muito superior ao Gladiador, por exemplo.

A estória é a adaptação para as telas da obra Ilíada de Homero, escrita há quase 3000 anos atrás. No original, temos a narração (em quase 16 mil versos) dos últimos 10 anos da guerra de Tróia originada pelo amor entre Helena, esposa de Menelau (rei de Esparta) e Páris (príncipe de Tróia). Enlouquecido pela fuga de sua esposa com o troiano, Menelau pede ajuda ao irmão, o ambicioso, porém digno, rei de Micenas, Agamenon, para atacar Tróia e capturar Helena de volta.

Na verdade, tudo o que Agamenon queria era uma ótima desculpa para acabar com a incômoda soberania troiana no leste grego e este, então, reúne milhares de soldados de todo o território para atacar os inimigos. Entre os soldados gregos e troianos temos os personagens clássicos como Aquiles, Ajax, Ulisses e Heitor.

Na adaptação para as telonas, algumas adaptações foram necessárias para tornar o filme mais condizente e plausível, sem perder o ritmo da narrativa. Primeiramente, a duração da guerra foi reduzida para apenas algumas semanas. O que pode parecer um ultraje para muitos, acaba sendo uma decisão acertada de Petersen, pois se comprimir uma guerra de semanas à 2 horas e meia de filme já é uma tarefa árdua, imagine comprimir mais de 10 anos de batalhas. E acredite, essa mudança que pode soar tão drástica, não danificou a trama principal.

Em segundo lugar, o lado “mitológico” da Ilíada foi praticamente abandonado para que a guerra pudesse ser vista da forma mais realista possível. Portanto nada de Vênus intervindo nos acontecimentos ou Apolo protegendo os Troianos. Nem mesmo Aquiles é mostrado como um semideus e seu potencial absurdo nas batalhas, na verdade, é um resultado de muito treino e dedicação. O personagem é mostrado como alguém que almeja o reconhecimento e a glória acima de qualquer coisa. Ele nasceu para ser um soldado diferenciado e a guerra é a única maneira possível para que ele alcance seus objetivos.

A grande questão é: quem estava com a razão? Os espartanos por se sentirem traídos por Helena ou os troianos que estavam defendendo seu território da ganância de Agamenon?

Essa oscilação de preferência dos espectadores (hora pelos troianos, hora pelos espartanos) é uma das grandes qualidades do filme, afinal, todos os principais envolvidos na guerra tinham suas próprias razões para estarem ali. Seja por vingança, ambição, amor ou ódio, o filme oferece uma gama tão diversificada de personagens, a maioria explorada muito bem psicologicamente, que você pode optar por quem vai torcer e quem vai odiar. Mas prepare-se, pois assim como qualquer ser humano, todos os personagens têm seus defeitos também. Continua Abaixo…

Infelizmente, dois dos principais envolvidos na guerra acabam sendo extremamente caricatos e não conseguem atingir os telespectadores pelos seus ideais na versão transportada para o cinema: Páris, em uma atuação morna do elfo Orlando Bloom, é mostrado sempre como um covarde e seu amor por Helena honestamente não parece forte o suficiente para se começar uma guerra entre os dois reinos mais poderosos da antiguidade.

Depois temos um Agamenon (Brian Cox) ambicioso demais, sedento da vitória a qualquer preço e totalmente diferente do homem justo idealizado originalmente por Homero.

Outra que não se destaca é Helena, vivida por uma sonolenta Diane Kruger, e que não consegue despertar emoção alguma do público. Para ser honesto nem a sua beleza chama tanto assim a atenção. Vamos lembrar que a Helena original era considerada a mulher mais bela do mundo em sua época e esta beleza foi uma das causadoras da guerra.

Infelizmente o resultado destas atuações é que o romance entre Páris e Helena, que teoricamente seria o argumento principal, acaba jogado para segundo plano dando destaque à rivalidade entre Aquiles e Heitor, estes sim com interpretações dignas do Oscar por Brad Pitt e Eric Bana respectivamente.

Um ator que também chama a atenção é o veterano Peter O´Toole totalmente à vontade como o Rei Príamo, uma pessoa dividida entre a confiança em seus Deuses para a batalha ou a prudência de devolver Helena para os espartanos e, desta forma, evitar um banho de sangue desnecessário.

As cenas de batalha são maravilhosas, mas sofrem de um mal já visto também no Senhor dos Anéis: a câmera frenética procurando a ação do campo de batalha e esquecendo dos pobres espectadores na cadeira do cinema totalmente perdidos em cena, sem saber para onde olhar. O problema só é solucionado quando a câmera foca nos avanços dos personagens principais e, acredite, ver a técnica e os golpes certeiros de Aquiles e a inteligência de Heitor valem cada centavo pago no ingresso do filme.

As famosas cenas do cavalo de Tróia e do calcanhar de Aquiles também são registradas de uma forma incrível e realista sendo mais um ponto positivo.

A trilha sonora de James Horner não é nada demais e lembra muito os cantos femininos de O Senhor dos Anéis. Infelizmente um filme como Tróia merecia uma trilha mais competente.

Apesar de alguns problemas na trama principal devido às fracas atuações de alguns atores e nas visões de Wolfgang Petersen, Tróia é um filme acima da média como há muito não se via e que conta uma estória clássica da humanidade. Assista que você não vai se arrepender.

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