Com pandemia, COVID e todas as outras coisas horríveis que têm acontecido no macro e no micro das nossas vidas, parece que 2019 foi décadas atrás. Porém, faz apenas dois anos e uns trocados que eu publiquei aqui minha extremamente elogiosa crítica Turma da Mônica: Laços. E hoje, veja só, já temos uma continuação. Bem-vindo à minha crítica Turma da Mônica Lições.
CRÍTICA TURMA DA MÔNICA LIÇÕES: O FIM DA INFÂNCIA
Por um lado, é muito estranho que os personagens criados por Mauricio de Sousa tenham ganhado apenas um filme em live-action antes deste. Certamente, a popularidade da Turma da Mônica e seus adendos teriam sido suficientes para gerar um verdadeiro Mauricioverso.
Por outro, é muito difícil fazer uma série de filmes em live-action com protagonistas crianças. Afinal, crianças crescem muito rápido. Em Laços, os atores principais pareciam estar na idade correta para fazer a turminha do bairro do Limoeiro. Agora eles já têm aparência de adolescentes fazendo papéis mais jovens. Em entrevista após a sessão, o diretor Daniel Rezende falou, por exemplo, que eles tiveram dificuldades em fazer a dublagem (se referindo a ADR, claro) do Cebolinha porque a voz do ator Kevin Vechiatto mudou depois de encerrarem as filmagens. É o tipo de problema sem solução, que não é culpa de ninguém, e não dá para evitar nem contratando crianças extremamente talentosas, como fizeram neste caso.
Portanto, o que fazer? Ou você troca os atores, para manter os personagens sempre na idade ideal, ou aborda narrativamente o crescimento deles. Esta segunda opção foi o escolhido para Lições.
MUDANDO DE ESCOLA
Após as crianças se machucarem cabulando aula, os pais da Turma da Mônica são chamados para conversar na escola. Os adultos parecem ter finalmente se tocado que a relação entre eles não é saudável. Afinal, o Cebolinha vive provocando e xingando a Mônica, e esta reage fisicamente. Tava mais do que na hora de separarem os dois. Então, a família Sousa resolve mudar a Mônica de escola.
Magali e Cascão sofrem desde o início com a separação. O Cebolinha inicialmente fica feliz. Afinal, agora ele é o dono da “lua”. Mas logo começa a sentir falta da amiga. A Mônica chega na escola nova sendo extremamente antipática, mas eventualmente aceita a situação e resolve fazer novos amigos. E isso a leva a ser desnecessariamente cruel com o Cebolinha quando ele vem tentar retomar o contato.
Eu me lembro bem como mudar de escola, de casa ou o que quer que seja parecia decretar o fim das amizades quando se é criança. Afinal, uma criança sem independência tem poucas possibilidades de ver amigos fora da escola ou do bairro. Depois que a gente cresce, simplesmente ficamos sem possibilidade de ver mais ninguém por causa do excesso de obrigações que o sistema capitalista joga nas nossas costas. Mas as amizades não acabam mais tão fácil.
Eu tive amigos muito queridos em uma das minhas primeiras escolas e, quando mudei para outra, em poucos meses já não tinha mais contato nenhum com eles. Agora, com a pandemia, eu estou sem ver praticamente todos os meus amigos há cerca de dois anos, mas ainda gosto deles, e mantemos algum contato via aplicativos de conversa. Convenhamos, não é como se, mesmo antes da pandemia, a gente tivesse tempo para se encontrar sempre que queríamos.
VOLTANDO A LIÇÕES
Você já deve ter percebido, portanto, que Turma da Mônica Lições é um filme do estilo coming of age. Arrisco dizer, aliás, que este é um dos temas mais batidos de Hollywood, especialmente para longas na linha Sessão da Tarde. E este, para mim, é o principal problema de Lições.
Laços era uma aventura. O escopo era maior do que uma historinha qualquer dos gibis, claro, mas era uma aventura da Turma da Mônica, que aproveitava muito bem o poder e o carisma de seus personagens. Lições vai por outro caminho. Correndo o risco de deixar os fãs bravos e/ou tristes, este é apenas um Sessão da Tarde genérico com personagens conhecidos. Se você muda o nome e o figurino dos quatro protagonistas, o filme ainda funcionaria do mesmo jeito, perdendo apenas em carisma. Em outras palavras, você já viu Lições antes. Muitas vezes.
CRÍTICA TURMA DA MÔNICA LIÇÕES: CARISMA
Mas aí que tá, carisma ele tem de monte. Mesmo vivendo uma história genérica, ainda temos atores parecidos com os personagens dos gibis. E Lições faz um ótimo trabalho no desenvolvimento do Mauricioverso, apresentando um monte de personagens secundários tirados dos gibis. Temos as crianças, como o Do Contra e o Franjinha, o que já é super legal. Mas temos também a galera de outras turmas, que normalmente não interagem com as crianças. Refiro-me a Tina, Rolo, Pipa e Zecão, por exemplo.
Ver personagens conhecidos do gibi que ainda não tinham aparecido no cinema é muito legal. E, assim como com os quatro protagonistas, a turma do casting e do figurino fez um excelente trabalho em levar o visual cartunesco de todo mundo para a vida real.
E JÁ QUE FALAMOS DO FIGURINO…
… Teve uma coisa que me incomodou, e é algo que eu já reclamei aqui muitas vezes: lembra como é chato quando os super-heróis no cinema ficam tirando as máscaras? Lições faz o equivalente, considerando que seus personagens não usam máscaras. Os quatro protagonistas trocam de roupa várias vezes. Salvo engano, eles só usam as roupas clássicas, que aparecem no pôster e na maioria das imagens de divulgação, nos primeiros minutos do longa.
Não interessa a roupa que usem, eles sempre vestem tons que reflitam as cores que normalmente ligamos a eles (vermelho para Mônica, amarelo para Magali, por exemplo), mas é muito mais legal ver a Mônica com o vestidinho vermelho que conhecemos tão bem. Inclusive, na coletiva de imprensa do lançamento de Laços, os quatro protagonistas apareceram com o figurino dos personagens. Dessa vez, eles se vestiram para a entrevista com as cores dos personagens, mas com roupas alternativas, mais chiques, típicas de celebridades no tapete vermelho, sabe?
Talvez seja um tanto injusto esperar que Lições seja melhor do que Laços, considerando quão legal Laços é. Mas eu sinceramente esperava que fosse pelo menos tão legal quanto. E não é. Lições ainda é carismático e um filme divertido, mas está mais para um Sessão da Tarde tradicional do que para uma obra criada especificamente para estes personagens.