Hoje em dia, os super-heróis estão mais que consolidados no cinema, com Marvel e DC disputando a supremacia nas bilheterias e personagens de editoras menores comendo pelas beiradas e também faturando o seu. E por que os outros países deveriam ficar de fora dessa festa? A Rússia dá o exemplo e mostra que também pode fazer seu próprio filme de super-heróis com Os Guardiões.

Só que, digamos, não é exatamente um exemplo positivo para outros países que queiram criar suas próprias franquias de gente usando colantes e com poderes extravagantes.

Na trama, durante a Guerra Fria o governo soviético cria um programa para criar super-humanos. Eles são bem-sucedidos, mas um dos cientistas da bagaça se rebela. Daí ele passa de cientista louco a super-vilão. E após passar um tempo na miúda, retorna já nos dias atuais para o quê mais? Dominar o mundo!

Eis então que as pessoas superpoderosas criadas pelo antigo programa precisam ser reunidas (eles não envelhecem, caso você esteja se perguntando se seria um supergrupo de velhinhos resquícios da antiga URSS) numa equipe para combater o sujeito e salvar a pátria. Assim nascem os Guardiões.

Delfos, Os Guardiões, Cartaz

Este filme não faria feio na programação do canal SyFy entre outras pérolas do tipo Mega Shark vs. Octopussy (eu sei que o nome não é bem esse, mas você entendeu) e por aí vai. Afinal, a estética dele é bem parecida com essas produções.

Tem gente que gosta, mas para mim lhes falta o fator trash que as tornaria divertidas. Elas são apenas ruins. E Os Guardiões se encaixa nessa categoria. É tosco demais, mal feito, mas não tem nada nem próximo a alguma característica redentora. É ruim e pronto.

NÃO ACREDITO QUE NÃO TEM UM PERSONAGEM CHAMADO ‘O COSSACO’!

O roteiro é uma porcaria, parece ter sido escrito por uma criança de cinco anos após ler seu primeiro gibi. As situações são um amontoado de clichês e você sabe muito de antemão o que vai acontecer. O vilão parece um refugo dos Comandos em Ação, com uma péssima maquiagem.

Os quatro heróis que formam o grupo também não apresentam nenhuma novidade. Há o sujeito que controla pedras, a mulher que fica invisível em contato com a água (tipo, se ela estiver no meio do deserto e cuspir na própria testa, seu poder se ativaria?), um truta que até agora eu não sei se tem supervelocidade, teleporte ou um mix dos dois e um cara que é tipo um lobisomem, só que ao invés de se transformar num lobo, se transforma num urso (ursosomem?).

Delfos, Os Guardiões
Sim, é um homem-urso com uma metranca giratória. Não, não é tremendão…

Os efeitos especiais variam do aceitável (o poder do sujeito meio velocista, meio teleportador, que solta uma fumacinha igual o Noturno, é o que mais funciona na tela) ao puramente tosco (o homem-urso e seu CGI que lembra os primórdios dessa técnica). Mas, para dar um desconto, segundo o IMDb, o longa teria sido feito com cerca de cinco milhões de dólares, o que é orçamento de filme indie nos EUA.

Mesmo sendo visualmente capenga, se ao menos fosse feito com alguma criatividade e um bom roteiro, a pobreza dos efeitos poderia ser facilmente relevada. Não é o caso.

Eu também não sei se é porque o russo é uma língua muito dura ou se os atores são ruins mesmo, mas toda vez que eles têm diálogos mais grandinhos, eles os declamam como se estivessem aborrecidos, lendo um manual de instruções de máquina de lavar-roupa. É bem estranho.

Os Guardiões era bem intencionado, mas ficou só nisso mesmo. Como já estabeleci, falta o gene trash para fazer com que seja aquele filme tão ruim que é bom. Ele é tão ruim que é ruim mesmo. Assim, não dá para recomendar isso para ninguém. Nem para os apreciadores de uma boa tranqueira, nem para os fãs de filmes de super-heróis.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
os-guardioesTítulo: Zashchitniki<br> País: Rússia<br> Ano: 2017<br> Gênero: Ação<br> Duração: 89 minutos<br> Distribuidora: Paris Filmes<br> Diretor: Sarik Andreasyan<br> Roteiro: Andrey Gavrilov<br> Elenco: Anton Pampushnyy, Sanjar Madi e Sebastien Sisak.