Therion – Les Fleurs Du Mal

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Antes de começar, eu gostaria mesmo era saber o que diabos motivou o Christofer Johnsson, também conhecido como o dono da banda, a gravar esta maluquice. Ele acordou um dia pensando algo como “Ei, sabe o que é que está faltando no mundo? Um disco de Metal de covers de músicas francesas dos anos 50 e 60!”. Não encontrei resposta para isso em entrevista nenhuma e juro que procurei, pelo menos até o limite da notória falta de paciência. O mais perto disso foi o press release que ele fez.

O que eu sei, entretanto, é que o Christofer Johnsson andava mais megalomaníaco que o normal e resolveu escrever uma Metal Opera. Segundo ele, será a primeira “de verdade”. Visto que o sujeito é bem mais versado em música erudita que os Tobias Sammets da vida, não questiono a afirmativa dele. O ponto é, para a banda não ficar parada e para comemorar o aniversário de 25 anos da banda, ele lançou este disco. “Um projeto de arte”, ele disse. Tudo em francês é meio artístico mesmo, né? Croissants são a versão artística do pãozinho por causa daquela firula de serem enrolados e tal, e por aí vai.

A parada foi tão específica que a Nuclear Blast, gravadora da banda desde o Theli, não topou lançar o disco. E isso porque eles sempre acreditaram demais no Therion. O dono da gravadora vendeu o carro para bancar a gravação do Theli. Celebrators Of Becoming, o primeiro DVD da banda, com seus seis discos (quatro DVDs e dois CDs), foi o lançamento mais caro da Nuclear Blast até hoje! Sendo assim, o Christofer Johnsson resolveu pegar um empréstimo e bancar a gravação e lançamento do disco em questão e, por isso, a venda inicial foi apenas online e em shows. Comprei o meu no site da banda, só para constar.

ESCARGOT

A formação da banda é mais ou menos a mesma do último disco, Sitra Ahra. Com todos os defeitos que ele teve, ainda soava como o Therion, até porque, para mim, grande parte da graça da banda é a temática lírica ocultista cortesia do Thomas Karlsson, fundador da Dragon Rouge e amigo do Christofer Johnsson. Como o Les Fleurs Du Mal só tem covers, as letras não têm nenhum significado mais profundo.

Resenhar este disco é o equivalente no jornalismo musical a terminar Battletoads do NES. Afinal, o que dizer sobre um disco de covers de músicas francesas? Fiquei por dias olhando para uma tela em branco pensando o que escrever. Ah, ok, vamos lá. Para quem estiver com preguiça de ler o resto, já adianto que o disco não é tão legal assim, e isso é opinião de um fanboy do Therion.

A resenha começa embaixo deste parágrafo aqui. Queria lembrar que o Therion gravou alguns dos melhores covers da história das bandas de Metal. Entre eles, cito Summernight City que, sozinha, leva nas costas o disco de tributo ao ABBA. E eles ainda fizeram as igualmente ótimas Crying Days (Scorpions), Fight Fire With Fire (Metallica), Seawinds (Accept), Witching Hour (Venom), etc. Ah, e o disco que eles gravaram de covers de música erudita ao vivo: Wagner (velho favorito do Christofer Johnsson), Dvorak, Mozart e etc. Resumindo: eles são muito bons em gravar covers.

COQ AU VIN

Se o delfonauta apertar ‘play’, começa Poupée De Cire, Poupée De Son (os títulos das músicas aparecem nessa resenha por cortesia da fascinante tecnologia conhecida como CRTL+C, CRTL+V). Riff pesadinho, vocais líricos… É, parece Theriônico. A mocinha começa a cantar em francês, mas até que o idioma passa despercebido. Lá pro meio da música tem um riff mais pesado, mas para por aí. Não há um solo legalzão ou coisa assim, e isso será recorrente ao longo da audição.

Une Fleur Dans Le Cœur tem um clima mais interessante. É uma das músicas mais legais do disco, mas evidencia um ponto fraco do Therion novo: a ênfase nos novos vocalistas. Ainda assim, é uma música variada, apesar de ter apenas três minutos.

A banda sempre usou vocais como mais uma parte da sua música, não mais importante que as guitarras, por exemplo. Lá pra época do Lemuria/Sirius B (sim, o DELFOS tem uma resenha independente para cada disco, porque nós não somos preguiçosos) a coisa começou a mudar, mas foi quando a banda teve seus melhores vocalistas. Acho pouco provável que alguém realmente pense que o Thomas Vikström, o frontman atual (e pior vocalista que o Candlemass já teve), seja melhor vocalista que o Mats Levén, que estava na época dos supracitados e do Gothic Kabbalah, e essa ênfase nos cantores enfraquece a música.

Initials B. B. é uma música composta por Serge Gainsbourg em homenagem à Brigitte Bardot que, aparentemente, teve um caso com ele. É uma música bem sexy, embora repetitiva ao extremo. Pode render bons momentos a dois e, se o disco tivesse mais meia dúzia de músicas assim, seria um excelente disco de acasalamento. Um amigo de um amigo meu, digamos assim, já colocou esse disco na hora H e essa faixa fez sucesso.

Mon Amour, Mon Ami muda o clima, sendo uma música mais arrastada e sombria, e é seguida por Polichinelle, que não me diz absolutamente nada enquanto música, e sequer me dá vontade de fazer uns polichinelos.

A próxima, La Maritza, é outra sombria, mas que me chamou mais a atenção que as anteriores. Nada que eu queira ouvir várias vezes seguidas, entretanto. Sœur Angélique é outra que passa despercebida, sem peso ou alguma melodia que chame muito a atenção.

Dis-Moi Poupée é provavelmente a música com mais cara de Therion do disco, provavelmente por causa do vocal do Snowy Shaw. O cara não canta nada, é verdade, mas combinava com a banda. Combinava porque já saiu também. É uma boa música e, se um dia eu fosse montar uma coletânea da banda e precisasse escolher alguma coisa deste disco, seria essa que eu pegaria.

Lilith vai na linha de água de salsicha (aquela coisa que está lá mas que ninguém nota), mas o refrão dela até que é legal. Faz a coisa parecer mais interessante do que é.

FONDUE

En Alabama é a próxima. Passaria despercebida, mas tem um verso nessa música que diz “Sur sa machine, elle embobine le fil hydrophile” (CRTL+C, CRTL+V FTW!), e o vocalista canta com má vontade do mesmo jeito que eu cantaria. Nenhum homem deveria ser forçado a falar francês ao longo de sua vida. Lembro de uma vez ver uma reportagem com um sujeito lá da terra dos queijos e vinhos (acho que ele é chef, o que já é um clichê francês, assim como boinas e bigodes) e o sobrenome era algo como Troisgrois. Eu li exatamente assim, “tróisgrois”, o que causou muitos risos em uma amiga minha. Pô, é pra eu adivinhar que é “troargroar” ou troço do gênero?

Wahala Manitou parece um clichê de música francesa, e não digo isso no bom sentido. Quando você está na décima primeira música e ainda falta um monte delas, ou você está ouvindo uma coletânea do Elvis (o que seria legal), ou tem algo de errado no disco. Muita música nunca é bom sinal.

A próxima se chama Je N’Ai Besoin Que De Tendresse, e chama atenção imediatamente pelos vocais tenebrosos do Thomas. O cara é muito fraco para uma banda como o Therion. Aliás, pensando no nome, imagino alguém no show gritando “Toca Je N’Ai Besoin Que De Tendresse!”. Sem chance. Acho que 99% das pessoas nem sabe pronunciar essas coisas. Eu sei que EU não sei. Sempre que penso em francês, lembro daquele episódio do Laboratório de Dexter quando ele resolve aprender a língua para se sentir mais importante e a única coisa que diz é ‘omelete de queijo’. Ah, sim, sobre a música. É chata mesmo.

La Licorne D’Or é uma balada bonita, mas, a essa hora, eu pessoalmente já me cansei de ouvir coisas faladas em francês e da voz da Lori Lewis. Ela é boa cantora lírica, mas, infelizmente, eu gosto do canto lírico feminino com moderação. Um disco inteiro assim me cansa além do necessário. O Therion nunca precisou apelar para isso.

J’Ai Le Mal De Toi parece ouvir minhas críticas e varia um pouco os vocalistas, coisa bem vinda. Não é a música mais notável do disco, entretanto, o que não é uma coisa muito bem vinda.

O disco fecha com Poupée De Cire, Poupée De Son, a mesma música que abre o disco. Deve ser para dar uma idéia de um conceito começando e terminando, mas para quem escuta fica um tanto cansativo.

A versão vendida pelo site da banda que comprei vem com uma faixa exclusiva, Les Sucettes, cuja única coisa chamativa para mim é a história da música. Aparentemente, o compositor (o mesmo Serge Gainsbourg) escreveu uma música sobre sexo oral (ei, acho que esta é a primeira vez que me refiro a essa prática pelo seu nome cientifíco) e a disfarçou como se fosse uma garota chupando um pirulito, se deliciando quando o “xarope” desce pela garganta e a intérprete France Gall cantou sem sacar a letra. Ah, a inocência de outrora…

Bem, ao longo das várias audições, a minha opinião a respeito do disco mudou. Quando ouvi pela primeira vez, achei interessante. Conforme fui ouvindo mais vezes, notei que é um monte de música junta que não tem muito em comum além da francesice. Nas últimas vezes já ficava impaciente e ansioso para ouvir outra coisa.

Antes de terminar a resenha, preciso falar dos clipes que eles lançaram junto com o disco. Para mim eles são uma piada de mau gosto, já que mostram a banda tocando em um bar pequeno enquanto pessoas fazem coisas que pessoas fazem em bares, inclusive vomitando. Aí me lembro do clipe de Son Of The Staves Of Time ou de Summernight City e a coisa fica ainda pior.

Este é um dos clipes novos:

Este é da época que a banda caprichava mais:

O Therion nunca havia lançado um disco de música de fundo, mas é isso que temos aqui. Como disco do Therion, eu daria um único e solitário Alfredo. Afinal, estamos falando de uma banda que lançou coisas como The Secret Of The Runes, talvez meu disco de metal favorito de todos os tempos. Como disco de covers de músicas francesas, daria cinco dragões vermelhos, mas ei, o que eu saberia sobre discos de músicas francesas para avaliá-lo? E o que dragões têm a ver com a França? Sendo assim, darei minha nota como disco-disco: 2. É uma coleção de músicas muito específica, impossível de recomendar para muita gente, e extremamente limitado na sua proposta.

Um dia talvez saberemos o que o Christofer Johnsson estava fumando quando resolveu gastar dinheiro próprio fazendo isto aqui. Como ele já avisou que a banda só deve lançar algo novo daqui a muitos anos, talvez o efeito do barato passe até lá e a gente ouça algo bem legal de novo.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
therion-les-fleurs-du-malAno: 2012<br> Gênero: Música Francesa<br> Duração: 45 minutos<br> Número de Faixas: 15<br> Gravadora: Independente<br>