Deu a Louca em Hollywood

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Hoje é um daqueles dias em que eu realmente gostaria de ter uma equipe maior no DELFOS. Três eventos importantes no mesmo dia e horário. De um lado do Espaço Unibanco, tinha esta cabine. Do outro, uma coletiva falando da nova programação do Nickelodeon e do VH1, incluindo uma exibição de um episódio do programa Escola de Rock, do Gene Simmons. Por fim, a alguns quilômetros de distância, a cabine de O Bom Pastor, filme que estava muitíssimo a fim de assistir.

Ou seja, não é difícil para você entender que o último lugar em que eu gostaria de estar nesse dia era justamente onde acabei tendo que ir: na exibição para imprensa do mais novo exemplar do Humor Nonsense Grosseiro, abrindo mão de uma coletiva que prometia e de um filme que vou ter que assistir em circuito comercial algumas semanas depois. Tudo porque, como editor do DELFOS, às vezes tenho que tomar uma decisão e colocar os delfonautas na frente do meu próprio gosto pessoal, já que imagino que a maior parte do nosso público fiel prefere ler a resenha delfiana deste filme do que as duas matérias alternativas que resultariam dos outros eventos. Resumindo: eu realmente preciso de mais gente de São Paulo e com manhãs disponíveis para me ajudar nessas coisas.

Desabafos à parte, admito que até tinha uma certa esperança com este longa. Como já aprendemos nesse texto, o nome idiota não significa nada quando se trata de um exemplar de humor nonsense no Brasil, já que as distribuidoras sempre preferiram sabotar suas comédias com títulos que afastam as pessoas ao invés de atraí-las. Além disso, tanto o trailer quanto a proposta prometiam. Por outro lado, este filme é dirigido pelos mesmos dois dos seis roteiristas de Todo Mundo em Pânico que cometeram Uma Comédia Nada Romântica ou, como diria o Rezek, “uma comédia nada engraçada”.

Ao contrário do que o nome original (Epic Movie) denuncia, Deu a Louca em Hollywood não é uma paródia apenas de filmes épicos ou de superproduções, mas na verdade foca a tiração de sarro em filmes adorados pelos nerds. Ou vai dizer que você consideraria Serpentes a Bordo ou Nacho Libre grandes épicos hollywoodianos?

Pois então, justamente essa idéia de parodiar filmes nerds prometia bastante, mas tudo vai por água abaixo devido ao profundo desentendimento da dupla em como fazer humor. Verdade seja dita, de toda a série de “alguma coisa movie” (que antes teve Date Movie e Scary Movie, nomes originais de Uma Comédia Nada Romântica e de Todo Mundo em Pânico respectivamente), este é o menos grosseiro. Mesmo assim, são pouquíssimas as piadas que tiram um sorrisinho, que dizer então daquela gargalhada gostosa que qualquer comédia que se preze deve tirar?

Existem algumas piadas envolvendo fluidos corporais e coisas do tipo, mas o principal defeito desse filme é o timing. É comum você matar a piada antes dela acontecer ou então ela perder completamente a graça por causa da falta de habilidade dos roteiristas em encerrá-las no momento certo.

As características citadas acima fazem com que este seja o pior exemplar da série “alguma coisa movie” e, sinceramente, isso é um desperdício, pois era o de maior potencial. Em mãos mais talentosas, esta idéia e esta mesma equipe (com exceção da dupla principal, que encabeça roteiro e direção) poderiam render um filme maravilhoso. Basta pegar os figurinos, por exemplo, para constatar o talento de quem os criou. Acredito que qualquer nerd vai rir do Magneto com um imã no capacete ou com o Wolverine com cara de bobo. Só que nada adianta fantasias caprichadas e divertidas se não for dado um bom material para os atores trabalharem.

Tirando alguns esquetes que são completamente independentes do restante, este filme segue a mesma história de Crônicas de Nárnia. A impressão que dá é que os roteiristas simplesmente escreveram o roteiro enquanto assistiam ao DVD do épico infantil e iam reescrevendo as cenas apenas acrescentando algumas piadas. Que fácil, né? Criar piadas em cima de algo que já existe é uma das coisas mais fáceis do mundo, principalmente se não exigir criação nenhuma. As paródias cinematográficas bem sucedidas (do ponto de vista artístico) tiram sarro de clichês do gênero escolhido, mas não se apóiam em recriar cenas de um filme específico ou simplesmente recontar a mesma história integralmente. E é exatamente isso que Deu a Louca em Hollywood faz. É um remake de Crônicas de Nárnia com baixo orçamento e comediantes no elenco. Nada além disso. Se as piadas fossem boas, ainda daria para relevar a história fraca, mas como não são, sobra apenas um festival de tédio.

Uma crítica muito comum feita para jornalistas de qualquer ramo do entretenimento é “se não gosta, faz melhor”. Isso é estúpido, já que você não precisa saber tocar todos os instrumentos de uma orquestra para gostar ou não de música clássica, por exemplo. Mas nesse caso, sou obrigado a dizer que, dado as condições que foram dadas para a dupla criativa, o mesmo elenco e equipe técnica, o mesmo dinheiro e a mesma idéia, eu acredito que faria miséria neste filme. Não sei se seria um sucesso comercial, mas tenho certeza que seria um filme muito divertido para os nerds e demais fãs dos longas originais.

Por exemplo, por que não seguir a linha do Shrek? Acredito que todos concordam que o longa do ogro verde se trata de uma paródia a contos de fadas. Mas ele não reconta a história do Peter Pan, Três Porquinhos ou Chapeuzinho Vermelho. Ele simplesmente junta todas essas em um mesmo mundo e recria algo baseado no maior clichê do gênero (o valente cavaleiro que vai salvar a princesa das garras de um dragão feroz). Isso permite que não só uma boa história seja contada, mas que também personagens facilmente reconhecíveis pelo público apareçam como coadjuvantes e, se for bem feito, podem se tornar até mais queridos do que os que o originaram. Ou você discordaria de mim se eu dissesse que o Gato de Botas nunca foi tão popular quanto é hoje, depois de aparecer em Shrek 2 como coadjuvante/paródia?

Enfim, seria algo nessa linha que eu faria. Aliás, eu realmente gostaria de escrever o roteiro de um filme assim e tenho quase certeza que se eu tivesse oportunidade e condições de fazer um Epic Movie como o descrito no parágrafo acima, você provavelmente ficaria bem interessado em assisti-lo e gostaria bem mais dele do que deste aqui. É uma pena que eu não sou filho de um ator famoso nem sou o herdeiro de um grande império bancário… Isso tornaria nossas vidas bem mais fáceis. 😉

Curiosidades:
– De todas as minhas resenhas, essa foi a mais “fora dos padrões de uma crítica de cinema comum”, mas não acho que você vá se importar com isso, afinal, você não está em um “veículo de cinema comum”.

– Olha como brasileiro faz tudo nas coxas. A paródia da Feiticeira Branca (White Witch, que até já rendeu uma música do Savatage) se chama White Bitch (algo como Vadia Branca). No release do filme, chamam a personagem de Branquela Perversa. Já nas legendas, o nome da guria é Rameira Branca. E aposto três fios dos pêlos do meu braço que, quando lançarem o DVD, vão se referir a ela com um nome diferente nos menus e com um outro na dublagem. Isso se não inventarem mais um para as legendas criadas para o disquinho. É por coisas desse tipo que eu normalmente assisto meus DVDs sem legenda e, quando possível, sempre escolho menus em inglês. Será possível que ninguém revise essas coisas ou será que até os diretores das distribuidoras fazem seus trabalhos nas coxas? Pensando que eles aprovam a tradução de Epic Movie para Deu a Louca em Hollywood não duvido nada.

– A atriz que faz a tal White Bitch (vamos manter o nome em inglês, porque assim temos certeza que estamos usando um nome oficial, certo?) é Jennifer Coolidge, que você provavelmente reconhecerá como a Mãe do Stifler.

– Aliás, de gostosas esse filme está bem servido. Temos também Jauma Mays (de Vôo Noturno, que tem olhos tão grandes e tão lindos que eu tenho vontade de enfiar meus dedos neles) e Faune Chambers, sem falar da maravilhosa Carmen Electra (que, aliás, já está virando presença garantida em todos os exemplares do nonsense grosseiro), talvez uma das últimas mulheres realmente gostosas a serem aceitas em Hollywood.

– Em tempos de cotas para negros, latinos e etc e tal, que tal fazermos um abaixo assinado para que todo filme tenha pelo menos uma gostosa? Aposto que todos os homens que não aprovam as mulheres cada vez mais magras monopolizando o cinema e a TV ficariam bem agradecidos. Alguém apóia?

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).