Drive

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Decepção, amigo delfonauta! Como assim Drive não é uma sequência de Drive Angry? Eu tinha certeza que o Ryan Gosling aqui era o Nicolas Cage depois de tomar calmante! Acredite, não é!

Brincadeiras à parte, eis a sinopse oficial de Drive: “Ryan Gosling interpreta neste filme um piloto profissional que trabalha em cenas de perseguição de carros em Hollywood. Além disso, ele usa sua habilidade e precisão no volante como motorista em assaltos. Dentro do seu mundo solitário ele conhece Irene (Carrey Mulligan), cujo marido sairá da prisão em poucos dias. Disposto a ajudar essa família a pagar uma antiga dívida, ele se dividirá entre usar todas as suas habilidades para salvá-la ou embarcar em uma fulminante paixão.

O longa abre com uma cena mostrando o protagonista em um desses trampos de motorista em assaltos. Cena excelente, por sinal. Mas totalmente “excluível”. Acontece que, depois dessa cena, nenhuma outra alusão é feita à sua vida de crime. Ele trabalha em filmes e em uma oficina, e tudo parece perfeitamente legal.

Não era necessário ter mostrado essa “experiência anterior” para justificar a ajuda dele aos vizinhos, pois o personagem já é estabelecido em outras cenas como um motorista tremendão. Ele dirigir para o crime não era necessário. A impressão que dá é que a abertura foi incluída de última hora, para empolgar os espectadores de cara, já que depois disso demoraria bastante para a história engrenar.

Drive tem uma cara diferente, e isso é bom. Ele é mais lento e mais reflexivo do que o cinemão hollywoodiano e tem uma estética bastante interessante. Infelizmente, isso tem seu peso na condução da história. Em alguns momentos, coisas sem sentido acontecem, dando a essas cenas um ar de David Lynch, diretor que claramente influenciou o trabalho de Nicolas Winding Refn.

Daí você pode pensar: “isso é arte, não precisa fazer sentido”, e estará certo. Ao mesmo tempo que é extremamente violento, Drive é também extremamente artístico. Aí está sua maior qualidade e sua maior fraqueza. Qualidade pois o torna um filme único. Fraqueza porque peca no quesito entretenimento, exatamente o que faz 97% das pessoas irem ao cinema, segundo pesquisa recente do Instituto DataDelfos.

Tire a fanfarronice de um Tarantino, e você terá uma boa ideia do que encontrará na segunda metade de Drive. A violência, por exemplo, é tão exageradamente absurda que arranca gargalhadas. Mas o visual e o tom do filme são tão sérios que você acaba se sentindo mal ao rir.

Outra coisa que fez com que eu me sentisse mal foi a Carey Mulligan. Segundo o IMDB, ela já tem vinte e muitos anos, mas parece tão jovem que eu fiquei praticamente arrependido por achá-la bonita. Ela parece ser poucos anos mais velha do que seu filho, por exemplo.

Mas Drive é bom, só não é para todo mundo. Neste texto, o delfonauta Otanari reclamou do preciosismo que eu tenho para com o cinema, e ele está certo.

Considero cinema uma arte mágica. Por misturar narrativa, música e visual, cinema é uma forma de arte totalmente diferente das outras. Não tem nada inédito em seus ingredientes, mas possibilita misturar praticamente todas as outras expressões artísticas em um todo coeso e, assim, se torna único e extremamente poderoso.

Eu adoro cinema e adoro as possibilidades criativas que ele oferece. Justamente por isso me incomoda tanto quando uma obra se limita apenas a repetir, mal e porcamente, o que já foi feito inúmeras vezes.

Se você concorda comigo, Drive é um filme que merece ser assistido. Agora se você, assim como o Otanari, vai ao cinema única e exclusivamente por entretenimento, o que é perfeitamente justo e compreensível, eu recomendo Viagem 2, que é pura diversão descompromissada.

Viagem 2 é um bom exemplo de longa que se dá bem sendo totalmente comercial. É muito divertido, mas é completamente linha de produção. Drive é seu total oposto. É uma obra para apaixonados pela sétima arte, que vão admirar a estética e discutir as influências do diretor, mas para chegar a esse ponto, entrega entretenimento em doses bastante homeopáticas (basicamente nos poucos momentos de perseguição e violência). Se essa descrição lhe apetece, compre o ingresso sem medo, pois Drive é cinema de qualidade.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
drivePaís: EUA<br> Ano: 2011<br> Duração: 100 minutos<br> Roteiro: Hossein Amini<br> Elenco: Ryan Gosling, Carey Mulligan, Bryan Cranston, Christina Hendricks e Ron Perlman.<br> Diretor: Nicolas Winding Refn<br> Distribuidor: Imagem<br>