Guerra Mundial Z

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Geralmente as histórias de zumbis se passam em um espaço restrito. Uma casa, um shopping center, uma ilha, no máximo uma cidade. Mesmo aquelas histórias onde a epidemia é global normalmente se restringem a mostrar os efeitos em apenas uma localidade. Max Brooks opta, em seu livro Guerra Mundial Z, por ampliar esse escopo, mostrando os efeitos totais de uma verdadeira guerra global em larga escala contra os mortos-vivos.

O nome de Brooks não é estranho aos apreciadores da literatura Z. Ele é o autor de O Guia de Sobrevivência a Zumbis, aquele que deveria ser seu livro de cabeceira caso você espere sobreviver ao vindouro apocalipse, afinal, todo mundo sabe que, quando não houver mais lugar no inferno, os mortos caminharão sobre a terra. Se no Guia ele apresentava um manual de sobrevivência muito bem humorado, aqui ele opta por contar uma história em tom sério.

Mas ele não segue o modelo do romance tradicional, optando pelo formato do relato oral. É como se fosse um jornalista gravando depoimentos de diversos envolvidos nos acontecimentos, e o que se lê seria uma simples transcrição dessas conversas.

Através desses relatos, ficamos sabendo que houve uma epidemia que se alastrou por todas as partes do mundo, saindo de controle. Os zumbis rapidamente se tornaram a maioria. E o que restou da humanidade teve de penar e lutar muito para recuperar sua posição na cadeia alimentar e reconstruir a sociedade.

Antes que você fique bravo e me acuse de dar spoiler, eu não contei o final do livro. Ele começa com a chamada Guerra Mundial Z já terminada, com os vivos vitoriosos e a ordem restabelecida. E embora os mortos-vivos não tenham sido totalmente exterminados, eles não representam mais uma grave ameaça e seu perigo é facilmente controlável.

Também não há um protagonista. Cada capítulo é dedicado a um estágio do processo que quase levou ao fim da humanidade, desde os primeiros sinais de epidemia, o pânico inicial, a guerra em si, o desenvolvimento de novas técnicas para se lidar com um inimigo incansável, até seu final. E cada subdivisão de capítulo é narrada por um dos entrevistados, sempre uma figura que esteve no centro da ação em algum papel de importância.

Assim, através dos relatos de múltiplas pessoas e diferentes pontos de vista, Brooks vai dando o panorama geral do que foi a Guerra Mundial Z e de seu tamanho exato, criando uma história de zumbis de proporções épicas, muito criativa ao tratar da epidemia em diversas partes do mundo e como cada lugar achou sua maneira própria de lidar com a situação.

Contudo, justamente por se tratar de um livro de várias histórias, quase como uma coletânea de contos (mas que aqui formam apenas uma grande narrativa), sofre do natural ponto fraco da irregularidade. Há bons relatos e outros menos interessantes, e está tudo meio que misturado, transformando a leitura num passeio de montanha-russa, indo da diversão ao tédio em questão de poucas páginas.

Ele poderia também ter temperado o texto com um pouco de humor. Não transformar o negócio numa comédia, afinal, essa claramente não era a pegada deste livro. Mas investir em um pouco mais de sarcasmo, que ele usou tão bem no Guia de Sobrevivência a Zumbis, teria deixado a leitura muito mais divertida e contado mais pontos para este livro.

No fim das contas, quem gostou do Guia de Sobrevivência a Zumbis certamente vai gostar deste também e identificar muitas de suas técnicas em ação na guerra. Quem gosta de histórias de zumbis em geral também pode dar uma chance a este livro. Ele não faz jus a todo seu potencial, mas é diversão rápida e inofensiva. Bem diferente do que seria uma Guerra Mundial envolvendo mortos-vivos.