Dead Space 2

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Não existe gamer que leve a sério seu hobby e que não tenha experimentado o primeiro Dead Space, tamanho o sucesso e a popularidade do jogo. Esse sucesso parece não ter sido afetado pelo jogo ser apenas uma (boa) mistura entre Doom 3 e Bioshock. Tudo que faz sucesso e é popular ganha uma continuação. Assim, chega às lojas Dead Space 2.

UM BÔNUS LEGAL, PORÉM MAL FEITO

Se você comprar a versão de PS3 (ou pelo menos as primeiras edições), seu jogo trará de brinde o port para o negão do Dead Space: Extraction, a prequência até então exclusiva do Wii. Trata-se de um on-rails shooter que pode ser jogado com o Move ou com o controle normal.

E sabe o que mais? É um jogo legal pra caramba e é muito legal comprar um jogo e levar dois pelo mesmo preço que os caixistas desembolsam por apenas um. Porém, a forma que o bônus foi incluído é nada menos que ridícula.

Dead Space: Extraction também está à venda na PSN por 15 doletas estadunidenses. Dessa forma, pensei que muito provavelmente o jogo viria com um voucher para o download, embora estivesse torcendo para vir direto no disco, possibilitando a bem-vinda economia de espaço no meu HD.

Infelizmente, optaram por uma mistura desses dois, e pior do que ambos. O jogo vem no disco, mas quando você escolhe rodá-lo, ele copia TUDO para o HD, em uma instalação que leva mais de 30 minutos e ocupa eróticos quatro fuckin’ giga do seu espaço.

“Ok, fizeram assim para nos poupar de baixar os quatro giga. Pelo menos vou poder jogar sem colocar o disco”, pensei. O delfonauta me conhece, eu sempre vejo o copo meio cheio. Mas não, o jogo inteiro é copiado para o HD e ainda assim precisa do disco para ser rodado. Caramba, se vai vir no disco, rode direto do disco. Se vai ocupar o mesmo espaço do download, pelo menos me deixe jogar sem colocar o maledeto disco. Mas não, nenhum dos dois.

Ainda assim, é de graça e é um excelente jogo, mas convenhamos que foi um trabalho bem tosco do pessoal da Visceral.

SPOILER: PULE ESSE TÓPICO SE VOCÊ NÃO JOGOU DEAD SPACE 1

Ainda aqui? Ok. Ao terminar o primeiro Dead Space, somos brindados com esse terrível final aí embaixo:

Sustinho final? Sigh. Ok, mas por pior que isso seja, o protagonista morreu, não? E isso não é citado em nenhum momento no segundo jogo. Sequer falam se isso aí foi uma alucinação (é o que parece) ou se ele conseguiu se defender a tempo. Muito mal explicado e um imenso rombo de roteiro.

DEAD SPACE 2

Para efeitos de Dead Space 2, a Visceral esqueceu o final do primeiro e simplesmente considerou que Isaac escapou vivo, mas com sequelas. No início do jogo, você é acordado por um futuro presunto em um lugar desconhecido. Ele morre logo e você se vê sozinho e desarmado em meio ao que parece ser uma nova infestação de necromorphs. Pior, você não está sendo caçado apenas pelos monstros, mas também por outros humanos. Eu sugiro que você corra. =P

Como você já deve ter percebido, esse começo é assustador pra burro. Você fica uma boa parte do tempo desarmado, tendo que se defender apenas com a telecinese. Logo de cara já temos tudo que uma boa aventura de terror deve ter, e o estoque de fraldas promete acabar rapidinho.

EVOLUÇÕES

Logo algumas outras evoluções ficam evidentes também. No primeiro jogo, nas poucas vezes em que você encontrava outro ser humano, ele estava atrás de um vidro. Aqui temos algumas interações cara a cara que são bem legais. Além disso, a colônia em que o jogo acontece é um lugar muito mais vivo. Existem lugares como praça de alimentação e escola, que deixam claro que pessoas viviam ali.

Mais legal ainda é que é possível identificar o que sobrou das roupas de alguns necromorphs. Por exemplo, quando você está na igreja, verá monstros vestidos com restos de trajes ceremoniais. Tudo a ver, afinal, eles eram pessoas antes. Para melhorar, é comum você ver os monstros atacando outras pessoas, mostrando que você é só parte de algo maior e não o único alvo dos bichos, como parece ser no primeiro.

Infelizmente, isto parece ter sido algo pensado especialmente para o início do jogo, pois logo o lugar fica tão morto quanto a Ishimura do primeiro jogo. Seria legal se, durante toda a duração de Dead Space 2, víssemos pessoas lutando para sobreviver. É uma pena também que você nunca tenha a opção de se defender dos guardas que estão te caçando, tendo sempre que fugir quando os encontra.

Aliás, Dead Space 2 parece ser um jogo onde todo o planejamento foi para esse início, pois ele perde bastante fôlego no decorrer da aventura. No começo, eu estava precisando trocar minhas fraldinhas a cada 15 minutos, mas assim que terminei de pegar os troféus que exigiam grinding e me deixavam indefeso (tipo “mate 30 necromorphs com kinesis”) e comecei a usar as armas realmente boas, o foco logo foi de terror para ação chucknorrística.

Vi em algum lugar uma comparação entre Dead Space e o filme Alien, como franquias que começaram focando o terror e foram para a ação na segunda edição. Concordo com essa afirmação, e até gosto dessa evolução.

A evolução que não me agradou foram os cenários. O primeiro jogo acontece quase inteiro na nave Ishimura, então tem pouquíssima variação de cenário. E o começo do segundo promete, pois o lugar parece uma cidade mesmo, com cenários bem variados. Mas isso não dura muito, pois da metade para o final, a variação praticamente desaparece e você volta a andar por corredores e cavernas típicos de ficção científica.

Além disso, você passa uma boa parte do jogo dentro da própria Ishimura, repetindo fases do primeiro Dead Space. Para ser mais específico, no trecho em questão você repete três fases do primeiro jogo. Claro, os inimigos aparecem em momentos diferentes e tem algumas outras diferenças que não vou estragar aqui, mas ainda assim, você está jogando de novo três fases que já tinha jogado. Até seria legal retornar para a Ishimura, mas considero que esse retorno foi estendido por mais tempo do que deveria.

COMBATE E FASES

O combate é praticamente o mesmo do anterior, seguindo a interessante fórmula de “atire nos membros”. Tem várias armas novas, mas a melhor opção continua sendo você deixar tudo guardado no cofre e usar apenas o Plasma Cutter.

Você pode carregar até quatro armas ao mesmo tempo, mas isso não é recomendável, pois as munições que você vai encontrar dependem das armas que você está carregando. Se você estiver com quatro delas, os itens que você vai encontrar serão divididos entre elas, e o espaço para carregá-las é limitado. A munição do Plasma Cutter ocupa pouco espaço no inventário, e a arma é uma das mais eficientes, tornando-se, assim, a melhor opção.

Uma diferença considerável em comparação ao primeiro jogo é que os capítulos não têm mais um “ponto final” marcado. Agora Dead Space 2 segue aquele jeitão Uncharted. As fases são contínuas e sem interrupção. Ao passar por determinadas áreas, simplesmente aparece a frase “Chapter X” e o jogo continua.

Eu gosto bastante desse tipo de estrutura, mas o lado negro é que, ao contrário de Uncharted, Dead Space 2 ainda usa o obsoleto “save manual em pontos específicos”. Se você é como eu, gosta de parar de jogar ao terminar uma fase/capítulo e a maioria delas não tem save imediatamente no início. Em alguns poucos casos, é necessário até matar alguns monstros antes de chegar ao save point.

De qualquer forma, isso melhorou bastante a rotina do jogo, que agora dá a sensação de você estar sempre evoluindo, sem mais daquela fórmula de “comece no centro do mapa, faça todas as bifurcações possíveis uma por uma e volte ao início para ir para a próxima”. Tem um pouco de backtracking sim, mas não é nada tão grave ou tão chato quanto era no primeiro.

Isso também traz um lado negro, no entanto, pois antes o ponto central da fase (por onde você passava a cada cinco minutos) sempre tinha um save point, um upgrade point e uma loja. Aqui algumas lojas e saves estão bastante espaçados, muitas vezes obrigando a gente a jogar mais do que gostaria quando quiser parar e, como o espaço no inventário é limitado, jogar vários itens úteis fora. Isso incomoda especialmente no começo do jogo, quando os capítulos são maiores e você tem pouquíssimos espaços para carregar itens.

UMA COISA MELHOR, OUTRA PIOR

Uma diferença considerável que você vai sentir aqui é nos momentos de gravidade zero. Agora você é completamente livre para “voar” pelo cenário. Se você acha que isso deixaria os combates assustadores demais, pode respirar aliviado (ou decepcionado), pois a maior parte desses momentos são puzzles sem inimigos e, nas raras ocasiões em que você é atacado, é por um bicho que não sai do lugar. Se a ausência de combate em zero-G é boa ou ruim, fica para você decidir.

Uma coisa que ninguém vai gostar, no entanto, são os controles dessas seções, mais especificamente para virar de um lado para o outro. Sabe-se lá por qual motivo, os controles foram programados para, quando você colocar para direita ou esquerda, seu personagem não apenas vira nessa direção, mas vai também se inclinar. Se a ideia disso foi desorientar o jogador, deu certo, mas parece uma forma tão tosca para se fazer isso que não duvido que seja um bug e que venha a ser corrigido por um patch. Isso deixa difícil até para fazer algo simples, como apontar sua mira para a direita, pois ela iria automaticamente para direita e para cima/baixo.

Arrumando esse pequeno bug dos controles, no entanto, essas partes em zero-g são potencialmente a maior melhora do jogo. É uma pena que isso role em tão poucos momentos. Outra coisa que foi quase excluída nessa continuação são os trechos em vácuo. Ainda estão aqui, mas são raríssimos.

Por fim, uma das principais características do primeiro jogo eram os chefes grandes e empolgantes, culminando numa das melhores lutas finais de todos os tempos. Dead Space 2 não expandiu nisso. Na verdade, excluíram completamente os chefes do jogo. Tem uma batalha final, mas não pode ser necessariamente considerada um chefe. É mais algo tipo “atire em uma árvore enquanto tem inimigos normais te atacando”.

Dead Space 2 tem grandes cenas de ação e momentos pintudíssimos, mas é uma grande pena que não tenha continuado a tradição dos seus excelentes chefes.

O MOMENTO MAIS ASSUSTADOR DA HISTÓRIA DOS GAMES

Pelo que falei acima, você já sabe que o jogo começa assustador, e depois o foco na ação torna o estoque de fraldinhas desnecessário. Porém, tem um momento lá perto do final do jogo em que você tem que fazer algo dentro de uma máquina (o popular “step three”) que é a coisa mais aflitiva que já vi num game.

Gamer que é gamer já está acostumado a ver coisas como tripas arrancadas com a maior naturalidade. Então acho que significa algo quando eu digo, na maior sinceridade, que Dead Space 2 tem a única cena da história dos games que me deixou com dificuldade de olhar para a tela. Não é nada tão violento quanto tripas arrancadas, mas é muito mais aflitivo e assustador.

Infelizmente, logo depois disso, que é o momento mais inesquecível de Dead Space 2, o jogo decide dar uma de cabeça de mamão e repetir a pior coisa do primeiro jogo.

PQP! NÃO ACREDITO QUE REPETIRAM ISSO!

Se você jogou o primeiro jogo, deve se lembrar daquelas duas fases pentelhas em que você é caçado por um monstro que não morre. Possivelmente, você também ficou de saco cheio daquele bicho, pensando em como diabos algo tão “não divertido” passou da fase de testes.

Pois Dead Space 2 repete essa pentelhação. E se no primeiro o bicho era uma experiência do cientista louco e tinha toda uma história ao redor dele – e uma satisfação considerável quando você consegue matá-lo de uma vez, aqui ele simplesmente popa do nada, imediatamente depois do momento inesquecível supracitado. De onde ele saiu? Por que ele não morre? Nada é explicado e não pode ser o mesmo bicho do primeiro jogo, pois a gente o matou!

E dali em diante, ele te “faz companhia” pelas próximas duas fases inteiras, sumindo do nada, da mesma forma que apareceu, imediatamente antes da luta contra o “último chefe”. Assim, esqueça coisas como exploração, upgrades ou simplesmente curtir os combates nas últimas duas fases, pois você vai ficar toda a duração delas jogando com pressa para fugir do bicho, fazendo cara de entediado e torcendo para o jogo acabar logo.

É um troço tão frustrante, imbecil e sem razão de existir quanto o círculo da fraude no Dante’s Inferno, com a diferença de que Dead Space 2 já seria grande o suficiente sem essas duas fases. E, se elas não estivessem aqui, provavelmente a nota subiria para um quatro ou até mesmo um potencial 4,5.

O CHUCK NORRIS É UM MARIQUINHA PERTO DE MIM!

Se você se considera o sujeito mais pintudo do mundo, Dead Space 2 traz um modo de jogo criado especialmente para você. Trata-se do hardcore. Nele, ao morrer, você terá que voltar para seu último save, e você só pode salvar três vezes.

Acredito que isso seja bem emocionante para quem quer um desafio extremo e gosta de administrar saves, mas a possibilidade de isso fazer com que eu desmembre o gato é tão grande que decidi dar um “não, obrigado” e sequer tentar.

Além disso, não teria tempo livre suficiente para encarar o desafio. Meu passeio por Dead Space 2 levou 15 horas. Se você dividir os saves igualmente (o que provavelmente não faria, pois o final é mais difícil e exigiria mais checkpoints), significa que teria que dividi-lo em “sentadas” de, no mínimo, cinco horas. E já pensou perder cinco horas de jogo porque acabou sua munição ou você cometeu um errinho?

Dessa forma, boa sorte para os que encararem o desafio. Se você conseguir vencer nesse modo, avise aí nos comentários, pois você terá minha eterna admiração durante os segundos que eu levar para ler seu comentário. =D

MULTIPLAYER

O jogo traz também um multiplayer online baseado em times, no qual você pode jogar com humanos ou necromorphs, mas nas duas ou três vezes que eu tentei jogá-lo, não achou ninguém. Não sei se não tem ninguém jogando mesmo ou se é um bug do matchmaker. Talvez usuários do Xbox 360 tenham mais facilidade para achar outros jogadores. O lado bom é que pelo menos não tem nenhum troféu online, o que os colocaria na categoria dos troféus impossíveis por incapacidade técnica. =D

CONCLUSÃO

Dead Space 2 traz mais ação e menos terror em um jogo que melhora muita coisa do anterior, mas que mantém alguns de seus vícios e problemas. É um jogo bem legal, que acaba se auto-sabotando ao optar por prolongar sua duração usando fases repetidas, repetitivas e o tal “inimigo que não morre”, que é uma das piores decisões de design desde a clássica “empurre a caixa ladeira acima com inimigos infinitos te batendo”.

Vale a compra, mas valeria ainda mais se terminasse antes. Se você não faz questão de terminar a história (não tem chefe mesmo), jogue até a parte do step three e mude de jogo. Aí sim você vai sair se sentindo satisfeito. =D