Lanterna Verde

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Muitos anos atrás, quando fiquei sabendo do filme do Demolidor ao ver o trailer no cinema (era uma época mais inocente), lembro de ter exclamado: caramba, mas o Demolidor é um herói secundário. Como podem fazer um filme dele quando não existem filmes do Capitão América ou do Homem de Ferro? Hoje somos bem menos inocentes, mas ainda é estranho vermos que Lanterna Verde ganhou um filme antes da bem mais conhecida Mulher Maravilha, por exemplo.

Sim, eu sei que o Lanterna é um dos personagens mais queridos entre DCnautas, mas você há de concordar que ele não é muito conhecido fora dos apreciadores de quadrinhos. Fazendo um paralelo com a Marvel, eu diria que o Lanterna está no nível de um Gavião Arqueiro ou um Namor. Ou seja, é mais lembrado por ser um membro do grupo de heróis da editora (Liga da Justiça na DC e Vingadores na Marvel) do que como personagem individual.

Admito, como li muito pouco da DC, todo meu conhecimento sobre o personagem veio das notícias que a turminha de literatura colocava aqui no DELFOS. Ou seja, não sabia quase nada. Sequer sabia quais eram os poderes dele. Sabe-se lá por qual motivo, imaginava que Hal Jordan era um personagem mais cerebral, filosófico, tipo o Surfista Prateado. Qual não foi minha surpresa ao ver um Hal Jordan cafajeste e orgulhoso, lembrando bastante o Tocha Humana?

Bom, para aqueles que, como eu, não conhecem o personagem, aqui acompanhamos a jornada de Hal Jordan, um cafajeste orgulhoso que, por um golpe de sorte (ou azar) do destino, foi escolhido como o primeiro terráqueo a fazer parte da Tropa dos Lanternas Verdes, os responsáveis por manter a paz na galáxia (sim, são praticamente jedis).

E, sabe, por mais que o filme do Lanterna Verde venha sendo destruído em reviews pelo mundo afora, ele não é isento de qualidades. Claro, não vi com os olhos de um fã do personagem, então não faço a menor ideia do que foi ou não mudado no filme, mas é fato que me diverti.

Como disse, sequer sabia quais eram os poderes do herói, e os achei deveras legais ao conferi-los sendo usados na tela grande. As cenas de ação são bem legais e o visual é legalzudo, especialmente em Oa, a maldita palavra que o Word muda para “Ao” toda vez que escrevo. Aliás, é em Oa que acontecem as melhores cenas do longa e é realmente uma pena que o filme não passe mais tempo lá.

O maior inimigo da obra é, essa sim, a história. Trata-se de uma historinha clichê e cheia de furos. Em determinada cena, por exemplo, o herói popa no meio de um ataque do vilão sem ter nenhuma forma de saber que estava acontecendo um ataque lá, dando a maior cara de que falta uma cena no meio (provavelmente foi excluída e ninguém se deu conta da sua utilidade narrativa).

Também incomoda o fato de o filme trilhar caminhos já muito trilhados, como a história de um irresponsável que tem que lidar com uma tremenda responsabilidade e a mania de Hollywood de fazer os vilões ficarem deformados sem motivo aparente. Duvida? Alguns exemplos: Voldemort em Harry Potter, o Imperador em Star Wars, todos os vilões de Dick Tracy e, o pior de todos, X-Men, onde no cinema todo mundo do grupo do Xavier é bonito e, do grupo do Magneto, o único que tem cara de ser humano é o próprio.

Outro problema que vai por esse caminho de recontar coisas já contadas antes é a hostilidade com a qual os outros Lanternas recebem o Hal Jordan. Se eles sabem que o anel não erra em sua escolha, por que ele precisa provar seu valor? Para deixar mais clichê, ora! Ou seja, não tem nenhum motivo para repetir isso.

Assim, Lanterna Verde é um filme que tem momentos bons muito bons e ruins muito ruins. O resultado final acaba ficando em um meio termo, um filme divertido, mas que poderia ser facilmente ignorado se não tivéssemos a obrigação nerd de ver todas as adaptações de quadrinhos.

Acima de tudo, o que ele me fez pensar é que o Lanterna Verde parece ser um herói bem legal, mas o filme apenas esbarra nesse potencial, sem nunca realizá-lo. Talvez seja o mesmo caso do Demolidor: heróis secundários que são legais nos gibis, mas que ganharam longas que não souberam aproveitá-los devidamente. E convenhamos, escolher Ben Affleck ou Ryan Reynolds para protagonizá-los não foi uma boa ideia em nenhum dos casos. =D