delfos, duplo dexter

Toda vez que mando uma resenha de um novo livro da série Dexter para o Corrales, ele sempre me pergunta por que diabos eu os continuo lendo se não os considero mais que uma leitura mediana e descompromissada. Pode ser por falta de opções melhores no momento, por um completismo que beira o obsessivo de minha parte, ou por acreditar, talvez ingenuamente, que um dia o autor Jeff Lindsay finalmente vai acertar a mão e dar ao serial killer do bem o romance tremendão que ele tanto merece, nos moldes de suas melhores temporadas televisivas.

Mas já cheguei ao sexto volume com este Duplo Dexter e não há nenhuma indicação de que algum dia Lindsay conseguirá ultrapassar a barreira do “bom” para o “ótimo” em seu trabalho. Este tomo é mais um caso de leitura rápida e que entretém, mas que não causa grande impacto e acaba mais uma vez sendo bastante descartável.

Nesta nova aventura, um assassino de policiais assola Miami. Enquanto trabalha no caso em seu emprego diurno como técnico forense, nosso anti-herói volta à velha forma de noite, despachando por conta própria meliantes selecionados a dedo. O problema começa quando o sempre cuidadoso Dexter é pego com a boca na botija.

Um sujeito misterioso testemunha acidentalmente o protagonista numa de suas brincadeiras noturnas e surta. A ojeriza inicial se transforma em fascinação mórbida e não demora muito para que ele descubra a identidade civil de Dexter e passe a representar uma grande ameaça para ele.

Após a trama absurda do livro anterior, este apresenta um enredo mais pé no chão, mas que funciona bem. Principalmente por Jeff Lindsay ter passado a fazer os livros da série com mais páginas, o que ajuda muito no desenvolvimento da história de forma mais natural e na inclusão de tramas paralelas igualmente importantes e que em vários momentos até divertem mais que a linha principal.

Delfos, Duplo Dexter

A relação com o irmão Brian, uma dessas subtramas que havia começado no volume anterior, continua e fica mais divertida, com ele agindo como um prestativo cunhado para Rita enquanto Dexter, embora ainda tenha suas dúvidas se ele não teria algum motivo oculto para a reaproximação, simplesmente aceita o fato e aproveita.

Quem perde muito espaço é Deborah, e ela praticamente não aparece no novo livro. Mas se uns perdem, outros ganham. É o caso de Rita e as crianças, dotados de uma importância maior nesta história. Mas o autor começa a aporrinhar demais com a característica estereotipada de mulher elétrica de Rita, o qual usa desde o primeiro romance, dela não conseguir concluir uma frase sequer, misturando sempre múltiplas linhas de raciocínio em seus diálogos. Aqui isso fica tão irritante que bateu até a vontade de que acontecesse a ela o mesmo que sucedeu a sua versão televisiva.

No mais, o senso de humor peculiar de toda a série, que é o único ponto positivo verdadeiramente constante, continua firme e forte. E parece ser a única característica que o autor realmente domina nas tramas do personagem, todo o resto sempre se mostrou bastante irregular de um livro para outro.

No caso de Duplo Dexter essas outras características voltam a pender para o melhor, e esse acaba sendo um dos melhores livros da saga do assassino serial. O problema é que, em se tratando dessa série literária em específico, ser um dos melhores livros acaba não significando grande coisa. Mas isso, você já percebeu pelo tom das outras resenhas, está dentro da mais pura normalidade.

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