Therion & Mindflow

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Quando eu comecei a criar conteúdo para o DELFOS, em janeiro deste ano, eu tinha dois planos, dois sonhos, que esperava realizar. Um deles era assistir à cabine de Homem-Aranha 2. A outra era ter a oportunidade de fotografar o Therion, banda que conta com um coral ao vivo e, por isso, tem um grande apelo visual e prometia ótimas fotos. Infelizmente, ambos os sonhos foram frustrados. Cheguei até a pensar em não escrever esta resenha afinal, para quê ajudar a divulgar um evento cujos organizadores não acreditam no meu trabalho? Enfim, resolvi fazê-lo em respeito ao nosso seleto público, por achar que é um show que interessa a todos que gostem da boa música. Claro que tenho noção do ponto onde o DELFOS ainda se encontra, mas não deixo de ficar chateado por ter perdido a chance de fotografar uma das bandas que mais gosto. É a vida, mas isso não vai afetar em nada nosso trabalho delfiano. A banda deve vir outras vezes e outros filmes do Aranha serão feitos, e espero que até lá, o DELFOS já esteja com um status mais reconhecido pelas produtoras. Mas chega de falar besteira, vamos à resenha.

Show marcado para as 22:00, chegamos lá pouco depois das 21:30 e a banda de abertura, Mindflow já estava na sua última música. Quem acompanha minhas resenhas, sabe que sou um grande defensor do respeito com as bandas de abertura, que nunca têm a oportunidade de tocar para o público completo, já que são sempre obrigadas a começar antes da hora. Nesse dia, contudo, admito que estava torcendo para isso acontecer, pois estou doente há mais de uma semana e queria mais assistir ao show e voltar para casa. A banda faz Prog Metal e eles pareceram bem simpáticos. Uma resenha mais detalhada é impossível já que ouvi apenas uma música da banda.

Vem o intervalo e às 22:25, as luzes se apagam. Ao contrário da maioria das bandas de Metal, que toca uma longa introdução antes de entrar no palco, o Therion já entrou enquanto o playback da intro de The Blood Of Kingu (que dura apenas alguns segundos) tocava e já começaram com os riffs dessa que é uma de suas músicas mais Heavy Metal. Na verdade, essa música é até Metal demais para os padrões da banda e a parte cantada pelo vocalista Mats Levén (At Vance, veio para o Brasil com o Malmsteen em 1998 e até gravou um CD e DVD ao vivo por aqui com o guitarrista sueco) parece ter gerado algum estranhamento na galera, que possivelmente ainda não conhecia direito os dois discos novos (Sirius B e Lemuria) que haviam saído no Brasil há menos de duas semanas. Porém, quando o coral entrou, lá pelo refrão da música, foi emocionante pra dedéu. Não só pela qualidade musical, mas pela reação do público, que parecia estar aguardando ansiosamente por esse momento e gritaram a aplaudiram tanto que ficou até difícil acompanhar a música, apesar do bom som da casa.

Aliás, no coral,o Therion superou sua última passada pelo Brasil, em 2001. Pois se antes trouxe três cantores (duas mulheres e um homem) e já foi legal, dessa vez trouxeram nada menos que CINCO cantores líricos (três mulheres e dois homens), todos usando aquelas roupas vampirescas tradicionais, dando um belíssimo visual ao show. Quatro deles ficavam no fundo do palco, em degraus, mulheres na frente e homens atrás. A outra cantora (a que fazia os solos) ficava na frente do palco, entre o guitarrista e gênio Christofer Johnsson e o guitarra solo Kristian Niemann. Entre Christofer e o baixista Johan Niemann ficava o vocalista “Metal” Mats Levén (único que não seguia um visual vampiresco, pois parecia um daqueles cantores de bandas norte-americanas, usando várias correntes e tal), que assumiu para si, todos os solos masculinos (até alguns dos guturais, originalmente cantados por Christofer), inclusive os líricos. Atrás de Johan e Mats, ficava o baterista Petter Karlsson.

À The Blood Of Kingu, emendaram mais uma nova, a ótima Uthark Runa, que animou ainda mais a galera com seu coral forte e pesado. Pausa para cumprimentar a galera e já vem uma das minhas preferidas, Seven Secrets Of The Sphinx, faixa de abertura do genial álbum Deggial, que é emendada com mais uma bem pesada, Asgard, do Secret Of The Runes.

A nova Son Of The Sun é a próxima, seguida por In The Desert Of Set, a primeira das poucas cantadas por Christofer nessa noite. Typhon, faixa de abertura do Lemuria, é tocada e, no refrão, originalmente cantado por Christofer, vemos tanto o guitarrista quanto o vocalista Mats cantando de forma gutural, ao mesmo tempo, o que ficou bem legal.

Christofer, então, anuncia que vão tocar essa noite, algumas músicas que nunca foram tocadas antes ou que não são tocadas há muito tempo e a próxima vai ser a primeira delas, e anuncia Crowning Of Atlantis, que foi muito bem recebida, tendo a parte onde todos os instrumentos param e o coral faz sua parte “a capela” como um dos grandes momentos do show. Foi simplesmente de arrepiar. Assim que acabou, eu já queria ver de novo. Draconian Trilogy foi a próxima, que não foi tão bem recebida quanto era de se esperar. Possivelmente, o povo ainda estava embasbacado com a performance do coral na música anterior.

Christofer vai então ao microfone e diz que percebeu no último show que os brasileiros gostavam mais das músicas mais Heavy Metal, então eles pegaram o melhor vocalista da Suécia no estilo para vir cantar para nós (apontando para Mats). Mats também merece seu destaque. Admito que não sou muito fã de sua voz (no quesito agudo e rasgado, eu fico com o Rob Halford e Ralf Scheepers), mas seus predicados como vocalista são inegáveis. O cara alcança notas altíssimas, e o faz impecavelmente ao vivo. Sem contar que ainda manda bem quando se arrisca no gutural e nas linhas mais líricas. Boa escolha do Therion, que agora tem um frontman de qualidade em seus shows, contribuindo ainda mais para o show da banda ser uma experiência inesquecível.

Após esse discurso, não poderia vir outra além de uma música completamente Metal. E lá vem Flesh Of The Gods, que tem originalmente seu vocal gravado por Hansi Kürsch, do Blind Guardian. Essa foi uma das mais empolgantes do show. Seus riffs cadenciados, a presença de Mats, que ficava freqüentemente empolgando a galera com seus “Hey, hey, hey” e até mesmo o coral que, em muitos momentos (no show inteiro, não só nessa música), tinha sua própria coreografia, normalmente envolvendo apenas os braços, mas é mais do que se costuma esperar de um coral lírico.

Outra Metalzona é emendada: Schwarzalbenheim. Essa música me surpreendeu, pois não constava no setlist divulgado pela imprensa especializada há alguns dias. E foi uma bela surpresa, já que a considero uma das mais legais do álbum Secret Of The Runes e senti sua falta quando pensei que eles não a tocariam. Para continuar no Secret, a banda manda Ginungagap, faixa de abertura do álbum, que tem nos vocais masculinos seu principal destaque.

In Remembrance é a próxima, seguida de mais uma bem Metal, Wild Hunt, que tem seus vocais principais originalmente gravados por Ralf Scheepers, do Primal Fear. Sua transição para a voz de Mats foi sem grandes problemas e foi uma das grandes surpresas do show, já que não foi tocada na última passagem da banda por aqui e é uma faixa muito legal. A lenta The Invincible vem a seguir e é incrível a presença de palco dos caras, que batem cabeça até nas baladas.

Christofer anuncia então uma música que nunca havia sido tocada antes dessa tour: Melez, do Lepaca Kliffoth, que foi a única música cantada exclusivamente pelo guitarrista. Enquanto o coral volta ao palco, a introdução de um dos grandes sucessos do Therion é ecoada em playback. Trata-se de The Rise Of Sodom And Gomorrah, possivelmente uma das poucas músicas com um refrão “cante com a gente” feita pela banda. E a galera atendeu ao pedido de Mats, cantando mais alto que o próprio coral. Mais uma dos novos discos, The Khlysti Evangelist é a próxima e também não foi tão bem recebida assim quanto merecia.

Christofer volta ao microfone para dizer que eles vão tocar uma balada que nunca tinham tocado antes dessa turnê. Disse que era de um disco de 96. Perguntou: “Que disco lançamos em 96?”. Nenhuma resposta. Insistiu e alguém gritou “Theli!”. “Sim, nós temos um vencedor”, brinca o guitarrista, que continua “E qual é a balada desse álbum?”. “To Mega Therion!” responde um animal que, ou não sabe inglês, ou não sabe o que é uma balada. Ou os dois é claro. Christofer, já visivelmente constrangido, fala: “Não, To Mega Therion nós tocamos no final. Essa é The Siren Of The Woods” e começam com a longa balada que contou com um dueto entre Mats e a Soprano solo. A música até foi bem recebido no início, mas por ter mais de 10 minutos, acabou esfriando um pouco os ânimos da galera, que realmente parecia estar mais a fim de ouvir as músicas mais pesadas.

E foram atendidos nas duas últimas músicas (antes do bis): mais uma dos novos álbuns, Quetzalcoatl, e uma das minhas preferidas The Wine Of Aluqah, que ficou simplesmente fantástica nessa versão, outro grande destaque do show. Uma curiosidade é que, durante essa música, a guitarra de Kristian quebrou e ele teve de trocá-la, tudo feito de forma muito sutil e, provavelmente, muitos dos presentes nem perceberam o problema.

Após essa música, o coral sai do palco, os “músicos Metal” agradecem a platéia e dão boa noite. É claro que ninguém acredita que o show acabou, pois bis já se tornou algo extremamente burocrático e mesmo que a platéia não peça por ele, a banda sempre volta. Bom, a platéia pediu e eles voltaram, com Cults Of The Shadow, diretamente emendada no grande hit da banda, To Mega Therion, música perfeita para encerrar um show, pois é alegre, divertida e “cantável”. Na verdade, ela é tão cantável, que Christofer não cantou nenhuma de suas linhas, deixando todas a cargo da galera. Em clima de festa, com os presentes extasiados, todos vêm à frente do palco (inclusive o coral), agradecem e dão boa noite.

Pensa que acabou é? Nem. Para surpresa de todo mundo, os cinco membros “metálicos” da banda voltam ao palco e anunciam que as músicas do Therion acabaram, mas que quando um show é muito legal, eles gostam de terminar com algumas covers (balela, eles estão tocando essas covers em todos os shows). Anunciam então Black Funeral, do Mercyful Fate, que animou bastante o público, embora o palco parecesse extremamente vazio sem o coral.

Ao término dessa música, Chistofer começa o riff de Balls To The Wall, do fantástico Accept (leia minha resenha para o show do U. D. O. ). Como eu tinha lido que a última música seria do Motörhead (leia como foi a entrevista coletiva com os caras), fiquei agradavelmente surpreso ao ouvir esse riff, pois gosto bem mais de Accept do que de Motörhead. Infelizmente, Christofer parou no meio e disse que estava apenas brincando. Mats também começou a brincar, imitando a voz de Udo Dirkschneider e mandou muito bem na imitação. Começou então a introdução de Breaking The Law do Judas Priest, seguida da de Fast As A Shark, também do Accept. E em cada uma dessas, eu ia alternando entre feliz, por preferir todas essas a Motörhead e triste, quando eles paravam de tocá-las. Christofer pergunta: “O que vocês querem ouvir?”. O guitarrista é, sem dúvida, um cara simpático, mas eu realmente não gosto desse tipo de demagogia, afinal, a próxima música já estava programada.

E não deu outra, lá veio Iron Fist, do Motörhead, música muito legal mas que, na minha opinião, não se compara às outras que tivemos um gostinho de ouvir. Nessa música, o grande destaque foi Mats, que cantou a música toda como o Lemmy, com a mesma postura (cantando olhando para cima, com o microfone alto) e a voz igualzinha (esse cara deve ser um grande imitador). Iron Fist foi um bom encerramento para o show, mas acho que deveriam ter encerrado com To Mega Therion (pelos motivos que expliquei acima) e ter encaixado esses dois covers no meio do show. Após 2 horas e 20 minutos (enfim um show com duração decente – e sem solo de bateria!), a banda vem à frente do palco, agradece dizendo que foi um grande show, joga suas baquetas e palhetas e deixa o palco, definitivamente.

Posso dizer, sem sombra de dúvida, que o show foi ainda melhor do que a primeira passagem da banda por São Paulo, na mesma casa – e que já tinha sido demais. Um setlist melhor escolhido, mais músicos no palco (eram 10 músicos no total), presença de palco e muita simpatia. O que mais falta em um show de Metal? Claro, para um fã, sempre faltam músicas. Eu, particularmente, senti falta de Three Ships Of Berik, Voyage Of Gurdjieff (The Fourth Way) e Enter Vril-Ya, além da fantástica cover que a banda fez para Summernight City, do ABBA, mas isso é irrelevante, pois é impossível agradar a todos e o setlist escolhido foi realmente inteligente. Christofer deixou o palco com a promessa de voltar ano que vem. Vamos torcer para que essa promessa seja cumprida. E que eu consiga fotografá-los da próxima vez.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
therion-mindflowData: 27 de agosto de 2004<br> Local: Directv Music Hall<br> Cidade: São Paulo<br>