O holandês Vincent van Gogh é um dos pintores mais reconhecidos e celebrados do mundo. Também é famoso por ser o cara que cortou a própria orelha fora. É, ele tinha alguns problemas…
No Portal da Eternidade é sua cinebiografia, e centra-se no período em que ele morou no sul da França, nas cidades de Arles e Auvers-sur-Oise, época de sua vida de grande criatividade artística, muitos problemas mentais e zero reconhecimento por parte de seus pares e do público em geral.
Dono de uma visão única da beleza do mundo, que colocava em suas telas, era incompreendido por esta não ser uma visão realista da natureza e dos outros temas que pintava. De fato, muitos achavam sua arte feia e desagradável. Nada como o teste do tempo para mudar opiniões.
O longa conta muitas coisas interessantes para quem quer saber um pouco mais sobre sua vida pessoal, como a amizade com Paul Gauguin (Oscar Isaac), sua relação com seu irmão Theo van Gogh, que o sustentava para que ele pudesse pintar, e sua visão de mundo e de como ele via sua própria arte.
Claro, a história da orelha também está presente e é até interessante observar o diretor Julian Schnabel se virando para, depois que o fato acontece, evitar ao máximo mostrar o lado esquerdo de seu rosto.
SEM PINTAR, ACHO QUE NÃO CONSIGO VIVER
A fotografia é muito bonita, emulando as cores e sensações de suas pinturas, tentando traduzir como ele enxergava o mundo. As paisagens campestres francesas também ajudam muito neste sentido.
No mais, ele tem a estética típica de um filme de arte, o que já não o torna algo para qualquer público. Tem muita câmera na mão (a maioria desnecessária), longas passagens de Vincent andando pela natureza, longos silêncios e muitos diálogos sobre a arte, especialmente entre van Gogh e Gauguin, que são muito bons e definem claramente as diferenças estéticas entre os dois amigos pintores.
A indicação ao Oscar de ator para Willem Dafoe é justificada, e acho até que o filme merecia mais algumas em categorias técnicas, como fotografia e design de produção, por exemplo.
No Portal da Eternidade é o tipo de história que mostra que a genialidade artística nem sempre está de acordo com sua época e nem sempre casa bem com os outros aspectos da vida. Mas consegue fugir bem do clichê do artista sofredor, mesmo retratando uma alma atormentada.
Particularmente, gosto desse tipo de história, e ainda que o longa cometa alguns excessos (como as já citadas câmeras na mão), no geral ele amplia bem esta estética mais artística com a narrativa da vida de seu biografado. Para quem gosta das obras de van Gogh e mesmo para quem quiser conhecer um pouco mais sobre sua vida, vale o ingresso.