Parece que finalmente o cinema brasileiro anda tendo mais variedade de gêneros e de temas. Recentemente tivemos um filme de terror, um drama inspirado por uma figura de nossa cultura pop e até um longa mais intimista. Motorrad vem para somar a esta lista como um thriller com toques de terror slasher.

E, ainda por cima, com personagens criados pelo quadrinista Danilo Beyruth. O que fez com que erroneamente eu tenha pensado que se tratava de uma adaptação de uma HQ dele quando recebi o convite para a cabine. Mas na realidade trata-se de um roteiro original mesmo, ele apenas deu uma força na concepção dos personagens. Ou seja, possui vários elementos para ser um filme de alto interesse para nós, nerds brazucas.

Na trama, um grupo de amigos vai fazer motocross numa região isolada. Eles entram onde não deveriam e passam a ser perseguidos impiedosamente por uma gangue de quatro motoqueiros todos vestidos de preto com intenções homicidas. A partir daí, é o típico “salve-se quem puder”, enquanto as misteriosas figuras vão trucidando um por um.

É o tipo de história Delfos, Motorrad, Cartaze de filme que já cansamos de ver no cinema estadunidense, mas no brasileiro, sem muita tradição nesse gênero, ainda é novidade. E olha que ele até começa forte, explorando muito bem o silêncio. Demora muito até acontecer a primeira fala e os primeiros diálogos.

E isso é legal. Ele consegue, principalmente nesse início, criar uma boa ambientação toda própria. Também explora muito bem seus belos e isolados cenários (o filme foi rodado na Serra da Canastra, em Minas Gerais). E estes são basicamente seus pontos fortes.

Infelizmente, ele também comete muitos erros. O principal é que ele insere um elemento sobrenatural na trama que nunca é explicado. Tudo bem, não precisa revelar quem são os motoqueiros pretos, o que eles querem e por que estão fazendo aquilo, esse mistério é uma ferramenta comum nesse tipo de filme.

Mas coisas como aquela marca na mão do protagonista e a própria motoqueira que se junta ao grupo (como ela foi parar lá, quem é ela, qual é a dela) são elementos que, sem explicação, não resultam misteriosos e sim mal desenvolvidos e mal amarrados.

Delfos, Motorrad

O roteiro também tem outros problemas mais sérios. Tipo, depois que a confusão já está armada e já morreu gente, um dos caras do grupo saca uma pistola e um dos amigos pergunta por que ele não a usou antes, ao que ele responde: “porra, sei lá, cara!”. Aposto que seria exatamente a mesma resposta que o roteirista daria ao ser indagado por quê adicionou esse elemento que nada acrescenta à trama, não tem a menor importância e deixa a história esburacada.

No geral, o filme cai bastante de qualidade após seu início, ainda que ele seja curto o suficiente para não esfriar demais. Mesmo não se sustentando durante toda sua duração, Motorrad é uma tentativa para lá de válida de fazer um filme de gênero no Brasil, algo que precisamos muito. Se você não tiver grandes expectativas, até vale a assistida. E que venham outros.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
motorrad-reviewTítulo original: Motorrad<br> País: Brasil<br> Ano: 2017<br> Gênero: Thriller<br> Duração: 92 minutos<br> Distribuidora: Warner<br> Direção: Vicente Amorim<br> Roteiro: L.G. Bayão<br> Elenco: Guilherme Prates, Carla Salle e Emílio Dantas.