Imagine um twin-stick shooter ao melhor estilo Harry Potter, com estudantes de magia e criaturas fantásticas. Agora adicione cenários de cair o queixo, elementos de RPG e um fiapinho de história, e você terá uma noção do que esperar de Nine Parchments.

GRÁFICOS TREMENDÕES

A primeira coisa que chama a atenção no novo jogo da Frozenbyte é seu visual deslumbrante. Sem mentira: os efeitos de partículas, a física dos personagens e os cenários são tão incríveis que fazem você esquecer completamente que se trata de um jogo indie.

O game conta com uma enorme variedade de mapas que se aproveitam muito bem da temática de fantasia medieval. De castelos em ruínas a galerias subterrâneas, passando por montanhas geladas e praias paradisíacas, Nine Parchments tem como grande triunfo a qualidade gráfica de seus cenários e a riqueza de detalhes.

Nine Parchments, Delfos
Quase um Uncharted em visão isométrica.

Não foram poucas as vezes em que morri apenas porque estava tirando screenshots da paisagem. E o mais legal é que, mesmo depois de várias horas de jogo, eu ainda conseguia ficar impressionado com a grandiosidade estética dos mapas. Ponto para a Frozenbyte!

JOGABILIDADE MACIA, MAS DESAFIADORA

Os controles de Nine Parchments são responsivos e simples de dominar. Além das funções básicas de caminhar, mirar e disparar, você pode também saltar (o que é bastante útil para desviar de ataques inimigos), desferir golpes corpo a corpo e se teleportar a curtas distâncias.

Apesar da simplicidade dos comandos, existe uma boa dose de desafio adicionada pelo esquema de magias. Existem cinco tipos principais de feitiços: de fogo, de gelo, de vida, de morte e elétrico, sendo que cada um possui uma meia dúzia de variantes em relação à forma como pode ser utilizado.

Nine Parchments, Delfos
Double dragon.

A parte desafiadora dessa mecânica surge no confronto com os inimigos: monstros de gelo, por exemplo, são especialmente afetados por feitiços de fogo, mas imunes a ataques de gelo. Já as criaturas com poderes de fogo não recebem dano de fogo, mas são sensíveis a disparos de gelo, e assim por diante.

Acontece que a barrinha de mana de cada feitiço, necessária para que ele possa ser disparado, esvazia logo depois de cinco ou seis ataques, obrigando o jogador a ficar constantemente trocando entre os feitiços disponíveis.

Assim, não é incomum que você se encontre rodeado de inimigos imunes a seus ataques, apenas desviando deles enquanto espera o feitiço certo se recarregar. Isso cria uma dinâmica de autogerenciamento que exige raciocínio rápido e muita habilidade com os botões, especialmente quando você está enfrentando uma horda de inimigos mistos, cada um imune a um feitiço diferente.

Nine Parchments, Delfos
Tipo assim.

CARA, CADÊ MINHA HISTÓRIA?

Pois é, Nine Parchments meio que não tem um enredo. Quer dizer, até existe uma historinha, mas ela é bem historinha mesmo, em todas as acepções diminutivas da palavra. Existe uma cutscene inicial e uma cutscene final, ambas bem sem graça, tanto em termos narrativos quanto gráficos.

Eis o plot: você é estudante de uma escola de magia que precisa recuperar os nove pergaminhos do título, desaparecidos após um acidente mal explicado. E é isso.

Ao terminar o jogo (isso não chega a ser um spoiler, serião), você volta para a escola e seu professor de magia lhe dá os parabéns por ter coletado os pergaminhos. E é isso.

Existem umas poucas linhas de diálogo/monólogo no início de cada fase, mas elas são apenas comentários do personagem que você está controlando e não acrescentam absolutamente nada à narrativa do jogo.

Nine Parchments, Delfos
Como essa aqui.

UM JOGUINHO ROBUSTO

Ao longo de sua jornada em busca dos pergaminhos perdidos, você poderá desbloquear um total de sete personagens jogáveis (incluindo os dois que podem ser selecionados desde o início), todos alunos da tal escola de magia.

Também haverá uma porção de itens a serem conquistados. Alguns deles são apenas estéticos, como os chapéus, enquanto outros possuem estatísticas que melhoram diferentes aspectos de seu personagem, como as vassouras e cajados usados para o combate corpo a corpo.

Essa vertente RPG do jogo também está presente na árvore de habilidades de cada personagem. Não são muitas as habilidades disponíveis, é verdade, mas elas têm impacto sobre o gameplay. Por isso, saber onde distribuir os pontos ganhos ao término de cada fase é essencial para não rodar na fase seguinte.

Nine Parchments, Delfos
Tem horas que não dá nem para recuar.

FEITO PARA O MULTIPLAYER

Se até agora Nine Parchments pareceu um excelente jogo, é porque ele é mesmo. Porém, existem fortes ressalvas a serem feitas sobre ele, quase todas referentes a seu sistema multiplayer.

É possível, sim, terminar a campanha sozinho. Mas isso é praticamente impossível, por dois motivos: o jogo se torna extremamente maçante e repetitivo em seu modo single-player, e a curva de dificuldade vai de zero a cem em questão de minutos.

Joguei praticamente todo o jogo em dupla, e mesmo assim suamos para atravessar determinados trechos. As últimas fases, em especial, foram um verdadeiro desafio – vencido apenas quando outros dois jogadores aleatórios se juntaram à partida.

Nine Parchments, Delfos
Agora sim.

Parece-me que Nine Parchments foi feito especificamente para ser jogado em quatro pessoas. Ele perde muito de seu impacto quando jogado em dupla, e mais ainda se você tentar jogá-lo sozinho.

Até mesmo a presença do friendly fire parece corroborar essa proposta, já que adiciona uma camada extra de graça e dificuldade às partidas.

O maior problema do jogo, contudo, é o menu extremamente confuso usado para iniciar as partidas. Existe um leque de opções: “Single player”, “Co-op local”, “Co-op online”, “Entrar em uma partida online”, “Entrar em uma partida online com amigos”, “Iniciar uma partida online”, “Continuar uma partida online existente” e por aí vai.

Isso até não seria um problema, se o jogo explicasse direitinho o que significa cada opção. Mas ele não explica, e pior: selecionar uma dessas opções quase sempre iniciará um novo jogo. Agora imagine minha frustração quando tentei iniciar uma nova partida online e tive boa parte do meu progresso apagado, sendo obrigado a recomeçar o jogo do zero.

Nine Parchments, Delfos
Cheguei a pensar em desistir de tudo.

Depois de um tempo consegui entender mais ou menos como funciona esse sistema, mas ele não ficou totalmente claro. Sem contar que, ao iniciar uma partida online com um amigo, por exemplo, você será obrigado a jogar até o fim com aquele mesmo amigo, já que o jogo voltará para o início se você iniciar uma partida com outra pessoa.

NOVE PERGAMINHOS

Oscilando entre altos e baixos, Nine Parchments é um jogo altamente recomendado para quem gosta de fantasia medieval e multiplayer cooperativo. Seus gráficos exuberantes e a jogabilidade responsiva acabam compensando a falta de uma narrativa mais elaborada e os problemas no menu de seleção das partidas multiplayer.

Entretanto, se você deseja se divertir sozinho, sem depender da ajuda de ninguém para passar de fase, talvez este não seja o jogo mais indicado para você. Ele pode ser bastante viciante quando jogado com os amigos, mas igualmente enfadonho se jogado sozinho. Seja como for, seus gráficos e a direção de arte primorosa dificilmente irão decepcioná-lo.