Se a proposta do selo Terra Um é recontar as origens dos heróis da DC para um público casual, fisgando-o para seu universo de superseres coloridos, é no mínimo estranho que, após abrir a linha com o Superman, tenham decidido lançar um novo volume com o personagem, continuando essa saga alternativa.
Eu até gostei do que J. Michael Straczynski e Shane Davis fizeram no Volume Um, o que não quer dizer que eu estivesse ansioso por ler mais sobre essa versão do Superman. Ainda assim, decidi dar uma chance a essa continuação e o resultado foi uma mistura de cômico com o puro e simples “nhé”.
Continuando do ponto onde o volume anterior parou, Clark tenta se firmar no Planeta Diário após ter “conseguido” a exclusiva com o Superman. Ao mesmo tempo em que começa a construir sua vida em Metrópolis, também terá de enfrentar seu primeiro supervilão, o Parasita, ser capaz de drenar as energias do azulão, deixando a briga mais equilibrada.
A história em si é bem genérica, nada que já não tenha sido feito antes nos títulos mensais do personagem. Até a escolha do vilão é pouco inspirada. Se é assim, por que empacotar uma trama tão mundana em uma linha de histórias que teoricamente deveria fugir justamente do lugar-comum? A queda de qualidade entre os dois volumes é bastante drástica.
Straczynski lança conceitos, mas alguns ele não chega a concretizar e em outros obtém resultados infelizes. Lois Lane, relegada a segundo plano no tomo anterior, aqui parece que vai ganhar uma importância maior ao investigar o passado do “certinho demais para ser verdade” Clark Kent e descobrir que ele passou boa parte de sua vida tentando não chamar atenção. Poderia ser uma boa subtrama que poderia colocá-la no caminho para descobrir a identidade secreta do azulão, mas isso nunca acontece e logo essa história é deixada de lado e Lois novamente não tem importância nenhuma.
O escritor também se estrepa ao confrontar o Superman com o dilema de se meter ou não em problemas internacionais, quebrando uma espécie de regra não escrita do personagem, de nunca envolvê-lo em problemas que espelhem a geopolítica real, pois isso alteraria demais seu mundo fictício, distanciando-o completamente de nosso mundinho real, que as HQs de super-heróis costumam simular.
Quem não quiser saber nada da trama, melhor pular esse parágrafo, pois ele conterá leves spoilers. Não só o Superman quebra essa regra, como basicamente apóia um golpe de estado, podendo até ser cúmplice de um assassinato político. Ou, no mínimo, foi negligente ao largar um general ditador cercado por insurgentes. Será que o inocente herói não conseguiu imaginar qual seria um dos resultados muito possíveis? Ok, a revista não sugere exatamente uma morte, e pode ser mesmo que ela não tenha acontecido, mas pela forma como a cena acaba, não é um absurdo imaginar isso como algo bastante provável. O Super-Homem clássico jamais agiria dessa forma.
E assim chegamos à questão que ninguém queria saber, mas Straczynski respondeu mesmo assim: sim, essa versão do Super-Homem é virgem. J. Michael leva a sério aquele clássico diálogo do Barrados no Shopping sobre a vida sexual do Homem de Aço e aqui cria sua própria versão com resultados pateticamente hilários.
Em um flashback, Jonathan Kent tem “a conversa” com um jovem Clark, explicando que, por sua diferença de fisiologia, talvez ele não consiga controlar certos espasmos involuntários de seu corpo e que isso talvez possa ser perigoso para suas potenciais parceiras. Trocando em miúdos, papai Kent diz a Clark que se ele ejacular, há grandes chances de partir a mina ao meio. Hum, talvez o velho não conhecesse a velha técnica de tirar antes…
Seja como for, Clark leva uma existência celibatária e para deixar tudo ainda mais vergonhosamente engraçado, o escritor introduz (sem trocadilhos) uma vizinha gostosa e bem soltinha na vala para Clark, deixando o azulão com bolas da cor de seu uniforme. Tudo isso é tão ridículo que acaba conferindo uma bela qualidade de besteirol a um trabalho que até então não tinha nada de destaque.
Não era a intenção, mas é melhor do que nada. No mais, também achei que os desenhos de Shane Davis, os quais nunca achei grande coisa, pioraram em relação à HQ anterior, estando ainda mais genéricos. Mas ei, pelo menos está de acordo com o tom geral dessa história.
Pode até ser que quem gostou do primeiro volume encontre algo de aproveitável por aqui, mas definitivamente Superman: Terra Um Volume Dois não é uma leitura que vai agradar a leitores habituais do personagem. E também não creio que vá ser ela a converter novatos a fãs do super-herói.
CURIOSIDADE:
– A saga, no entanto, continua. O terceiro volume já foi lançado nos EUA, ainda com J. Michael Straczynski no roteiro, mas com Ardian Syaf substituindo Shane Davis nos desenhos.