Creed II chega aos nossos cinemas esta semana prometendo uma história ainda mais pessoal, envolvendo o confronto entre Adonis Creed e nada menos que o filho de Ivan Drago, o homem que matou seu pai! Ou seja, este derivado da série Rocky vai ainda mais a fundo na matriz para extrair sua fonte de inspiração. Sendo assim, por que não aproveitar a ocasião para fazer uma recapitulação dos filmes da série Rocky?

Aqui, falarei de cada um dos filmes, como um “esquenta” para a nova produção? Incluindo, claro, o spin off que coloca o jovem Adonis como protagonista e o envelhecido Rocky Balboa como coadjuvante, no papel de treinador. Então coloque suas luvas, ponha Eye of the Tiger para tocar, entorte a boca e grite junto comigo: Adriaaaaaaan! E vamos nessa.

MENÇÃO HONROSA: PUNHOS DE SANGUE (The Bleeder/Chuck – EUA – 2016)

Tudo bem, este aqui não faz parte da franquia, mas acho que vale como um complemento antes de se assistir aos filmes da saga propriamente ditos. Afinal, trata-se da cinebiografia de Chuck Wepner, nada menos que o pugilista da vida real que inspirou Sylvester Stallone a criar seu Rocky Balboa.

Wepner era uma figura folclórica, um boxeador medíocre cujo maior feito, além de sua incrível resistência a surras gigantescas nos ringues, foi aplicar um knock down na lenda Muhammed Ali.

Ok, o filme não é lá muito bom, mas vale por essa curiosidade de saber um pouco mais sobre a figura que acabou conhecida posteriormente como o Rocky da vida real. E o encontro entre Wepner e Sylvester Stallone (interpretado por outro ator) retratado na película, é divertido. Agora sim, passemos de vez à saga do Garanhão Italiano!

Delfos, Punhos de Sangue
O encontro entre Wepner (esq.) e Stallone (dir.).

Nota: 2,5

ROCKY: UM LUTADOR (Rocky – EUA – 1976)

Neste corner: Escrito e estrelado por um até então desconhecido Sylvester Stallone e dirigido por John G. Avildsen, que posteriormente também comandaria a trilogia Karatê Kid (sim, o sujeito é tremendão), o primeiro Rocky virou um dos maiores filmes de boxe da história do cinema.

Transformou o Garanhão Italiano Rocky Balboa no pugilista fictício mais famoso do mundo e alçou Sly ao estrelato. Tudo no filme é clássico, a trilha sonora de Bill Conti, que casou à perfeição com a sequência do treinamento, a tensa luta no terceiro ato e o drama definitivo do underdog em busca de superação.

Delfos, Rocky
Uma cena clássica!

Dentro do ringue: Balboa é o pugilista praticamente amador, pobre e não muito desenvolvido intelectualmente que ganha uma chance de ouro de enfrentar Apollo Creed (Carl Weathers), o campeão dos pesos-pesados, graças a uma jogada publicitária que pode mudar de vez a vida do chamado Garanhão Italiano.

Quem ganha? Apollo vence por pontos, mas Rocky, um lutador esforçado, mas muito abaixo do nível técnico do Doutrinador, mostra toda sua garra a ir até o fim e fazer o campeão suar sangue para manter seu título. Claro, a mensagem aqui é que ganhar não é o importante, mas sim fazer o seu melhor e dar tudo de si. Só que a dublagem em português parece não ter entendido a moral da história e, inconformada, alterou o resultado da luta declarando um empate entre os dois lutadores! Confira no vídeo abaixo a partir dos 3:20.

https://www.youtube.com/watch?v=lArWip7vEdM

Curiosidade: O filme ganhou três Oscars (melhor filme, edição e diretor para John G. Avildsen) e Stallone foi indicado tanto ao prêmio de melhor ator quanto ao de melhor roteiro original, mas não levou nenhum dos dois.

Nota: 5

ROCKY II: A REVANCHE (Rocky II – EUA – 1979)

Neste corner: Após o imenso sucesso do primeiro filme, era óbvio que uma continuação seria inevitável. E sendo que no boxe é comum o lutador que perde ter direito a uma revanche, a trama da sequência já estava praticamente armada. Além de escrever novamente o roteiro, Sly também assumiu como diretor.

Dentro do ringue: Depois da grande luta contra Apollo no primeiro filme, Rocky teve seus 15 minutos de fama e depois que eles se esgotaram sua vida ficou praticamente na mesma, na pindaíba, agora casado com Adrian e tendo de aturar seu melhor amigo e cunhado Paulie.

Já Apollo não superou a quase humilhação sofrida na primeira luta e decide conceder a revanche a Rocky para ver se o Garanhão Italiano teve apenas sorte da primeira vez ou se ele é de fato um talento não-lapidado. É essencialmente o primeiro filme novamente.

Delfos, Rocky II
Isso deve ter doído!

Quem ganha? Após mais uma luta duríssima, ambos vão ao chão ao mesmo tempo. Rocky consegue se levantar antes do fim da contagem, Apollo não. Senhoras e senhores, temos um novo campeão mundial!

Curiosidade: Na cena da luta, ao final do segundo round, os dois lutadores começam a se empurrar e se provocar, sendo separados pelos membros de seus corners. Isso não estava no roteiro e não é atuação. Na realidade, os dois atores estavam bravos entre eles porque vários socos de Carl Weathers acertaram Stallone para valer, fora o fato de que a cuidadosa coreografia da luta, ensaiada por meses, saiu dos trilhos. Contudo, Sly gostou tanto das reações genuínas que decidiu incorporá-las ao filme.

Nota: 4

ROCKY III: O DESAFIO SUPREMO (Rocky III – EUA – 1982)

Neste corner: Os dois primeiros filmes tinham um tom bem sério de drama esportivo. A partir de sua terceira parte, a coisa começa a descambar para o trash. Afinal, como esquecer seus tons homoeróticos, principalmente na cena da corrida da praia, com Rocky e Apollo usando regatas apertadinhas, saltitando e se abraçando naquela felicidade? Enfim, Stallone novamente escreve e dirige.

Delfos, Rocky III
A amizade é mesmo uma coisa linda.

Dentro do ringue: Aqui Rocky está estabelecido como o campeão mundial, já tendo defendido seu cinturão diversas vezes. No entanto, sua confiança vai pro saco depois que Mickey, seu treinador, admite que escolheu apenas adversários muito inferiores para lutar contra ele. O que vai ser um problema quando Clubber Lang (o Mr. T!), um lutador marrento e com muita fome, vai desafiá-lo pelo cinturão. Daí, apenas Apollo assumindo como seu novo técnico pode ser capaz de ajudar Balboa a recuperar seu olho de tigre!

Quem ganha? Este é o único filme da série onde Rocky luta duas vezes contra o mesmo oponente, o Clubber Lang. No primeiro confronto, com a confiança abalada e preocupado com a saúde de Mickey, Rocky perde feio e é nocauteado. Na revanche, após recuperar seu olho de tigre com a ajuda de Apollo, ele devolve o nocaute e retoma o cinturão. Há também uma luta exibição contra o wrestler Thunderlips (Hulk Hogan) que contribui para o clima mais sem noção que a série vai ganhando, mas que por incrível que pareça é inspirada numa luta real de Chuck Wepner contra Andre the Giant!

Curiosidade: E já que falei do olho de tigre, vale lembrar que sim, é este aqui que se utiliza de Eye of the Tiger, do Survivor como sua música-tema. A canção, junto da trilha incidental de Bill Conti, ficaria eternamente associada não só com a série, mas também como sinônimo de treinamento físico, sendo usada em inúmeras mídias, seja em cenas similares, paródias ou afins! Vamos ouvi-la:

Nota: 4

ROCKY IV (idem – EUA – 1985)

Neste corner: O mais sem noção e exagerado de toda a série. E por isso mesmo, um dos mais lembrados. O filme onde Rocky basicamente acaba com a Guerra Fria socando um russo gigante na cara no dia de Natal. Stallone mais uma vez assina como diretor e roteirista.

Dentro do ringue: Surge um novo desafiante ao título mundial dos pesos-pesados, o gigantesco russo Ivan Drago (Dolph Lundgren). E o cara ainda mata de forma cruel o Apollo Doutrinador no ringue durante uma luta de exibição. Agora a coisa é pessoal e Rocky vai enfrentar o sujeito em seu território, na gelada Rússia. A sequência de Balboa treinando na neve, enquanto Drago pratica usando da mais alta tecnologia que a época oferecia, é tão clássica quanto a montagem de treino do filme original. E gerou uma paródia de Family Guy. Confira:

Quem ganha? Tendo matado seu parça Apollo, é óbvio que Rocky estava mais que motivado. E após mais uma sangrenta peleja, sagra-se vencedor fazendo Drago beijar a lona. Depois ainda faz um emocionado discurso que traz todos os cossacos para o seu lado!

Delfos, Rocky IV
“Eu vou quebrar você.”

Curiosidade: Dolph Lundgren e Carl Weathers não se bicaram durante as filmagens e tiveram uma treta, que terminou com Lundgren jogando Weathers no corner do ringue de boxe. Carl ameaçou abandonar a produção e Stallone precisou de muita lábia para realizar uma reconciliação entre os dois fazendo Carl retornar para a produção e Lundgren pegar mais leve em sua agressividade para com o coleguinha. Por conta desse entrevero, a produção ficou paralisada por quatro dias.

Nota: 4

ROCKY V (idem – EUA – 1990)

Neste corner: O fundo do poço. A série foi perdendo muita noção ao longo do caminho, mas ao menos se manteve divertida e fanfarrona de um jeito trash. Aqui não há nem essa característica, nem o menor traço de qualidade. Nem a volta de John G. Avildsen à direção (Stallone assina apenas o roteiro) salva esta produção péssima, que enterrou a saga durante anos.

Dentro do ringue: Imediatamente após voltar da Rússia, Rocky descobre que perdeu todo seu dinheiro devido a maus investimentos de Paulie e volta a morar em sua antiga vizinhança da juventude, o que é particularmente difícil para seu filho Rocky Jr., que crescera cercado de luxo.

Delfos, Rocky V
Briga de rua? Eu quero é boxe!

E tendo sido forçado a se aposentar do boxe, sua única esperança de se reerguer é treinando e empresariando um jovem talento que ele reconhece na figura de Tommy Gunn. Porém, Gunn vai acabar tentado por outras figuras escusas do mundo do boxe e vai se voltar contra seu padrinho.

Quem ganha? Pois é, este filme é tão ruim que nem mesmo temos uma luta no ringue no clímax do terceiro ato, como manda a tradição da série. Aqui Rocky e Tommy saem no braço nas ruas mesmo, como dois briguentos quaisquer. Ah, se você se importa, o Rocky ganha, é claro.

Curiosidade: Este é o primeiro filme da série onde o nome verdadeiro do personagem, Robert, é usado. Rocky é apenas um apelido (mas claro que você sabia disso). Além do mais, em uma entrevista ao jornal The Sun em 2010, Sly admitiu que só fez este filme por ganância.

Nota: 1

ROCKY BALBOA (idem – EUA – 2006)

Neste corner: 16 anos após o até então último filme da série, a carreira de Stallone estava em baixa, ele não era mais chamariz de bilheterias e estava fazendo longas de qualidade cada vez mais questionável. Daí, quando anunciou que retomaria um de seus personagens mais famosos em um novo filme, soou como caça-níqueis, uma tentativa barata de retomar o sucesso pegando carona na fama de um de seus personagens mais queridos.

E não é que ele surpreendeu todo mundo com um filme para lá de digno que é um desfecho muito mais honrado para a saga do Garanhão Italiano do que o péssimo Rocky V! Deu certo e sua carreira foi levantada com o sucesso do longa. Novamente direção e roteiro ficaram a cargo do astro.

Delfos, Rocky Balboa
A última luta do Garanhão Italiano.

Dentro do ringue: espelhando a própria carreira de Sly, a trama encontra um Rocky aposentado e longe dos olhos da mídia e dos dias de glória, mas que ainda sente ter dentro de si uma última grande luta, mesmo em sua idade avançada.

Após um programa especial da ESPN fazer uma simulação de como seria uma luta com ele em seu auge contra Mason Dixon, o atual campeão dos pesos-pesados, o burburinho gerado acaba rendendo mais uma jogada publicitária e Dixon e Balboa concordam em se enfrentar em uma luta de exibição, que o envelhecido Rocky vai levar muito a sério.

Quem ganha? Dixon ganha por pontos, porém mais uma vez Rocky deixa tudo de si no ringue surpreendendo o adversário muito mais jovem e no auge da força física e terminando de pé. Porém, é como na bronca que ele dá em seu filho num dos melhores momentos de toda a série: não importa o quanto você apanha, mas o quanto você consegue apanhar e continuar seguindo em frente.

Curiosidade: A luta foi filmada pra valer, com Sylvester Stallone e Antonio Tarver (que à época era boxeador profissional e campeão dos pesos-pesados) conectando os golpes de verdade. Stallone contou em entrevistas que na cena onde ele sofre um knock down e tem dificuldades para se levantar, ele não estava atuando. Ele realmente apanhou tão forte que caiu e não conseguia levantar.

Nota: 4,5

CREED: NASCIDO PARA LUTAR (Creed – EUA – 2015)

Neste corner: Tendo Rocky Balboa atingido um fim satisfatório para a história do Garanhão Italiano, como continuar a série sem jogá-la novamente no buraco? A resposta foi passar o bastão para um novo protagonista, mantendo Stallone como coadjuvante.

Entra Adonis Johnson, filho ilegítimo de Apollo Creed, com o talento para o boxe herdado do pai, bem como uma tonelada de raiva e mágoas por não tê-lo conhecido e pelas dificuldades de sua juventude. Ryan Coogler assume a direção e co-escreve o roteiro com Aaron Covington.

Dentro do ringue: Adonis quer ser lutador profissional e larga tudo para ir atrás do objetivo, localizando o velho Garanhão Italiano e pedindo sua ajuda para treiná-lo. Quando o mundo do boxe fica sabendo que o promissor Adonis é na realidade filho de Apollo Creed, a oportunidade de promoção do esporte com o sobrenome famoso de uma lenda fará com que Adonis ganhe a chance de enfrentar o atual campeão.

Delfos, Creed
Treinando um novo campeão.

É essencialmente a mesma trama do primeiro Rocky, adaptada para um jovem lutador menos ingênuo e muito mais cheio de ressentimentos.

Quem ganha? “Pretty” Ricky Conlan, o adversário e atual campeão, vence Adonis por pontos, mas novamente a mensagem de que o importante é mostrar do que você é capaz e não o resultado é passada.

Curiosidade: É o primeiro filme da série que não é escrito por Stallone. Aliás, Sly novamente foi indicado a um Oscar de ator por interpretar Balboa (desta vez, concorreu ao prêmio de coadjuvante), mas mais uma vez não levou.

Nota: 4 (sei que eu dei 3,5 para ele na resenha, mas ele subiu no meu conceito após algumas reassistidas)

Pois bem, agora que você já relembrou todos os filmes da série, só resta maratoná-los mais uma vez antes de seguir para o cinema para conferir Creed II. E queremos saber: qual o seu favorito? Qual seu momento preferido? O mais tosco? A melhor luta? Diga aí nos comentários.