La La Land – Cantando Estações

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Praticamente todo musical começa com um número grande e elaborado, com o objetivo de impressionar o público logo de cara. La La Land – Cantando Estações não é exceção.

A câmera passa através de um viaduto congestionado, e você pode ouvir baixinho as músicas que estão tocando em cada veículo. Daí aparece uma mocinha cantando. Ela se empolga e sai do carro. Pronto, era o que faltava para todo mundo sair de seus carros cantando sobre a alegria de estar preso em um congestionamento ou algo do tipo.

O número de fato é impressionante, contando com dúzias de dançarinos. O que mais impressiona, no entanto, é que é tudo um único plano-sequência. A câmera se mexe de um lado para o outro, voa, filma de cima, de baixo, de dentro dos carros. Cara, se você acha os clipes do Ok Go maiores legais (eu também acho) espera até ver a abertura de La La Land.

E sabe o que é mais legal? Não é apenas um gimmick. Embora o filme não seja todo um único plano-sequência, é uma sequência de planos-sequências. Especialmente na primeira metade, todas as cenas são longas e com pouquíssimos cortes.

A filmagem é tão legal que você acaba nem percebendo tanto que as músicas em si não são lá tão inspiradas. O filme conta a história da relação de um pianista de jazz (Ryan Gosling) com uma atriz (Emma Stone), mas embora o cara seja um apaixonado pelo estilo e boa parte das conversas sejam sobre este gênero musical, as músicas em si são popzinhos bem açucarados e leves. Não ajuda o fato de que nenhum dos dois protagonistas tem assim um vozeirão marcante. Mas por outro lado, cara, como os clipes dos números musicais são legais.

Uma frase que define bem como eu estava me sentindo durante a projeção é que estava gostando mais de La La Land como filme do que como um musical. A direção é simplesmente estilosa demais, os personagens são simpáticos e as piadas são muito boas.

É bom que ele tenha essas características, pois na segunda metade ele parece se esquecer que começou como um musical. E, santa heresia, ele praticamente abandona os plano-sequências que deixaram o início tão especial.

Os poucos momentos musicais a partir dessa virada não são exatamente números, mas momentos em que os personagens em si estão tocando, o que é bem diferente. São também as músicas mais legais do longa (não por acaso, aí sim são canções de jazz), mas é uma pena que a direção tenha abandonado o estilo do início por algo tão mais lugar-comum.

O filme continua legal, no entanto, graças ao seu ótimo timing cômico e aos personagens bacanas. Não dá para negar que causa estranhamento uma mudança estilística e de gênero no meio da coisa toda, mas nós podemos apenas especular sobre o que aconteceu. Será que a equipe se cansou de repetir cada uma das longas cenas toda vez que algo que não deveria aparecer aparecesse? Faria sentido se a gente não soubesse que dificilmente filmes são filmados em ordem cronológica.

A história é bem lugar comum, se apoiando totalmente no humor e no carisma dos protagonistas. Curiosamente, a Emma Stone está bem diferente. Eu diria até que menos bonita. Claro que, mesmo ela menos bonita ainda é bonita pra caramba.

O roteiro tem alguns erros um tanto crassos, e chega até a repeti-los algumas vezes. Por exemplo, mais de uma vez um dos personagens precisa estar em dois lugares ao mesmo tempo, e daí acaba furando com sua contraparte sem dar nenhuma satisfação. O filme se passa no presente, pois existem celulares e coisas do tipo, o que torna incompreensível alguém deixar o outro esperando na porta do cinema sem sequer uma ligação.

Este é um conflito comum em filmes que mostram os personagens equilibrando vida amorosa e profissional, mas a forma como foi utilizado aqui demonstra uma falta de cuidado que não se encaixa na caprichosa produção.

No entanto, devo dizer que saí do cinema bem satisfeito. Eu não esperava gostar tanto de La La Land como gostei. A parte musical é estilosa, embora as músicas não sejam tão legais, e a parte comédia é engraçada e bonitinha, ainda que não tão estilosa. São quase dois filmes em um, mas se você é daqueles sujeitos estranhos como eu que percebe quando a câmera corta (ou neste caso, não corta), vai sem dúvida se divertir bastante.