Superman – O Retorno

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Resenha de Superman: O Legado das Estrelas – Uma nova garibada nas origens do azulão.
O Último Vôo do Super-Homem – Uma homenagem delfiana a Christopher Reeve
As Aventuras de Jerry Seinfeld e Super-Homem – Um encontro inusitado, mas divertido.

Foram sete longos meses de espera. Pois é, no dia 1º de janeiro deste ano minha resolução de ano novo foi “conferir Superman – O Retorno logo que estrear”. Para minha sorte, graças ao trampo no DELFOS, pude vê-lo ainda antes do dia 14 de julho. Eu já disse que adoro o meu trabalho?

Assim como o Corrales falou em sua resenha de X-Men: O Confronto Final que o filme dos mutantes equivalia para ele ao Episódio III deste ano, para mim, o retorno do azulão às telonas é que ocupava esse papel.

Mas fora a ansiedade havia também medo. Medo que começou quando li as primeiras sinopses a respeito da produção. Continuidade com Superman I e II? O Homem de Aço longe da Terra? Lois Lane com um filho? Um triângulo amoroso entre Lois, Superman e Ciclope? Isso não parecia nada bom. Aí, quando saíram os trailers, pensei que se a história fosse uma porcaria, ao menos as cenas de ação prometiam ser as melhores do ano, o que salvaria a produção de um fracasso total. E no fim, Bryan Singer merecia um voto de confiança pelos excelentes serviços prestados à franquia dos mutantes. À medida que a data de conferir a película se aproximava, voltei a me animar e passei a acreditar que dali poderia sair sim um filme realmente bom.

E, cara, quando as luzes do cinema apagaram e a tremendaça música-tema de John Williams começou a ecoar pelas caixas de som, fiquei arrepiado. Senti-me novamente com nove anos de idade, quando assisti a Superman II (sim, eu vi este antes de Superman – O Filme) pela primeira vez e acreditei que um homem podia voar. O Super-Homem havia de fato retornado, e numa produção de primeira, que me deixou de boca aberta e feliz por ter dado aquele voto de confiança ao sr. Singer. Mais uma vez, ele conseguiu na mesma obra agradar a fãs dos quadrinhos, dos filmes do Christopher Reeve e leigos em geral, deixando uma nova franquia prontinha para ganhar mais capítulos.

Bom, a essa altura a trama do filme já não é nenhuma novidade, pelo menos não para o sempre informado delfonauta, mas caso você tenha ido para Krypton nos últimos meses, eis aqui a popular sinopse: Superman decidiu ver com seus próprios olhos se seu planeta natal havia sido mesmo dizimado. A viagem de ida e volta durou cinco anos, e nesse tempo o mundo seguiu em frente e aprendeu a viver sem o Homem de Aço.

Assim, quando Kal-El retorna, tudo está diferente. Inclusive sua amada Lois Lane, que o esqueceu (ou não), teve um filho e está noiva do Scott Summers, ou melhor, de Richard White (James Marsden), sobrinho gente boa de Perry White, o editor-chefe do Planeta Diário.

Enquanto Clark tenta entender que diabos aconteceu e lidar com seus sentimentos por uma mulher comprometida, o maligno Lex Luthor, saído da prisão, aplica um golpe do baú e usa sua fortuna recém-adquirida para novamente botar em prática seu plano bizarro de ser o maior proprietário de terras do mundo (ele não sabe os problemas que teria com o MST se isso fosse aqui no Brasil). Para isso basta dizer que ele põe as mãos nos cristais da Fortaleza da Solidão. E novamente detê-lo será um trabalho para o Super-Homem.

Agora que você está por dentro da história, vamos ao que interessa: a análise da película. Antes de tudo, é preciso considerar Superman – O Retorno, não exatamente como uma adaptação fiel das HQs, mas como continuação direta dos dois primeiros filmes estrelados por Christopher Reeve, feitos em 1978 e 1980, o que ele de fato é, embora certas coisas, como Lois conhecer a identidade secreta do Super, tenham sido desconsideradas. Aliás, recomendo que você reveja estes dois filmes antes de encarar uma seção de O Retorno.

Tanto é uma seqüência que o diretor Bryan Singer optou por manter uma unicidade visual entre os três filmes, o que começa já nos créditos iniciais e acaba de forma belíssima na última cena. Além disso, ele se vale de uma cenografia que mistura o novo e o velho. Por exemplo, a redação do Planeta Diário é toda em art déco, remetendo aos anos 40, mas há inúmeras TVs de plasma no local. Já a Fortaleza da Solidão é absolutamente igual aos filmes anteriores, o mesmo design foi utilizado e os cristais que a controlam são um ponto chave da trama. Nos figurinos essa fusão é ainda mais clara. Clark não chega a usar chapéu, mas Jimmy Olsen continua com sua indefectível gravatinha borboleta, e não ficou ridículo! Essa mistura entre moderno e antiquado cria uma atemporalidade muito bacana.

E até a trilha sonora é basicamente a mesma. Fora a música-tema, as outras peças compostas por John Williams para o azulão também estão presentes. As poucas músicas originais, da autoria de John Ottman, apenas se limitam a remeter às melodias de Williams.

A película é, acima de tudo, uma história de amor. É praticamente um romance com superpoderes no meio. Mas não entenda mal, ação é o que não falta. A cena do avião já é a melhor do ano, mas as partes onde Superman não está salvando o dia são igualmente emocionantes, mantendo o mesmo ritmo do começo ao fim.

OK, se eu fosse o roteirista, nunca daria um filho para Lois Lane, mas diferente de meus piores temores, essa trama não estraga o filme e faz todo o sentido para a história, além do potencial para gerar infindáveis discussões no mundo nerd. Mas se por acaso decidissem matar o fedelho numa eventual continuação, eu é que não ia reclamar. E o triângulo amoroso também funcionou bem. Richard White é um cara legal, então não dá pra torcer contra ele. Por outro lado, seu adversário é praticamente um deus. Clark sabe que poderia esmagar sua cabeça com dois dedos se quisesse, mas tem de se conformar. E com o uniforme de Superman, ele até que não é tão bonzinho assim e ataca Lois com seu supercharme a todo instante, deixando a situação difícil para ela. Dá-lhe, azulão safadinho.

Os efeitos especiais estão de cair o queixo. Quando o Super levanta vôo, eu realmente voltei a crer que um homem pode voar. Todos os poderes dele foram muito bem reproduzidos e as duas grandes seqüências de ação da produção, a já citada cena do avião e a parte onde Luthor realiza seu plano, são impressionantes e grandiosas. É pra ver na tela grande, mesmo.

Claro, alguns irão dizer que há muitos elementos “forçados” no filme (tipo um assaltante de banco com uma metranca giratória), mas o Superman sempre foi um herói muito mais fantasioso do que o Batman, por exemplo. As histórias do Cavaleiro das Trevas exigem mais realismo. Já para o Superman, sempre acreditei que quanto mais fantástico melhor. Aí, mesmo pequenos absurdos como o citado entre parênteses passam numa boa. E no fim, essa cena acaba sendo um verdadeiro clássico dos quadrinhos.

Bryan Singer mais uma vez soube se apropriar dos elementos certos da fonte original e desenvolver uma obra com a sua cara e as adaptações necessárias. E ainda homenageou os dois filmes clássicos. Não foi preciso apagar tudo e começar de novo como em Batman Begins. Desta vez deu pra conciliar os filmes anteriores (Superman III e IV ficaram de fora, pois esses não merecem mesmo nenhuma recordação. Smallville também não tem nenhuma ligação com O Retorno, ainda bem) e deixar a franquia pronta para possíveis continuações.

O Retorno é um filme de reapresentação do personagem. Sua origem já fora contada na produção de 1978, então o máximo que há é um flashback (de Clark descobrindo que pode voar) e a tão falada participação póstuma do Marlon Brando como Jor-El. Aliás, Brando aparece pouquíssimo, mas as falas reutilizadas por Singer servem para ressaltar quem é o Superman e o que ele representa.

E como o protagonista, Brandon Routh fez um excelente trabalho. Em nenhum momento ele tenta emular Christopher Reeve, algo que seria suicídio. Ele encontra seu próprio estilo e tanto como Clark quanto como Superman, emana uma certa aura de tristeza e desajuste, típicas de quem ainda não encontrou seu lugar no mundo. Christopher Reeve nunca será esquecido como o Superman mais perfeito a aparecer em outra mídia que não os quadrinhos. Mas se houverem outros filmes com Brandon Routh, ele pode muito bem ser lembrado futuramente ao lado de Reeve, pois não deixou nada a dever.

Outro que mandou muito bem foi Kevin Spacey. Seu Lex Luthor não é mais o pateta engraçadinho e caricato interpretado por Gene Hackman. Sim, ele ainda tem senso de humor e anda por aí com uma assistente espalhafatosa, mas agora está muito mais insano e malvado. E lá no final, quando fica frente-a-frente com o kryptoniano, até assusta com sua crueldade.

O Jimmy Olsen de Sam Huntington garante boas risadas, sendo muito melhor que seu antecessor e Perry White (interpretado pelo veterano Frank Langella), que nunca teve o mesmo carisma de um J Jonah Jameson, também está bem legal e manda até um tradicional “pelo fantasma de César” a certo momento.

O único “porém” é Lois Lane. Embora Kate Bosworth tenha capturado bem o espírito da personagem, ela é simplesmente jovem demais para o papel. O Corrales até brincou dizendo que ela teve o filho aos 11 anos, e parece mesmo. Com essa carinha de menina fica difícil de acreditar que ela seja uma repórter vencedora do prêmio Pulitzer e mãe de um pimpolho de cinco anos. Eu chamaria a Teri Hatcher, que é mais velha, mais bonita, e foi quem melhor interpretou a Lois, no seriado Lois e Clark: As Novas Aventuras do Superman. Mas isso não chega a comprometer o filme e ela consegue uma boa química com Brandon Routh.

Eu realmente me surpreendi positivamente com esse filme. Não esperava que ele pudesse ser assim tão bom, mas desde os primeiros minutos consegui entrar no clima da história e me diverti à beça. Seus 154 minutos passaram mais rápido que uma bala e me deixaram com vontade de mais. Quando o Superman entra em ação pela primeira vez, ao som de sua música-tema, me emocionei do mesmo jeito como quando ele aparece pela primeira vez em Superman – O Filme e resgata Lois e o helicóptero. A diferença é que antes eu era uma criança e agora sou um marmanjo de 24 anos que viu filmes demais e já não é tão facilmente impressionável. Portanto, conseguir causar a mesma sensação não é para um filme qualquer.

Se isso já não é motivo suficiente para merecer um Selo Delfiano Supremo, então eu não sei o que é. Superman – O Retorno é uma produção de encher os olhos, divertida, emocionante e capaz de trazer de volta a criança dentro de você, aquela que tem vontade de acreditar. Para mim, o ano cinematográfico acabou aqui. Com certeza vou rever este filme mais algumas vezes e aguardar ansioso pelo seu lançamento em DVD. Convencido? Então porque você ainda não foi ao cinema? Para o alto e avante!

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Nota
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Alfredo De la Mancha
Alfredo é um dragão nerd que sonha em mostrar para todos que dragões vermelhos também podem ser gente boa. Tentou entrar no DELFOS como colunista, mas quando tinha um de seus textos rejeitados, soltava fogo no escritório inteiro, causando grandes prejuízos. Resolveu, então, aproveitar sua aparência fofinha para se tornar o mascote oficial do site.
superman-o-retornoPaís: EUA/Austrália<br> Ano: 2006<br> Gênero: Ação/Fantasia<br> Duração: 154 minutos<br> Roteiro: Michael Dougherty e Dan Harris<br> Diretor: Bryan Singer<br> Distribuidor: Warner<br>