Polêmicas – Metallica – Load

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O ano era 1996 e o mês, junho. Eu me lembro como se fosse hoje quando o Load foi lançado: milhares de cópias vendidas em minutos nas lojas da Galeria do Rock em São Paulo. Algumas horas mais tarde, tudo o que se via e ouvia dos Bangers mais fanáticos era “a maior decepção do ano”. O que teria acontecido ao Metallica? Quem eram aqueles cidadãos de cabelos curtos no encarte? Para onde estava indo a maior (até então) banda de Heavy Metal de todos os tempos?

Antes de falarmos sobre este trabalho, vamos fazer um pequeno histórico do Metallica nos anos 90: em 1991, eles lançam o famigerado Black Album, o melhor álbum da banda para alguns, o começo do declínio para outros. A verdade é que o CD vendeu como água (e vende muito bem até hoje), todos os seus videoclipes fizeram muito sucesso e despertaram a atenção da MTV que, sem perder tempo, começou a investir pesado nos novos queridinhos da mídia promovendo dezenas de especiais e, com isso, afastando os velhos fãs que preferiam ver a banda sem os holofotes da mídia, com medo do que isso poderia causar no futuro. Para completar, eles saem em uma das maiores e mais bem sucedidas turnês da história do Rock tocando em diversos países (inclusive no Brasil em meados de 1993) ganhando milhões de fãs (e de dólares) em todo o mundo.

Quando a turnê acabou no começo de 1994, eles resolvem tirar umas férias de alguns meses e, neste meio tempo, já começam a pensar no próximo lançamento, já que tanto a mídia quanto os fãs estavam sedentos pelo próximo trabalho.

Em meio a declarações desiludidas do baterista Lars Ulrich de que o Heavy Metal havia morrido, que eles não queriam mais ser enquadrados nesse estilo e que a banda precisava deixar de lado a estagnação nos próximos trabalhos, eles entraram em estúdio com o produtor Bob Rock cercados de mistério em relação a como seria o próximo lançamento.

Para completar, o pai do vocalista James Hetfield faleceu durante as gravações afundando seu filho no álcool e na depressão o que, obviamente, refletiu nas letras do trabalho.

Mas não era só James que estava em uma fase difícil: Todos ali passavam por momentos delicados com drogas, o álcool, os abusos e a depressão pós-sucesso. É o preço caro da fama que tantos artistas acabam pagando quando atingem o ápice.

Polêmicas e especiais da MTV à parte, eis que chega o grande dia na primeira semana de junho de 1996 e o Load é finalmente lançado. Mas o que aconteceu com o peso? E com as letras raivosas? E com a explosão de energia dos discos anteriores?

Bom, passados 8 anos desde o seu lançamento, posso afirmar que tudo isso estava lá. Tudo o que consagrou o Metallica estava presente no Load, porém de um jeito bem peculiar.

Sim, é verdade que o instrumental estava mais leve, que a banda estava explorando novos caminhos (o que iria se concretizar no futuro) e que, de certa forma, a atitude havia mudado, porém eles continuavam sendo o Metallica. E isto era muito claro em músicas como a divertida Ain´t My Bitch que abria o Cd e já mostrava uma troca da tradicional abertura rápida e direta dos seus trabalhos anteriores por algo um pouco mais complexo, mas sem deixar o peso de lado. Outra música que lembrava um pouco os trabalhos anteriores era a famosa King Nothing, um belo exemplo da combinação Peso + Energia que consagrou a banda e que teve seu videoclipe tocado exaustivamente na MTV brasileira naquele ano. Outras músicas destacavam esse lado mais experimental da banda, como a melancólica, porém inteligentíssima The House Jack Built com sua letra tratando de alguém que se isola do mundo exterior e se tranca em seus próprios pensamentos, ou a “Sabbathica” 2X4 com seu andamento mais cadenciado, ideal para bater cabeça.

Mas a palavra de ordem do CD eram mesmo as temidas baladas. E elas estavam lá marcando presença e se transformando de exceção em regra. A excelente Bleeding Me, a boa Until it Sleeps, a sonolenta e country Mama Said e a diferente Hero of The Day são as provas que não me deixam mentir.

E o que dizer da polêmica capa e do encarte do Cd? A capa é um quadro de um pintor chamado Andres Serrano e foi feita através de uma mistura de sangue bovino e sêmen do próprio autor. O logotipo da banda também havia mudado para algo mais simples, sem as letras M e A “pontudas” retirando totalmente a agressividade de sua idéia e já avisando os despreparados que a banda havia mudado. O encarte, sem dúvida era o mais bizarro, mostrando os músicos com os rostos maquiados, os cabelos curtos e poses berrantes lembrando algumas bandas góticas dos anos 80. Aliás, para falar a verdade, a grande polêmica do Load não estava na música em si, mas sim no visual da banda que havia mudado, digamos, do vinho para água. O Metallica sempre foi um dos maiores representantes do jeito Headbanger de ser, com os cabelos compridos e roupas de couro (veja abaixo uma foto de 1984), mas parecia que eles não queriam mais carregar essa bandeira e o Load foi o catalisador desta mudança se transformando no verdadeiro marco do fim de uma era do Metallica.

A verdade, gostem ou não, é que Load possui belas músicas, letras muito bem escritas que tratam de diversos temas e, ao contrário dos recentes lançamentos, se trata de um álbum honesto, que refletia bem o clima de tristeza, melancolia e ressaca pelo qual a banda passava naquele momento. O que veio depois é assunto para um outro texto, mas agora, com a sua cabeça mais fria e a poeira daquele momento já assentada, ouça o Load com a cabeça aberta e sem os “pré-conceitos” e você irá descobrir que é, na verdade, um bom álbum.

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