Stratovarius – Stratovarius

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Depois de ouvir o novo e aguardadíssimo álbum do Stratovarius, auto-intitulado, dá para entender porque o guitarrista e líder do quinteto, Timo Tolkki, optou por dar ao disco meramente o nome da banda e usar na capa somente o grafismo que lhes serve de logomarca. Ficou com cara de debut de banda iniciante, lançando seu primeiro disco, aquela coisa demo ainda meio amadora, no calor da garagem. Acho que a idéia era justamente essa – e é isso que o som deste álbum dá a entender. Diferente das experimentações sinfônicas dos dois Elements anteriores, esta nova bolacha é mais dura, mais crua, uma porrada mais calcada no Metal Tradicional e mesmo no Hard Rock – como mostra a faixa inicial, Maniac Dance, que mostra um Stratovarius absolutamente irreconhecível. “Juro que pensei que era o Skid Row”, confidenciou uma amiga minha. Já nosso colega, o Cyrino, quando ouviu esta faixa, pensou que era Bon Jovi.

A mudança de ares é muito boa, na verdade, porque ajuda a afastar a banda de todas as fofocas dos últimos meses: Jörg Michael (baterista) e Timo Kotipelto (vocalista) fora da banda, trocas de acusações pela imprensa especializada, rumores sobre agressões físicas, uma nova vocalista convocada direto do universo Pop, invocações da cabala, banhos de sangue e, pra finalizar, uma internação no hospital psiquiátrico mais próximo. Esta é a versão resumida, mas já deu para entender. Formação clássica de volta, era hora de deixar boatos e invencionices surgidas em fóruns de internet de lado e entrar no estúdio para ver o que, afinal, tinha passado pela cabeça de Tolkki em termos de composição nestes meses tumultuados.

Não pense você, no entanto, que a banda mudou assim tão radicalmente. Sim, soa diferente. Mas também soa como aquele bom e velho Stratovarius que os fãs de Metal Melódico aprenderam a amar. Michael não deixou os bumbos duplos de lado, Kotipelto não largou mão dos agudos inspirados, Tolkki não desencanou dos riffs alucinados e pirulitagens em geral – e, é claro, todas as canções, sem exceção, são absolutamente sing-a-long, com deliciosos refrões grudentos para repetir em alto e bom som. Mas tudo soa mais orgânico, mais vivo, menos “aula de música para fãs de progressivo” e mais “cinco amigos tocando Metal para curtir numa noite de sábado”. Just Carry On e Gypsy In Me, por exemplo, são faixas tipicamente Stratovarius. Mas as diferenças são sentidas em porradarias como Leave The Tribe e Back to Madness que carregam a bem-vinda herança de pais do Metal Tradicional como Judas Priest e, é claro, o Iron Maiden. Quem se lembra de Future Shock ou Black Night, do primeiro LP, Fright Night, de 89, vai entender do que estou falando.

A principal vantagem deste reboot do Stratovarius é que, finalmente, o grupo volta a ter músicas inéditas possíveis de serem tocadas ao vivo. Fora algumas canções como Eagleheart, o material dos dois Elements era tão calcado na música clássica que seria necessária uma orquestra no palco para cuidar daqueles arranjos. Agora não: guitarra-baixo-bateria já dão (e muito bem) conta do recado. E cá entre nós: depois de tudo que aconteceu com o Stratovarius recentemente, quem não quer ver o quinteto encerrando um show com o representativo refrão de United, que pode significar a reunião definitiva da banda: “United we stand / divided we fall” (Unidos nós continuamos, divididos nós caímos)?

Por falar nas letras, boa parte delas parecem uma espécie de exorcismo de Tolkki que, sofrendo de síndrome maníaco-depressiva, acabou sendo demonizado pela maior parte dos fãs. The Land of Ice and Snow é uma espécie de hino dos povos nórdicos falando ao restante do mundo. Já Zenith of Power é a tão polêmica canção trazendo trechos de discursos de Hitler, mas que é um tratado contra a loucura do ditador nazista e todos os outros ditos salvadores da humanidade. As outras oito faixas, no entanto, são carregadas daquilo que o alemão Michael costuma chamar de “depressão tipicamente finlandesa”, retratando a tristeza confessional de um homem abalado querendo seguir em frente com a vida.

Texto publicado originalmente na coluna Webbanger (www.webbanger.cjb.net)

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