Todo mundo já sabe que, no final do ano passado, a Disney mais uma vez mostrou todo seu poderio econômico e comprou uma grande parte do conglomerado Fox (deixando de fora praticamente só seu braço jornalístico). Após já ter adquirido a Pixar, a Marvel e a Lucasfilm, agora a casa do Mickey arrematou um dos principais e mais tradicionais estúdios de cinema dos EUA.

E claro, o que mais interessou aos nerds foi o fato de que agora O Quarteto Fantástico e os X-Men estariam sob o mesmo teto que o restante dos heróis Marvel. Ou seja, graças a essa compra, e ao acordo entre Marvel e Sony pela utilização do Homem-Aranha, O UCM finalmente estaria completo, com a disponibilidade de todos os seus personagens.

Contudo, por mais que nós, fãs de quadrinhos e de filmes baseados neles, fiquemos felizes com isso e já imaginando possibilidades como O Quarteto Fantástico se juntando aos Vingadores para combater Galactus ou um confronto entre X-Men e Vingadores, há ramificações muito mais profundas nesse negócio, e a maioria delas simplesmente não é positiva. Na matéria a seguir, você vai entender o porquê. Mas antes, saiba qual o motivo que levou à compra.

MAS AFINAL, POR QUE A DISNEY COMPROU A FOX?

Na época em que o negócio ainda estava sendo apenas especulado, li algumas matérias tanto em veículos estadunidenses quanto nacionais que diziam que o principal motivo para o interesse em comprar a Fox seria a necessidade da Disney de conteúdo. De expandir sua cartela de títulos.

Delfos, Fox, Disney

Isso porque os estúdios do tio Walt já planejam há algum tempo lançar sua própria plataforma de streaming para bater de frente com a Netflix. Eles já retiraram do catálogo da futura concorrente seus títulos pesos-pesados, como os filmes da série Star Wars, por exemplo.

Embora o catálogo de títulos da Netflix brazuca seja ridiculamente pequeno, o da sua versão estadunidense é muito maior. E se a Disney quer roubar a liderança do setor, sua plataforma precisa ser igual ou superior. Logo, a necessidade de possuir um grande catálogo. A Fox é dona de grandes franquias, como Alien, Planeta dos Macacos e Avatar, fora os filmes de cunho mais adulto e de reconhecimento da crítica de seu braço Fox Searchlight. Além dos próprios Quarteto Fantástico e X-Men.

É muito conteúdo para agregar ao que a Disney já possuía para oferecer aos potenciais assinantes de seu novo serviço de plataforma digital, previsto para ser lançado no ano que vem. Agora sim, passemos para a análise propriamente dita.

ELIMINAR A CONCORRÊNCIA NUNCA É BOM

Afinal, é a concorrência que torna qualquer negócio competitivo e criativo, além de torná-lo mais justo para o consumidor. É por isso que a maioria dos países possui leis anti-monopólio. Inclusive, o negócio entre Fox e Disney será analisado pelos órgãos responsáveis estadunidenses e, se for constatado que vá contra essas leis, precisará ser adaptado e sofrerá ajustes.

Ainda assim, segundo um artigo opinativo no site da Forbes, em 2016 a Disney teve 26% das bilheterias domésticas e a Fox 13%. Claro que esses números variam a cada ano, mas pelo bem da argumentação, o autor do artigo supõe que, se esse número combinado de praticamente 40% do mercado estadunidense se mantenha, a Disney vira uma força quase invencível. Poucos estúdios teriam condições de concorrer em pé de igualdade, certamente não os pequenos.

E, ao dominar a maior fatia do mercado, ela ficaria em posição de fazer coisas como aumentar o preço de ingressos, diminuir o número de opções disponíveis e inundar o maior número de salas exibidoras com seus produtos.

Delfos, Fox, Disney
Para variar, os Simpsons já haviam previsto isso.

Eliminando ou simplesmente comprando seus competidores, você também se torna capaz de afetar salários (diminuindo-os) e até mesmo eliminar direitos trabalhistas. Segundo uma matéria do site de cinema Screen Rant, a própria Disney, junto da Blue Sky, de propriedade da Fox (ora, vejam só) se meteram numa polêmica onde se uniram para manter os salários dos animadores baixos.

Se esse tipo de coisa já acontece na atual situação, infelizmente a probabilidade de fatos como esse e outros já citados aumentam ainda mais com uma única empresa controlando a maior parte do mercado.

COM GRANDES EMPRESAS VÊM GRANDES CENSURAS E ARBITRARIEDADES

Conforme mais poder essas empresas angariam, mais elas também se tornam de difícil relacionamento, com um comportamento que pode por vezes escorregar para o despótico ou o simplesmente arbitrário. Vou dar dois exemplos ligados ao jornalismo.

O primeiro vem da mesma matéria do Screen Rant, segundo a qual a Disney tentou barrar jornalistas do jornal Los Angeles Times de cabines de imprensa de Thor: Ragnarok após o periódico publicar uma matéria sobre a parceria de impostos entre a Disneylândia e a cidade de Anaheim, onde se situa o parque.

Delfos, Thor: Ragnarok
Tentaram barrar jornalistas na cabine do meu filme? Por Odin!

O segundo vem aqui mesmo do DELFOS. Afinal, muitos já sabem que desde que a Disney comprou a Lucasfilm e assim assumiu também a distribuição dos filmes da série Star Wars (que antes ficavam a cargo da Fox, olha só, mais uma coincidência!), deixamos de ser convidados para as cabines dos filmes da saga.

Tentamos diversas vezes pedir à assessoria que voltasse a nos incluir nessas cabines, mas a resposta que obtivemos foi que tratam-se de ordens da matriz estadunidenses e só os veículos grandes são credenciados.

Isso não faz nenhum sentido e pode muito bem voltar a acontecer, agora com filmes da Fox. Já pensou você não poder ler uma resenha nossa de Avatar 2 porque aparentemente algum gringo acha que nosso veículo não é digno de poder ver o longa alguns dias antes da estreia para poder resenhá-lo para seu distinto público? Pois é.

ISSO TAMBÉM NÃO É BOM PARA OS CRIADORES

Sem contar que, com essa fusão, diversas estratégias de produção serão alteradas ou eliminadas. E os autores e diversos profissionais do meio agora terão um lugar a menos para bater na porta e apresentar um projeto.

Delfos, Fox, Disney

Vale lembrar, a Disney já teve sua cota de tretas com mentes criativas. Edgar Wright saiu do comando do Homem-Formiga alegando as tradicionais diferenças criativas. Phil Lord e Chris Miller foram demitidos do comando de Han Solo: Uma História Star Wars pois estariam tomando um caminho não condizente com a visão do estúdio. E Colin Trevorrow também foi sacado da direção do Episódio IX de Star Wars sem maiores explicações.

Logo, se a Disney não parece dar tanta liberdade assim aos artistas, agora que a Fox é sua, automaticamente vira um local a menos para essa galera prosperar. Talvez na Fox Searchlight, braço dedicado a filmes de temática mais adulta e de olho nas principais premiações. Mas para filmes blockbusters, qualquer um que tente sair da caixinha aparentemente não terá vez por lá.

OK, VAMOS FALAR SOBRE OS SUPER-HERÓIS

Tudo bem, deixemos de lado todas as coisas elencadas acima, finjamos que nada disso importa. Seja sincero: após nove anos de filmes da Marvel Studios e sua fórmula que praticamente não muda, você acha mesmo que a Disney faria filmes como Deadpool, Logan ou o vindouro Os Novos Mutantes? Eu acho que não.

Kevin Feige, presidente da Marvel Studios, já declarou que Deadpool continuará violento e que provavelmente a Marvel fará algo como um selo adulto para comportar filmes de censura mais alta. Óbvio, depois que a Fox fez e a coisa foi sucesso de bilheteria é fácil falar, e sobretudo, manter isso. Mas acho que eles jamais teriam a iniciativa própria de fazer o que a Fox fez. Assim como duvido que façam isso com Wolverine, um personagem com muito apelo para o grande público (grande parte dele, jovem) e que invariavelmente ficará muito mais ligado ao UCM que um Deadpool, por exemplo.

A Marvel tem o seu jeito de fazer seus filmes, e eles parecem ser grandes apoiadores do dito “em time que está ganhando não se mexe”. A Fox estava justamente começando a experimentar e vinha se dando muito bem. Basta dizer que se todos os personagens já fossem da Marvel desde o início você jamais veria um filme de terror estrelado pelos Novos Mutantes, porque esta simplesmente não é a pegada deles.

Isso se aplica até mesmo na televisão. A Marvel nos deu Agentes da S.H.I.E.L.D.. O FX nos agraciou com Legion, uma das séries de super-heróis mais genialmente malucas já criadas. Óbvio que Legion irá continuar após as boas críticas, mas as possibilidades de que outra série igualmente fora da casinha como ela surja caem drasticamente.

Delfos, Fox, Disney, Logan
Quando foi que a Disney/Marvel fez um filme como Logan?

Idem nos filmes. Deadpool 2, 3, 5 mil vão acontecer porque já foram sucessos comprovados. Fora isso, não acho que teremos coisas mais diferentonas fora o que já estava sendo produzido antes da compra e que chega às telas este ano.

Mais um exemplo de que sim, embora a Fox nunca tenham acertado com o Quarteto Fantástico, diversidade e concorrência são algo positivo. Sem contar que agora eles terão de ajustar seu calendário para não concorrer com eles próprios.

Assim, provavelmente você não terá mais filmes de super-heróis por ano, e sim menos (bem como outros filmes de outros gêneros), afinal, há apenas 52 semanas por ano e sendo a Fox da Disney, pode esquecer um grande filme da Fox e um da Disney estreando no mesmo dia, pois isso seria tirar comida de seu próprio prato.

O FUTURO NO HORIZONTE

Claro, tudo isso são conjecturas, embora muitas delas baseadas em exemplos palpáveis. Mas ainda assim, não quer dizer que tudo isso possa ou vá acontecer. Na realidade, seria ótimo se a maior parte do que falei aqui não se concretizasse, pois são coisas bem ruins.

Assim como também seria ótimo, voltando ao lado fanboy, que a Disney/Marvel realmente surpreendesse e trouxesse de volta os personagens que faltavam de maneiras realmente inusitadas e diferentes. Enfim, isso só saberemos mais à frente, quando os primeiros efeitos desse negócio realmente puderem ser sentidos.

Enquanto isso, queremos saber a sua opinião. O que você achou da compra da Fox pela Marvel? Também partilha dessas preocupações? Só quer saber dos novos filmes de super-heróis? Não está nem aí para nada? Deixe seus pensamentos aí nos comentários.

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