O Pantera Negra do gibi tem sua importância por ter sido o primeiro super-herói negro dos quadrinhos mainstream estadunidenses. Ele foi criado por Stan Lee e Jack Kirby em 1966. Como base de comparação, o Falcão popou em 1969, enquanto Luke Cage deu as caras em 1972. Na Distinta Concorrência, John Stewart assumiu o anel do Lanterna Verde em 1971.
Dá para perceber que ele foi o primeiro. Se Peter Parker foi pensado para ser um nerd, T’Challa tem como principal característica o fato de ser negro. Sua raça, aliás, está estampada até mesmo no nome do herói. Ele não é o Homem-Pantera, ele é o Pantera Negra. Felizmente, logo os heróis negros começaram a exibir diversas características além da sua raça.
Este, no entanto, não é um problema no MCU. Criado do zero já no século XXI, ele é habitado por heróis de várias raças. O filme do Pantera Negra, no entanto, traz um diferencial que o separa de todos os outros longas da Marvel.
MAIS IMPORTANTE DO QUE A RAÇA É A CULTURA
O que é a raça? É um conjunto de características físicas que separa a humanidade em grupos. Destas características, talvez a mais marcante (mas longe de ser a única) é a cor da pele. Porém, sabe o que realmente diferencia os povos e merece ser preservado? Não é a cor da pele ou o formato dos olhos, mas sua cultura. Pantera Negra, o filme, acerta ao focar nisso.
Sim, quase todos os personagens importantes do filme são da raça negra. Mas sabe o que realmente o torna um filme único e, portanto, especial? O fato de que grande parte dele se passa na África. Verdade, na nação fictícia de Wakanda, mas o lugar é um deleite para os olhos e ouvidos justamente por ficar claro a todo momento que fica na África.
O MCU até o momento é bastante homogêneo. Não pela raça de seus heróis, mas pelo fato de que são todos estadunidenses, principalmente de Nova Iorque. Claro, isso reflete o universo Marvel dos quadrinhos, mas significa que todos têm backgrounds parecidos. Assim, o Falcão, por exemplo, apesar de ser negro, é muito mais parecido na construção do personagem com o Capitão América do que com o Pantera Negra.
Até Guardiões da Galáxia, que se passa no espaço, acaba tendo um climão mais americano, graças à (excelente) trilha sonora com clássicos dos anos 80 e ao humor típico do Tio Sam.
T’Challa, o Pantera Negra, você já deve saber, é o rei de Wakanda. Por ser uma nação fictícia, os cineastas puderam criar um lugar ao mesmo tempo real e fantástico. Wakanda é um país no qual a cultura africana convive com tecnologias dignas de Star Trek. E isso é algo que não vimos em nenhum filme da Marvel até agora. Sem exagero, o Pantera Negra do cinema é ainda mais sci fi do que o Homem de Ferro.
Por ser o único país com acesso ao vibranium (o material do qual o escudo do Capitão América é feito), eles conseguiram evoluir tecnologicamente muito além de todos os outros países. E seu regime governamental fechado permitiu que mantivessem este segredo sem investidas estrangeiras. Se você já acha legal ver a mansão do Tony Stark – e quem não acha? – espere até ver Wakanda, um país inteiro capaz de fazer as Indústrias Stark parecerem ultrapassadas.
UM SÁBIO CRIA PONTES
O filme começa pouco depois do que vemos em Capitão América – Guerra Civil. O pai de T’Challa acabou de ser assassinado e nosso herói deve assumir a coroa e o traje do Pantera Negra. Com mais tempo de desenvolvimento, agora podemos acompanhar o ritual, que rola em belíssimas paisagens africanas. O cenário e as maquiagens típicas do continente talvez tornem este o filme da Marvel mais colorido.
Não pense que isso signifique que ele foca na comédia, como acabou se tornando característico da Marvel. Não, o que temos aqui é um filme de ação/sci fi bem mais sério do que o que o estúdio costuma nos dar. Não que seja dark, longe disso, mas o climão aqui está mais próximo das séries da Netflix da Marvel do que dos filmes.
A história coloca o nosso herói contra uma dupla de bandidos que está querendo vender vibranium no mercado negro. Um deles, aliás, é o Andy Serkis, em um de seus raros papéis como ser humano – e com uma tremenda cara de bandido. O outro, quem diria, é o Tocha Humana. MAIS UM Tocha Humana da Fox que se torna outro personagem no MCU, aliás.
Uma coisa interessante é a motivação do bandidão. O herói está preocupado com a cultura, com o povo de Wakanda, enquanto o vilão está preocupado com a raça. Ele não aguenta mais ver a população negra sofrendo e sendo explorada sendo que Wakanda tem tecnologia e armas suficientes para dominar o mundo. Claro, o certo sempre fica entre dois extremos, e cabe a nosso herói perceber isso.
UM TOLO CONSTRÓI BARREIRAS
Obviamente, você não precisa pensar tanto em temas raciais e culturais se só estiver a fim de uma tarde divertida no cinema. Embora não seja uma comédia, Pantera Negra é um excelente filme de ação e, como tal, diverte pra caramba.
A tecnologia avançada de Wakanda permite inclusive que outros personagens além do herói protagonizem momentos tremendões. Tem uma máquina lá que permite controlar veículos remotamente através de um holograma. Eu sinceramente saí do cinema esperando que isso chegue ao mercado, tipo, ontem. Já pensou que legal controlar uma nave do outro lado do mundo sem sair do seu sofá?
O filme simplesmente se dá muito bem em tudo que tenta fazer. Minha única picuinha com ele é o fato de que os personagens falam quase o tempo todo em inglês com sotaque africano.
Ora, se vão fazer o filme falado em inglês (o que é mercadologicamente compreensível), faz de conta que todo mundo tem o Peixe Babel ativado e pronto. Qual é o problema de fingirmos no cinema que o mundo inteiro fala inglês. Uma coisa é o T’Challa falar em inglês com sotaque africano com o Capitão América. Outra, que não faz sentido, é ele fazer isso com a sua mãe, e ela responder da mesma forma.
Isso é uma picuinha minha mesmo, admito. Talvez você nem percebesse isso se eu não falasse. O que você vai perceber, no entanto, é quão diferente Pantera Negra é dos outros filmes da Marvel – e como ele se torna melhor por isso. Ainda é um filme de ação divertido, mas é mais sério e, por ser tão banhado na cultura africana, uma pérola única no MCU.
LEIA NOSSAS RESENHAS DO UNIVERSO CINEMATOGRÁFICO MARVEL:
– Homem de Ferro – Onde tudo começou.
– Homem de Ferro 2 – Agora com ainda mais Tony Stark.
– O Incrível Hulk – Até por favelas cariocas o gigante esmeralda passou.
– Thor – E não é que o deus do trovão é meio fanfarrão?
– Capitão América: O Primeiro Vingador – Apresentando a última peça que faltava na fase 1.
– Os Vingadores – The Avengers – O filme de super-heróis mais esperado da história.
– O Hulk de Ang Lee – Não faz parte da história, mas, ei, é o Hulk!
– Homem de Ferro 3 – Has he lost his mind? Can he see or is he blind?
– Thor: O Mundo Sombrio – A fanfarronice está de volta.
– Capitão América 2: O Soldado Invernal – O Sentinela da Liberdade está de volta. E dessa vez é pessoal.
– Guardiões da Galáxia – Somos como o Kevin Bacon.
– Vingadores: Era de Ultron – Toninho Stark e seus superamigos estão de volta.
– Homem-Formiga – Encerrando a fase 2 da Marvel no cinema.
– Capitão América: Guerra Civil – De que lado você está?
– Doutor Estranho – O Mago Supremo da Terra faz sua estreia no MCU.
– Homem-Aranha: De Volta ao Lar – Eu acho que o Hulk deve ser cheiroso.
– Thor: Ragnarok – É o Hulk numa banheira.