Todo mundo conhece o Superman, seu modo de agir e tudo aquilo que ele representa. Mas como ele veio a ser quem é? E aí não me refiro à sua história de origem, mas sim aos eventos que ajudaram a moldar sua personalidade, fazendo dele o herói que conhecemos hoje.
A proposta de Superman: Alienígena Americano é justamente mostrar alguns eventos determinantes na vida de Clark Kent que o ajudaram a desenvolver seu conjunto de valores antes de vestir a capa vermelha e botar a cueca para fora das calças.
SUPERMAN: ALIENÍGENA AMERICANO
Lançada originalmente nos EUA como uma minissérie em sete edições (aqui saiu direto como um encadernado de capa dura), cada número é uma história independente, autocontida, mas todas elas seguem essa premissa de mostrar um elemento de crescimento e desenvolvimento, indo desde a infância de Clark e culminando em seus primeiros dias como o Homem de Aço.
Escrita por Max Landis, mais conhecido por seu trabalho como roteirista de cinema (ele escreveu filmes como Poder Sem Limites, American Ultra e Victor Frankenstein), ele trata cada capítulo da minissérie como um conto com um enfoque específico, algo complementado pelo fato de que cada número é desenhado por um artista diferente, para que o traço combine ainda mais com o tema da história.
E algumas das histórias contadas aqui estão entre as melhores do personagem que eu li em tempos recentes. O Superman sempre é um personagem difícil de escrever, pois seu eterno otimismo na raça humana e seu conjunto de valores “antiquados” costumam fazer os escritores de suas histórias penarem para que elas não fiquem bobas ou desinteressantes.
Não é o caso aqui. Landis consegue mostrar facetas do personagem sob perspectivas totalmente inesperadas. Desde a primeira história, que mostra um Clark ainda criança, apavorado quando começa a levitar a grandes alturas sem conseguir controlar o seu poder.
A história vai dessa pegada assustadora tanto para Clark quanto para seus pais para um clima totalmente mais leve quando Jonathan Kent decide ensinar o filho a voar como se ele estivesse aprendendo a andar de bicicleta. Impossível não ficar com um sorriso no rosto com as tentativas de pai e filho para fazê-lo controlar o novo poder.
AH, É SÓ UM AVIÃO!
Outro ponto alto é quando um Clark adolescente, a caminho de férias nas Bermudas, vai parar de gaiato numa festa de aniversário para um sumido Bruce Wayne em um iate. Todo mundo confunde Clark com Bruce e, sem conseguir desfazer a confusão, ele se passa pelo jovem bilionário e curte a vida adoidado, além de aprender as diferenças sobre o valor do dinheiro para aqueles que o têm em excesso e aqueles que não têm tanto.
E ainda termina de uma forma hilária quando o Exterminador aparece para tentar matar Bruce e Clark o despacha do lugar de uma forma bem humilhante. Esta montanha-russa de reviravoltas emocionais se estende por todas as histórias.
A HQ surpreende até mesmo por algo que o Superman nunca foi conhecido, a violência. Duas histórias se destacam nesse quesito e ajudam justamente a explicar porque ele nunca pega tão pesado, a não ser quando absolutamente necessário.
Na primeira, um jovem Clark tem sua primeira experiência com a violência sem sentido ainda em sua cidadezinha de Smallville (ou Pequenópolis, como era chamada nos velhos tempos!). E ao tentar ajudar em sua primeira missão como vigilante, acaba descobrindo que não só seus poderes ainda não estão totalmente desenvolvidos como descobre que qualquer exagero ou perda de controle pode gerar fortes consequências.
Em outra, é mostrado seu primeiro encontro com o Lobo e a coisa não só é sangrenta, como ele aprende que há indivíduos totalmente opostos a ele, que só querem ver o circo pegar fogo. Isso gera uma das histórias mais violentas do personagem.
Claro, como isso é quase uma antologia, há o inescapável fato de que algumas histórias são melhores que outras. Eu particularmente curti bastante as primeiras e nem tanto as últimas, quando Clark já está mais próximo do herói que todos conhecem. A arte também é bastante irregular, e a maioria dos artistas usa aquele estilo Vertigo, demasiado sujo, que nunca me agradou. Contudo, o texto é tão bom que dá para relevar o visual numa boa.
As histórias mostradas não são canônicas, não fazem parte da cronologia oficial, visto algumas escolhas narrativas e também de visual, mas o que elas representam sem dúvida está no cerne do personagem e por isso pegam tão fundo tanto para os leitores das antigas como para aqueles que nunca abriram um gibi do Superman. Em suma, se você quer algumas das melhores histórias recentes do Homem de Aço, não deixe de conferir Alienígena Americano.