Não dá para negar que a Lara Croft é uma das mais famosas personagens dos games. Ela está para os jogos de aventura modernos (aqueles feitos em gráficos poligonais) como o Super Mario está para os plataformas 2D. Também não seria nenhum exagero dizer que a protagonista de Tomb Raider – A Origem ocupa nos games o papel que nos cinemas é do Indiana Jones.
A heroína já ganhou dois filmes antes, ambos estrelados pela Angelina Jolie e, convenhamos, bem ruinzinhos. Em anos recentes, a série Tomb Raider dos games recebeu um reboot que a revitalizou consideravelmente e rendeu dois jogos pra lá de tremendões (chamados de Tomb Raider e Rise of the Tomb Raider).
Pois a britânica acaba de atingir outra grande conquista: trata-se da primeira série de videogames a receber um reboot no cinema.
SQUARE ENIX
Jogos baseados em videogames, assim como os de quadrinhos décadas atrás, têm uma merecida má fama, pois são obras feitas a toque de caixa só para faturar uns trocados em cima do nome da marca (e normalmente são dirigidos pelo Uwe Boll, o que não ajuda nem um pouco). Porém, mais recentemente, as editoras de games têm seguido o exemplo da Marvel e investido em levar suas próprias franquias para o cinema.
Talvez você já saiba, mas o filme de Assassin’s Creed, aquele que eu diria que bateu na trave, teve participação criativa e financeira da Ubisoft. O mesmo pode ser dito deste Tomb Raider – A Origem. Pois é, goste ou não do que você verá aqui, parte da culpa reside na própria Square Enix.
Finalmente as editoras parecem ter percebido que suas franquias têm um valor enorme que pode ser muito capitalizado em mídias mais populares. Afinal, tem muita gente que não tem habilidade, tempo ou mesmo vontade para jogar videogame, mas todos gostam de uma boa história.
Pois chega de background e falemos do filme propriamente dito.
UMA SOBREVIVENTE NASCE – E SOBE
A história do filme, ao contrário do que eu esperava, é diretamente baseada nos jogos pós-reboot. Se liga. Diz a lenda que a Rainha Himiko (que existiu mesmo), foi sepultada pelo seu próprio povo na ilha de Yamatai por usar de magia negra para fazer maldades malvadas. Sete anos atrás, o papai Croft quis dar uma passada lá para ver se conseguia provar que o sobrenatural existe mesmo. O problema é que a ilha fica num lugar fora de mão no arquipélago japonês e, adivinha só, ele nunca voltou.
A mocinha, no entanto, se recusa a acreditar que o seu progenitor bateu as botas e, ao encontrar algumas pistas, resolve ir até lá para ver o que tá pegando. É, não tem como isso dar errado. Adivinha só, a coisa dá errado. Mas é por aqui que eu paro de contar o filme (e não se preocupe, isso é só a sinopse).
Escolados nos games já sacaram que o McGuffin “Yamatai/Himiko” é o mesmo do primeiro jogo pós-reboot – aquele no qual nasce uma sobrevivente. No entanto, toda a história do pai e da organização Trinity é tirada diretamente de Rise of the Tomb Raider, aquele no qual a Lara Croft sobe.
Quem jogou os games também vai ser agraciado com mimos e, veja só, até spoilers. Entre os mimos, temos diversas referências aos dois jogos mais recentes (e até algumas poucas aos antigos), como o uso do arco e flecha ou a forma que a Larinha escala. Já do lado dos spoilers, tem uma viradinha lá no final que os gamers já vão saber que vem por aí desde que determinado personagem dá as caras, uma vez que a mesma viradinha está em um dos jogos.
GAME X FILME
O filme basicamente conta uma versão bastante simplificada da história contada nos dois jogos pós-reboot. Claro, muito fica bastante diferente, uma vez que estão contando algo que originalmente durava pra lá de 20 horas em apenas duas. Outras não são exatamente diferentes, mas reinterpretadas, e neste caso, o filme sempre sai perdendo.
Um exemplo é a cena em que Lara Croft mata alguém pela primeira vez, que é um dos momentos mais emocionais e mais pesados do primeiro jogo. Aqui é uma cena de ação qualquer, que foi, sim, pensada para ser o primeiro assassinato da heroína, mas que nunca investe o tempo necessário no impacto psicológico feito na protagonista.
Isso não significa que ele seja ruim. Na verdade, ele não falhou em me divertir durante toda sua duração, mas eu considero os games uma mídia superior ao cinema. Tire a interatividade e a possibilidade de desenvolvimento que temos nos jogos e ficamos com um filme de aventura normal.
Tem cenas de ação bacanas, um roteiro pipoca suficientemente interessante e atuações legais. Uma boa decisão foi não ter investido em nomes famosos no elenco. Atores famosos custam caro demais e dá para fazer algo com a mesma qualidade sem rostos conhecidos. No entanto, cenários, efeitos especiais e cenas de ação custam dinheiro para ficarem boas (gosto de tirar sarro de Dogville, que resolveu pagar a Nicole Kidman e daí ficou sem grana para cenários).
Tomb Raider – A Origem claramente não é um filme de alto orçamento, e é inegável que alguns de seus efeitos especiais demonstram isso claramente. Então considero uma boa jogada ter evitado rostos famosos. A cara mais conhecida do elenco, curiosamente, é uma ponta do Nick Frost.
TOMB RAIDER – A ORIGEM
É um filme correto, que diverte bastante e vale o ingresso. Ainda não acho que vai ser o que o X-Men do Bryan Singer foi para os filmes de quadrinhos, mas é uma sessão divertida, capaz de agradar tanto a fãs dos games quanto aqueles que só querem uma boa película de aventura.
A Lara Croft pode ser o Indiana Jones dos games, mas o Indiana Jones do cinema continua sendo o Indiana Jones.