Bloober Team ficou famosa com o sucesso de Layers of Fear, jogo de terror lançado em 2016 que foi muito bem recebido por crítica e público. Observer é o novo lançamento dessa galera, e se mantém no gênero terror, embora agora seja um trabalho muito mais elaborado.

Com ambientação futurista, Observer se passa em um mundo no qual humanos misturam seus corpos a máquinas, adquirindo habilidades especiais. Nada que a gente já não tenha visto em jogos como Deus Ex.

CADÊ MEU FILHOTE?

Você assume o papel de um veterano policial com implantes mecânicos que é contatado pelo seu filho, com quem não tinha contato algum há muitos anos. A ligação é misteriosa e coloca você no encalço de seu descendente. Algo parece estar errado. O policial rastreia a ligação e descobre que ela veio de um condomínio de baixa renda e, ao chegar no apartamento que originou a ligação, encontra um presunto.

Observer, Delfos

Não demora para o condomínio entrar em lockdown, o que significa que você está preso lá dentro com o que quer que esteja matando as pessoas. E seu filho? Bom, este é o objetivo último do jogo.

Não espere um survival horror padrão. O foco aqui é investigação. Afinal, você é um detetive. Basicamente, o ritmo do jogo envolve explorar o condomínio, tocando em todas as portas, interrogando os moradores e ocasionalmente descobrindo códigos que dão acesso a apartamentos específicos.

Há várias cenas de crime, e nestas você deve buscar por pistas e, eventualmente, usar seu poder de entubar um presunto para entrar em sua mente. Nestes momentos mais lineares, você vê bastante a assinatura da Bloober Team, pois ele lembra bastante Layers of Fear.

Quando está visitando a cabeça de um falecido, você vai basicamente andando através de corredores, e as coisas ao seu redor vão se mexendo e ficando estranhas. No contexto casa mal assombrada de Layers of Fear, isso funciona bem, no entanto aqui acaba dando à coisa toda um ar nonsense. É claro que a desenvolvedora se inspirou bastante em Blade Runner, no entanto a sensação de jogar Observer é bastante semelhante à de assistir a um filme de David Lynch.

E SE DAVID LYNCH DIRIGISSE BLADE RUNNER?

Pois é, o que são os melhores momentos de jogos como Psychonauts, aqui são os mais pentelhos. Basicamente, visitar a mente de alguém era andar por um caminho pré-estabelecido ouvindo diálogos e coisas sem sentido acontecendo até o jogo dizer que chega. Eu me sentia em um filme iraniano, com a diferença de que aqui temos uma total ausência de balões brancos.

Observer, Delfos

Fora das mentes das vítimas, a coisa funciona melhor. O jogo é basicamente um “mundo aberto light”. Ao interrogar os moradores, você vai assumir alguns casos extras, que funcionam como sidemissions. Estes casos são totalmente independentes do principal, e alguns deles, como o dos “vizinhos barulhentos”, são bem intrigantes.

O problema é a narrativa, que se contenta em contar sua história através de audiologs e textos, duas técnicas que não aproveitam o potencial que contar uma história em um jogo oferece.

Além disso, as atuações são muito ruins. O protagonista é feito por Rutger Hauer, aquele mesmo, de Blade Runner, mas sua interpretação é sofrível. Ele parece estar lendo suas falas com um tédio absurdo, o que não deve ser muito longe da verdade. Pense em atores de cinema que fizeram ótimos papeis em videogames, como Patrick StewartMark HamillAndy Serkis. Estes são sujeitos que deram o sangue e criaram nos videogames algumas de suas melhores interpretações.

Rutger Hauer está do outro lado do espectro, ainda pior do que Peter Dinklage em Destiny, e lembremos que esta foi uma interpretação tão ruim que resolveram substituir todo o trabalho do ator depois do lançamento.

ESCURO E FEIO

Observer tem bons gráficos, mas é um grande exemplo de como criatividade é mais importante do que técnica. De um lado, temos a Nintendo tornando Breath of the Wild um dos jogos mais belos já feitos, mesmo rodando em um hardware inferior. Do outro, temos Observer, com cenários quase fotorrealistas, mas um visual totalmente sem graça e pouco inspirado.

Observer, Delfos

Há não só uma, mas três tipos de visões especiais por aqui. Uma delas destaca máquinas, outra coisas orgânicas e a terceira é uma visão noturna. As três deixam o jogo monocromático e quase sem detalhes, apenas destacando o que devem destacar. Mas o jogo só é visualmente legal quando você está na visão tradicional. O problema é que ou ele é escuro demais, ou você estará sempre procurando por pistas, então quase não vai vê-lo como deveria.

Lembro de uma entrevista antiga onde um dos desenvolvedores de Arkham Asylum diz que se arrependeu da tal Detective Vision, pois a tentação de usá-la o tempo todo fazia com que os jogadores ficassem sem apreciar o belo visual do jogo. Esta foi a mesma armadilha que a Bloober Team caiu por aqui, mas triplicada.

Para ficar ainda pior, em uma tentativa de colocar influências de survival horror por aqui, resolveram tornar necessário tomar um remédio de tempos em tempos. Não é difícil achar o remédio, e eles nunca faltaram para mim, embora o jogo não te diga exatamente quantos está carregando.

O lado ruim, no entanto, é que ficar muito tempo sem tomar o remédio faz com que a tela fique com um efeito que torna muito difícil enxergar qualquer coisa.

Observer, Delfos
Experimente jogar assim.

Simplesmente tomar o remédio volta tudo ao normal, mas durante parte da minha campanha, o botão Y, que abre o menu onde você faz isso, simplesmente parou de funcionar. Eu saí do jogo, reiniciei o Xbox, voltei e nada. Eventualmente, ele voltou a funcionar, mas eu tive que jogar por um bom tempo com a tela exatamente como na imagem acima, e foi um suplício.

OBSERVANDO O OBSERVER

O delfonauta que acompanha meus textos sabe que eu já não sou assim tão fã de Layers of Fear, mas Observer realmente decepcionou. Foi um daqueles jogos que eu realmente sofri para terminar, e passei boa parte da campanha torcendo para que ele acabasse logo. Trata-se de um jogo que vai tão longe no sentido da arte experimental que acaba perdendo todo traço da diversão essencial à mídia. Desta forma, fica realmente difícil recomendá-lo.