Lá estava eu, curtindo uns furiosos combates em Nioh Remastered, meu Soulsborne preferido. Eu já tinha terminado a campanha, e estava fazendo o segundo DLC. Na missão em que estava, ainda no caminho entre o primeiro e o segundo altar, tinha um sub-chefe. Se você conhece o gênero, sabe do que se trata. Não é um chefe, mas é um inimigo mais forte que, uma vez vencido, não volta mais, mesmo que você morra.

Ele já tinha me vencido umas três vezes e eu estava ficando de saco cheio. Como sempre, o problema não era nem a luta contra ele, mas ter que fazer todo o caminho a cada nova tentativa, inclusive matando uma pá de inimigos que vinham antes. Enchi o saco e fiz algo que não tinha feito até então na versão remasterizada. Chamei ajuda, não apenas para matar um chefe, mas para me auxiliar no caminho da fase.

Como aconteceu todas as vezes em que um coleguinha entrou no meu jogo nesta versão remasterizada, o meu novo amigo estava absurdamente overleveled. Ele era capaz de matar os inimigos normais com um ou dois golpes. Como base de comparação, eu precisava acertar cada um de oito a dez vezes para vencer.

PARCERIA OU TRAPAÇA

Modo easy nos Soulsborne, Delfos, Praise the Sun, Dark Souls
O sol é a maior esperança. Praise the sun!

Ele matou o sub-chefe para mim. Logo em seguida tinha um altar. E isso é algo que eu odeio, colocar um bloqueio imediatamente antes do checkpoint, não imediatamente depois. Porém, Nioh, como os outros jogos do gênero, só separa coleguinhas após o fim da missão, ou quando alguém morre. Então meu salvador continuou comigo no restante da fase.

Claro, eu podia ter chutado o cara do meu jogo, e seguido sozinho com a exploração. Mas não fiz isso. E o cara se mostrou um ótimo parceiro. Ele foi literalmente me levando pela fase inteira. Me mostrou todos os segredos, inclusive todos os Kodamas, me levou para abrir todos os atalhos, matou todos os inimigos e, claro, quando chegamos no chefe, ele o venceu praticamente sozinho.

Uma missão de Nioh costuma durar mais de uma hora para mim quando eu as faço sozinho. Com esse meu amigo temporário, a gente literalmente limpou a fase em menos de 30 minutos. Depois que ele entrou, eu não morri mais nenhuma vez. E quase não lutei contra nenhum inimigo. Até porque, quando começava uma luta, o cara vinha com todo seu poder e terminava de matar o cara antes que eu pudesse fazê-lo.

A simples presença do camarada tornou uma fase que estava difícil demais para mim em algo que eu fiz sem pensar, sem estratégia alguma. Eu simplesmente corria atrás dele, pegando os itens que ele me mostrava.

TANTO EM NIOH QUANTO EM SOULSBORNES

Dark Souls Remastered, Delfos
Jolly cooperation.

Isso é comum no gênero. Boa parte dos soulsbornes permite pedir ajuda. E eu uso essa ferramenta livremente. Sempre que um chefe me enche o saco, ou eu vejo que não tenho muita chance contra o desafio, chamo alguém na expectativa de que a pessoa “mate pra mim”.

Esse aspecto de Nioh é bem melhor do que em Dark Souls. Em Dark Souls, quem quer ajudar precisa ir para o local onde deseja ajudar e colocar um selo no chão. Depois, tem que esperar alguém chamar pessoalmente por ele. E daí aguentar um monte de irritantes erros de conexão. Em Nioh, caboclinho apenas escolhe no menu a opção “quero ajudar”, e o jogo o transporta para alguém que estiver pedindo ajuda. É bem mais simples e mais rápido.

Em ambos os casos, no entanto, pedir ajuda online serve basicamente como uma forma de “pular” um desafio. É como emprestar o controle para o irmão mais velho pedindo para ele passar daquela parte para você. E daí entra a pergunta:

ISSO É MELHOR DO QUE COLOCAR OPÇÃO DE DIFICULDADE?

A gente já fez um debate muito legal aqui no DELFOS, onde eu defendi que esses jogos deveriam ter um modo easy e o Daniel Villela defendou que não.

DELFOS debate: por que os jogos da From Software NÃO deveriam ter modo easy?

DELFOS debate: por que os jogos da From Software deveriam ter modo easy?

Uma resposta comum de quem é contra essa seleção de dificuldade, é que o jogo já tem isso, na possibilidade de pedir ajuda. E, de fato, isso possibilita que pessoas como eu, sem tempo e paciência para “git gud” consigam terminá-los. Porém, isso é melhor, mais justo e mais útil do que um modo easy perfeitamente tunado pelos próprios desenvolvedores?

Falando por mim, eu sinceramente preferia poder abaixar a dificuldade e matar os chefes e inimigos mais cascudos por conta própria. Eu teria curtido mais a fase do Nioh da crônica acima se a tivesse vencido sozinho, sem ter sido literalmente levado pela mão do início ao fim.

Minha interpretação é que, da forma que as coisas rolaram, nessa e nas outras oportunidades, eu não venci o desafio. Simplesmente outra pessoa passou dele para mim. Entre isso e uma simples opção no menu de “pular o chefe“, não há muita diferença. Além, claro, de que escolher pular um desafio no menu é muito mais conveniente.

OS INCONVENIENTES

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Além de ser simplesmente uma forma mais complicada de “pular desafios”, essas complicações trazem consigo inconvenientes consideráveis.

Quando estava no processo de análise de Nioh Remastered, troquei umas ideias com meu colega Bruno Sanchez. Sei que ele também curte o gênero e, como Nioh é meu preferido, perguntei se ele já o tinha jogado. Ele respondeu que jogou até travar num chefe, e daí abandonou. Perguntei se ele havia tentado pedir ajuda. A resposta? “Eu não assino a Plus”.

E, convenhamos, se alguém não vê valor na Plus ou na Live Gold para pagar por ela (pagar para jogar online simplesmente não é legal, convenhamos), fazer isso só para poder pular chefes é ridículo.

MESMO PAGANDO

Além disso, mesmo que você pague pelo serviço, tem vários outros inconvenientes. Quando joguei o primeiro Dark Souls, o fiz atravéz da retrocompatibilidade do Xbox One, anos depois do seu lançamento. Simplesmente não havia mais ninguém oferecendo ajuda. Eu nem acredito que consegui chegar até o fim sozinho.

Por outro lado, algo comum nesses jogos é que você só pode ajudar alguém a passar de algo pelo qual você já tenha passado. Isso fez com que, durante meu período de análise de Nioh 2, a oferta de ajuda minguasse consideravelmente conforme eu avançava no jogo.

Todos esses jogos são absurdamente difíceis e frustrantes. Isso significa que muita gente, como aconteceu com o Bruno, vai ficando pelo caminho. Assim, é natural ter mais jogadores oferecendo ajuda nos primeiros chefes do que nos últimos. Talvez agora, que Nioh 2 já foi lançado há um ano, seja mais fácil chamar “irmãos mais velhos” para passar de pontos mais avançados da história, mas próximo ao lançamento era bem difícil.

Por fim, chamar ajuda nesses jogos sempre envolve o uso de um item limitado. Se você chama alguém, e não consegue matar o chefe, perde o item sem conquistar progresso. E daí os jogadores acabam fazendo outra trapaça para não gastar todos os itens em vão.

Convenhamos, é muito inconveniente e muita pentelhação para algo que poderia ser muito mais facilmente e convenientemente resolvido tunando o jogo com opções de dificuldade feitas pelos desenvolvedores.

AGORA EU QUERO OUVIR VOCÊ!

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Esses são meus pensamentos sobre a possibilidade de pedir ajuda nesses jogos. Mas como tudo aqui no DELFOS, a opinião de quem escreve é só o começo do assunto. Você acha que essa opção de chamar alguém para passar de um desafio para você é mais justo do que um modo easy? Mais conveniente, artístico? Quem sabe mais true?

Um jogador que termina um Soulsborne chamando alguém para matar os chefes mais cascudos para ele tem maior merecimento do que um que eventualmente jogaria no easy e terminaria sozinho? E, mais importante, é necessário MERECER o direito de se divertir em um game? Ou, como um lazer e entretenimento, ele deveria ser focado em acolher todas as pessoas que se interessarem em viver suas experiências? Bora pros comentários!

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