O Lobisomem

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Alfredo, Alfredo de la Mancha, Delfos, Mascote, Alfred%23U00e3o, Delfianos

A Universal é o estúdio com maior tradição de monstros clássicos do cinema. Vampiros, Lobisomens e o Frankenstein eram figurinhas fáceis nos filmes antigos dela. Com a atual onda de remakes, nada mais natural do que remakear uma obra de mil novecentos e quarenta e fuckin’ um. E vou dizer, o negócio aparentemente deve ter sido bem fiel. Fiel até demais. Mas antes, adivinha o que vem?

Na época de outrora, assassinatos misteriosos começam a acontecer. Quem (ou o quê) está por trás disso? Bom, se você leu o título dessa resenha, já deve saber.

Agora falemos de filmes antigos. Você, amigo delfonauta, que tem aí entre seus 15 e 30 anos, já viu algum longa realmente antigo? Não estou falando de Star Wars, mas de algo feito por cineastas que não mais caminham entre nós e que mesmo assim morreram velhos. Pois é, como eu estudei comunicação nas faculdades, fui obrigado a assistir a um monte de “clássicos”. Oh, o horror!

Acontece que, tirando Hitchcock ou George A. Romero, não consigo me lembrar de nada que veio antes dos anos 70 que realmente seja assistível hoje. E olha que eu tentei gostar de um monte desses Encouraçado Potemkim ou Lírio Partido da vida. Eles podem até ter sido filmes excelentes e inovadores à época, e sem os quais nada do que gostamos hoje seria possível. Porém, ao contrário da música, o cinema não é uma arte que envelhece bem. Simplesmente não rola, a linguagem é diferente demais para alguém que cresceu durante ou depois dos anos 80 e as histórias são, em sua maioria, inocentes, bobas e chatas demais.

Assim, não assisti ao Wolf Man de 1941, mas essa versão de 2010 tem todas as “qualidades” que me faziam dormir durante as aulas de cinema. Por isso digo que deve ser bem fiel.

Para começar, ele não traz absolutamente nada de novo, e nem mesmo um feijão com arroz bem temperado. O que traz são cenas requentadas que absolutamente qualquer pessoa com algum interesse no gênero terror já viu centenas de vezes. Três exemplos:

Bu: uma única cena de “bu” (aquelas com aumento de trilha sonora quando passa um gato correndo, por exemplo) é o suficiente para diminuir consideravelmente a nota de um longa de terror/suspense. Afinal, isso é rasteiro e burro, é muito fácil assustar fazendo algo aparecer de repente, não precisa de desenvolvimento nenhum. Susto e medo são diferentes: medo é o objetivo final do gênero de terror e pouquíssimas obras chegam nisso – e as que chegam o fazem com muito esforço e talento. Já susto qualquer um faz, não precisa de talento, nem de criatividade. E repare como normalmente as pessoas começam a rir depois de um desses, o que mostra que elas são mais engraçadas do que qualquer outra coisa. Pois é, O Lobisomem não tem uma cena de “bu”, tem dezenas. Uma delas, inclusive, tem dois “bus” quase juntos, separados por menos de cinco segundos. Ora, faça-me o favor!

Diálogos: quantas vezes você já viu, em um filme de monstro, aquele diálogo onde as pessoas discutem “que bicho poderia ter feito algo assim” e outro responde “um urso, talvez” e assim por diante? Pois é, ainda que isso seja uma conversa natural nessa situação, convenhamos que já foi feita demais. Ninguém mais quer pagar ingresso para ver uma conversa que rola até nas coisas mais trash já feitas.

Final: outro clichezaço de filmes de monstros é aquele final Sexta-Feira 13. “Jason, você não me reconhece? É a mamãe” e daí a protagonista que estava tentando ser reconhecida usa a hesitação do bicho pra matá-lo. E alguém realmente tinha dúvidas em algum momento quanto à identidade do lobisomem assassino? Ah, e em casos de maldição, a última cena é sempre algo que mostra que a maldição foi passada para alguém, né? Pois é. É.

Como se não bastasse o impacto negativo de tudo isso para a integridade da obra, a trilha sonora de Danny Elfman é chupadaça de Drácula de Bram Stoker. Tão parecida, aliás, que achei que eram simplesmente as mesmas músicas. Fui pesquisar e Danny Elfman disse que a intenção foi mesmo se inspirar nessa trilha. Pois é, Danny, a trilha seria excelente. Se fosse realmente sua, claro. Alguém por favor processe esse cara de pau! Aliás, não consigo entender por que diabos o Danny Elfman só é um bom compositor quando o filme é do Tim Burton. É mais ou menos como o Ben Affleck, que só é um bom ator em obras do Kevin Smith.

Mas ok, nem só de defeitos vive O Lobisomem. Esteticamente, ele é belíssimo. A fotografia, a direção de arte, os cenários e os figurinos são um exemplo de como fazer um filme bonito – e ainda assim ter cara de filme, ao contrário dos “filmes gibis” de hoje em dia. Porém, ninguém vai ao cinema por causa da fotografia, e a história é tão chata que tive que ter muita força de vontade para não dormir na cabine.

E sabe o que é pior? O diretor Joe Johnston está dirigindo o longa do Capitão América. Quando eu descobri que ele era o diretor de O Lobisomem, saí da cabine tentando me convencer que o único problema do filme era o roteiro e o diretor não tinha nada com isso. Assim, desde que o bandeiroso tenha um bom roteirista, estamos salvos. Continue repetindo isso para si mesmo e talvez você se convença. Eu ainda não consegui me convencer.

Curiosidades:

– E aí, quem vai ser o primeiro a sacar a referência do destaque da capa? Full moon is on the sky and he’s not a man anymore. Run away, run away, run away!