Therion em São Paulo (28/9/2007)

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Normalmente as pessoas dizem que o bicho mais estranho da Terra é o ornitorrinco. Eu discordo. Para mim, o bicho mais bizarro do nosso planeta é o assessor de imprensa. Por exemplo, a nossa credencial para o Videogames Live foi negada pelo DELFOS não ter o perfil para cobrir um evento desses. Será que o delfonauta conhece algum outro site nerd com base em São Paulo que tenha entre suas seções fixas música e games? Eu não conheço.

Para a credencial do Therion, esse animal tão estranho fez outra de suas bizarrices: concedeu apenas uma permissão de trabalho para o DELFOS. Isso não é legal porque denota que eles preferem ter o evento em mais veículos com menos qualidade do que o contrário. Mas até aí, tudo bem, o bizarro é que, conversando com alguns colegas, vi que alguns sites muito menores que nós ganharam duas credenciais (fotógrafo e repórter), sendo que o cara levou um amigo para acompanhá-lo, nem ajudante era. Ou seja, teria sido muito mais justo ter dado essa credencial para que o Guilherme, que conhece muito mais da banda que eu, pudesse escrever essa resenha também.

Outra coisa que não me conformo é a velocidade com que as coisas mudam de nome no Brasil. Eu ainda nem tinha me acostumado a chamar o Palace de Directv Hall e agora ele já é Citybank Hall. Com o fechamento do Olympia, isso faz com que a única casa de show de São Paulo que não tenha uma propaganda no nome seja o Via Funchal, que logo deve virar alguma coisa tipo Hooters Hall.

Ao entrar no chiqueirinho dos fotógrafos, constatei que a banda tinha feito mudanças no setlist, pois tinha algumas músicas riscadas e outras novas escritas. Isso é algo que eu nunca vou entender, já que aquilo é impresso poucas horas antes do show, por que mudar de idéia em tão pouco tempo? Ainda mais uma banda como o Therion, cujo som extremamente trabalhado precisa que tudo esteja muito bem ensaiado para sair nos conformes.

Mas vamos ao show. Era pouco depois das 22 horas quando as luzes se apagaram e as cortinas subiram, mostrando o palco sem nenhum dos apetrechos que a banda estava usando nessa turnê. Nem mesmo pano de fundo os caras trouxeram. Um a um, os músicos foram entrando e começaram os primeiros acordes de Mitternachtlöwe, a música de abertura do álbum mais recente, o Gothic Kabbalah.

Na hora da entrada dos vocais é que veio a surpresa. Um a um, eles foram entrando e todos com muita maquiagem e trajando fantasias que lembra aquelas que vemos nas Noites do Terror do Playcenter. Especificamente os que ficavam na direita, Snowy Shaw e Katarina Lilja, se destacavam bastante, pois ficavam fazendo caras e bocas e estavam até bem assustadores. Já os da esquerda, Thomas Vikström e Lori Lewis, eram mais “bonzinhos”. Ele parecia o Dee Snider, vocalista do Twisted Sister e ela, loirinha, era só sorrisos e movimentos suaves, contrastando com sua companheira que ficava se movendo como se estivesse tentando espantar um cachorro. Mesmo os da esquerda, contudo, ainda tinham um jeito malvado, quase como o de um anjo caído, manja? Mais bandas deveriam ter minas malvadas como vocalistas. As cantoras de Metal são sempre sorridentes e meiguinhas. Hum… minas malvadas com… uhn… peixe? Não, eu não gosto de peixe. Já sei, beirute! Isso! Hum… minas malvadas com beirute…

Tudo isso, é claro, era parte do show e foi a principal diferença em relação aos shows anteriores da banda, onde o coral ficava parado no seu canto. Aqui eles aparentemente assumiram as influências teatrais de Alice Cooper e isso, somado à movimentação do coral pelo palco, deixou o show ainda mais divertido.

Na segunda música, a pesada Schwarzalbenheim, Snowy Shaw, o vocalista “mau” apareceu no palco com uma bíblia ou, mais especificamente, um livro que tinha uma cruz na capa. Em boa parte dela, ele ficou apenas carregando o bichinho para lá e para cá, mas em determinado momento, se ajoelhou e ficou cantando como se estivesse lendo algum feitiço no Necronomicon. Uma curiosidade sobre esse cara é que ele já foi baterista do King Diamond, e provavelmente foi aí que aprendeu sua performance teatral.

Agora verdade seja dita, vocalmente falando, Thomas dava um banho em Snowy. A voz de Snowy estava baixa e ele parecia não conseguir acompanhar as melodias – mas admito que não consigo dar certeza se isso era um problema da voz dele ou da equalização do som, que deixou seu microfone mais baixo. De qualquer forma, era um problema que Thomas não tinha. A voz das minas, por outro lado, não tinha grandes diferenças entre elas. O que é inegável é que o casal de vocalistas “do mal” visualmente chamava muito mais a atenção que os outros e sou obrigado a admitir que o show não teria sido tão divertido sem a performance exagerada de Snowy.

Ao final de Schwarzalbenheim, Snowy apresenta Thomas e diz que ele vai cantar a próxima, The Blood of Kingu. Foi uma das poucas vezes em que alguém da banda falou com a platéia, já que no geral era música atrás de música.

Depois dessa, foi a vez de sair do chiqueirinho e nunca foi tão difícil, já que o corredor era estreito e os caras que estavam na ponta não queriam sair. Acabei ficando toda a quarta música Falling Stone tentando sair dali, com um segurança chato me empurrando na direção dos meus colegas. Ao invés de me empurrar, ele instruir os que estavam bloqueando a saída a sair dali, mas brasileiro nunca faz do jeito mais fácil.

Quando finalmente consegui escapar, já era a vez de An Arrow From The Sun e só aí fui perceber como o Palace (ou seja lá como você queira chamá-lo) estava vazio – devia estar com cerca de 50 a 60% de sua lotação e era possível ficar relativamente perto do palco de forma confortável. E isso é mais absurdo ainda quando você lembra que eles nos deram apenas uma credencial, já que tinha espaço de sobra para o Guilherme caber ali.

A próxima faixa, de acordo com o setlist dado para a imprensa no dia, seria The Klyhsti Evangelist, mas ao invés disso, pularam ela e tocaram a tremendona Deggial, emendada com a minha preferida, a alegrinha Wine of Aluqah, que ficou sem o pianinho assustador do começo, mas que teve Snowy Shaw conclamando a galera a cantar “hey, hey, hey”, o que ficou bem legal e contribuiu para o clima True Metal do inferno inerente à música.

E já que falamos em pianinho, acho que está mais do que na hora de o Therion colocar um tecladista na sua formação de turnê, já que é um instrumento que eles utilizam bastante e um músico para cuidar dele poderia, também, cuidar dos samplers de orquestra.

A próxima, Perenial Sophia começa apenas com a banda e Katarina Lilja (a “malvada”) no centro do palco. Logo, Snowy volta, sem camisa e com uma ombreira ou sei lá como aquilo se chama. Seja como for, foi impossível conter a risada ao olhar para ele daquele jeito e ele ficou com essa vestimenta até o final do show. Ele chega encoxando Katarina e os dois fazem um belo teatrinho no dueto dessa música.

Após uma música mais intimista, nada como algo mais comercial e Son of The Sun e seus “ô-ô-ôs” foram a próxima. Durante essa música, a loirinha Lori Lewis cumprimenta a galera da primeira fila, sempre estampando seu sorriso mezzo-meigo-mezzo-assustador.

A próxima música seria Son of the Staves of Time, mas não foi. Aí eles incluíram mais uma, que pode ser a The Klyhsti Evangelist que tinha sido deixada de fora, mas tenho que admitir que não tenho certeza. Se você souber, deixa aí nos comentários.

Depois da incógnita, veio a própria Son of The Staves of Time, durante a qual Snowy pegou um pandeiro e Thomas, o vocalista “do bem” apareceu com uma capa à Conde Drácula. Thomas aproveitou um dos poucos momentos em que chamou mais a atenção que Snowy para apresentar a próxima música, Birth of Venus Illegitima, que seria a última a ser apresentada neste show. Durante essa música, as garotas ganharam destaque, fazendo movimentos sensuais. Lori, com seu jeito de anjo malvado inocente enquanto a outra já era mais explícita, mais capetinha mesmo.

Seven Secrets of The Sphynx veio a seguir. Essa é a música que eu gosto de mostrar para as pessoas que não conhecem Therion, pois acho que ela representa bem a banda. Há alguns meses, mostrei-a para o Cyrino e ele ficou morrendo de medo, aliás. A próxima foi Tuna 1613 (será que 1613 foi uma boa safra de atum?), durante a qual Snowy deu o microfone para o guitarrista, compositor e antigo vocalista Christofer Johnsson, que cantou um trecho com sua tradicional voz gutural.

Depois disso, viria o famigerado solo de bateria, que começou da forma de sempre, mas que depois, por incrível que pareça, ficou divertido, pois os vocalistas homens voltaram ao palco com tambores e se alternavam com o baterista Peter Kärlsson nas batucadas. Acredito que foi a primeira vez que eu me diverti em um solo de bateria, mas seria muito mais legal se tivessem aproveitado esse tempo para colocar outras músicas que todo mundo sentiu falta, como Flesh of the Gods ou Enter Vril-Ya.

A curtinha Muspelheim veio a seguir. Nessa, Katarina voltou ao palco com um chicote ou algo do tipo e foi disputada pelos dois vocalistas homens. A próxima foi o hit Rise of Sodom and Gomorrah, durante a qual Snowy conclamou o público a pular – e a galera, é claro, obedeceu.

A bela Ginungagap (erroneamente chamada de Ginnugagap nos setlists) estava na fila e nela os vocalistas homens voltaram a demonstrar que poderiam fazer parte do Olodum com suas habilidades batuqueiras. A ela se seguiu uma grande surpresa, Grand Finale, do álbum Theli, que nada mais é do que uma faixa instrumental.

Eram 23:37 quando a banda saiu para a enrolação tradicional que vem antes do bis. Logo, a loirinha volta sozinha e pergunta com o maior jeitinho meigo “You wanna hear more?”. A platéia, então responde: “Não, já foi o suficiente. Nos vemos depois”. É óbvio que estou brincando, mas seria engraçado, não seria?

Enfim, a baladinha Lemuria seria a primeira do bis e nela, Thomas assumiu uma terceira guitarra. Essa música é uma das minhas preferidas da banda, mas admito que ela não funcionou tão bem ao vivo. Outra que não ficou tão legal foi Wand of Abaris (durante a qual Katarina assumiu um pandeiro), dando para esse início de bis um clima bem morno.

Esse clima logo se dissipou com a próxima, a animada Cults of the Shadow, que teve até uma performance bem humorada dos vocalistas homens, que chegaram a dançar de braços dados durante seu solo.

O grande sucesso da banda seria a próxima, a fofa To Mega Therion. Essa música é curiosa, pois sua letra é uma das mais satanistas que já ouvi e, ao mesmo tempo ela é alegre e positiva, quase como uma celebração. Acho isso bem legal, já que a maioria das bandas, quando falam sobre esses assuntos, gostam de deixar as músicas assustadoras e de passar a idéia de que satanistas são sempre mal-humorados, o que é claro que não é verdade. O Therion não é exceção nesse aspecto (embora eles falem mais sobre assuntos místicos do que propriamente satanistas), mas essa música tem um clima tão positivo que chega até a lembrar bandas do naipe do Helloween.

Os vocais Death de To Mega Therion, originalmente feitos pelo próprio Christopher, aqui ficaram a cargo dos vocalistas homens, que não utilizaram vozes guturais, mas que, para ser sincero, não fez muita diferença. O que fez diferença, contudo, foi que cortaram a parte mais fofa da música, onde o coral canta “lá-lá-lá”. A meu ver, tem que ser muito macho para colocar “lá-lá-lá” em uma música de Metal, mas aparentemente os caras não são machos suficientes para tocar isso ao vivo. O curioso é que, se bem me lembro, essa parte foi tocada nos dois shows anteriores que o Therion fez em nossas terras.

Novamente, a banda sai do palco para uma nova enrolação. Logo, Snowy Shaw entra no palco e começa a dar bronca em um sujeito que estava com camiseta do Manowar. “Por que você vem com camiseta do Manowar para um show do Therion?”, pergunta ele, logo emendando, “Tudo bem, porque agora a gente vai tocar uma música do Manowar” e emendam a divertida Thor The Powerhead.

Embora essa música já tivesse sido gravada pela banda (com vocais de Ralf Scheepers, do Primal Fear) e estivesse até divulgada nos setlists, ela parece ter surpreendido muita gente, provavelmente os fãs mais novos que ainda não tinham ouvido a interpretação do Therion para ela.

Em determinado momento, aliás, o baterista Peter Kärlsson assumiu os vocais e, durante o solo de guitarra, Snowy lambeu a orelha (!) do guitarrista Kristian Niemann. Os vocais principais dela ficaram a cargo de Snowy, que até se dava bem nos momentos em que ela exigia gritos, mas nas partes mais melódicas, ficava bem feio. A meu ver, teria sido uma decisão melhor se Thomas a tivesse cantado. De qualquer forma, é muito fácil agitar o público com uma música do Manowar e foi exatamente isso que aconteceu, um grande final para um grande show.

Depois dela, Christofer pega o microfone pela primeira vez para dizer que é sempre bom tocar no Brasil e que essa noite não foi exceção e se despede de todos. Enquanto isso, Snowy cospe água na platéia. Pelo menos dessa vez eu estava longe. Eram 00:10 quando a banda deixa o palco, após cerca de duas horas de show.

No caminho para o carro, ouvi um cara falando que o show foi meia-boca, mas que o cover do Manowar compensou. Isso é muito estranho, já que, por pior que seja o concerto, dificilmente os fãs de Metal (que via de regra são estupidamente fanáticos) parecem ter senso crítico para perceber isso. Mais curioso ainda é o cara ter falado isso depois de um que foi bem legal, mas aí é a minha opinião e é claro que o cara pode discordar.

Em comparação com o show anterior, da turnê de Lemuria/Sirius B, o setlist desse não foi tão legal, mas isso foi compensado por uma performance mais teatral, sobretudo por parte do coral. É a terceira vez que vejo o Therion ao vivo e acredito que foi a primeira onde o líder Christofer não era o centro das atenções. Afinal, ele mal falou com o público. Particularmente, gostei mais do show anterior porque lá tocaram mais músicas que eu gosto, mas ainda assim, este show foi muito bom e está, sem dúvida, entre os melhores do ano.

Independente de opiniões sobre o setlist, ver o Therion ao vivo é algo que todos deveriam fazer, já que se trata de uma banda completamente diferente. Não é sempre que podemos ver um show de Rock com oito pessoas no palco, quatro delas vocalistas, e ainda maquiados e extremamente performáticos. Mesmo que você não goste de Metal ou até de Rock, se você é simplesmente um fã de boa música ou de grandes shows, não deixe de assistir aos caras em sua próxima turnê. Você não vai se arrepender.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
therion-em-sao-paulo-2892007Data: 28 de setembro de 2007<br> Local: Citybank Hall<br> Cidade: São Paulo<br> Credito do Artigo: carlos@delfos.jor.br<br> Credito da Foto: Carlos Eduardo Corrales<br>