Dynahead – Chordata I

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O amigo delfonauta sabe o que é Chordata? Arrisco dizer que a maioria dos que estão lendo isso não sabe, então caso deseje saber, DELFOS ao resgate!

Chordata é só um dos conceitos inteligentes abordados no mais recente disco do Dynahead. Arrisco dizer que temos aqui uma das obras mais inteligentes do heavy metal nos anos 2000, com letras caprichadíssimas, que merecem ser lidas com a devida atenção.

Infelizmente, é bastante difícil acompanhar as letras enquanto ouve as músicas, pois o layout do encarte colocou todas na mesma página, em um enorme bloco de texto, ao invés de dividi-las em versos, como as poesias que são. Para completar, partes que são cantadas mais de uma vez na música não são repetidas no encarte, o que deixa bem fácil de o ouvinte/leitor se perder. E é realmente uma pena que uma banda com um ponto forte tão forte não tenha capitalizado devidamente neste ponto.

UM PROGRESSIVO MODERNO

É difícil descrever o som que se ouve no disco. Há muito pouco de metal tradicional por aqui. O timbre dos instrumentos e da gravação em si é bem grave, lembrando bastante new metal. Porém, há também muitas quebradas de ritmo que denotam fortes influências do progressivo.

O vocal também é bastante variado. Indo da voz natural ao gutural, e até arriscando alguns falsetes. Cá entre nós, o timbre do vocalista (e baterista e tecladista) Caio Duarte não me agradou muito em nenhuma de suas facetas, mas não dá para não admirá-lo pela absurda variação e capricho que ele coloca em suas muitas vozes. É dificílimo fazer o que ele faz, e o que ele deixa a dever em timbre, compensa com técnica. Por outro lado, seu inglês é enrolado e a forma que ele pronuncia algumas palavras chega a ser engraçado.

Chordata I vai na contramão do que se costuma esperar de um CD de metal. Sabe como a maioria dos álbuns começa e termina forte, e esfria bastante no meio? Chordata I não é assim. A primeira faixa, Abiogenesis, começa lenta, fica pesada, e termina sem nenhum solo.

As coisas começam a realmente ficar interessantes na terceira faixa, Collective Skin, que traz altas variações, um baixo muito legal e o melhor solo de guitarra do álbum.

No entanto, é na seguinte, Dawn Mirrored In Me, que a banda realmente mostra seu grande talento, pois não dá para classifica-la com nada abaixo de “deveras excelente”. Gosto muito dos interlúdios com sabor brasileiro dessa faixa, e sempre achei muito legal misturar idiomas na letra de uma música. É a melhor do álbum, de longe.

O disco traz também duas baladas. A primeira, Echoes of the Waves, com sua levada com apenas teclado e vocal, é belíssima e traz a melhor interpretação de Caio Duarte, que canta esta excelente letra com muito sentimento. A outra balada é a faixa de encerramento, Inevitable, e esta é mais pesada, mais power ballad mesmo. Não é tão legal quanto Echoes, mas ainda é muito boa.

Foster é a única música que traz um sabor mais metal tradicional, e a combinação disso com as tradicionais quebradas do Dynahead deram à faixa um tempero um tanto semelhante a bandas como Dream Theater. Talvez esta seja a música mais “normal” da bolacha.

Growing in Veins não dá uma primeira impressão muito boa, com uma batida que eu poderia jurar que foi feita em uma bateria eletrônica. No entanto, ela melhora bastante, com um caprichado e melodioso solo de guitarra e a letra mais positiva do disco.

Outra cujo começo detrai do restante é Hallowed Engine. Sua introdução tem um quê de Slipknot, o que até gosto, mas quando o vocal entra, tem tanto efeito, tanto barulhinho, e a música fica tão absurdamente devagar que é difícil resistir e não pular a música. Se você resistir, no entanto, será recompensada com uma cozinha com influências brasileiras e uma faixa que, de resto, é muito legal.

ECOS DAS ONDAS

Chordata I é um disco difícil. É aquele tipo de trabalho que é difícil acreditar que vai se tornar popular, mas ao mesmo tempo você torce para que isso aconteça. Ele não segue aquelas fórmulas tradicionais do rock, de estrofe / refrão / estrofe / refrão / solo / refrão / refrão. Claro, há solos e tudo mais, mas dificilmente as coisas aparecem no momento que você espera.

Para você ter uma ideia, eu ouvi o disco dezenas de vezes enquanto fazia outras coisas (dirigindo, trabalhando, etc), e ele não me chamou a atenção. Só fui perceber mesmo quão legal ele era quando sentei para ouvi-lo do começo ao fim com fones de ouvido e acompanhando as letras. Chordata I exige este tipo de compromisso para ser plenamente saboreado, e é fato que nem todos terão essa disponibilidade. Eu mesmo só consegui fazer isso por compromisso profissional, porque estava pegando o disco para resenhá-lo.

Então o que temos aqui é um daqueles raríssimos trabalhos que te devolvem exatamente o que você der a ele. Se investir tempo e atenção, será recompensado com um disco diferente, criativo e muito inteligente. Se não tiver como fazer isso, há grande potencial de ele passar batido. E isso seria sinceramente uma pena.

CURIOSIDADES:

– Não deixe de ler a nossa resenha de Youniverse, o disco anterior do Dynahead.

No site oficial do Dynahead, você pode comprar Chordata I por um precinho camarada, e ainda baixar os dois CDs anteriores dos caras na faixa e sem precisar se cadastrar.