Crítica Nefarious: possessão demoníaca racional

Um filme de terror focado em diálogos.

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Nefarious, Crítica Nefarious, A2, Delfos

Se você é leitor do DELFOS (high five!) sabe que eu não sou fã de terror sobrenatural, e prefiro histórias sem fantasminhas, demônios e afins. Porém, ocasionalmente algo do gênero me chama a atenção e eu realmente gosto muito. É o caso de Nefarious, assunto da crítica de hoje.

CRÍTICA NEFARIOUS

Nefarious é um filme de terror sem violência (com exceção de uma cena final) e sem sustos. A coisa dá medo por ser puramente racional. O filme conta a história de um psiquiatra (Jordan Belfi) incumbido pelo jurídico de determinar se um assassino condenado à morte é mentalmente apto para ser executado. Pois é, sei que isso é estranho, mas nas leis estadunidenses, o Estado só pode matar um criminoso se ele for são.

A questão é que o assassino em questão, Edward Wayne Brady (Sean Patrick Flanery), diz estar possuído por um demônio. Os funcionários da cadeia acham que ele é são e é um gênio, manipulando as pessoas que lidam com ele diretamente para convencê-los de sua insanidade. Então o psiquiatra deve diagnosticá-lo. Ele está fingindo que foi possuído, ou realmente acredita nisso? Repare que não é uma questão de descobrir se ele está de fato possuído.

DIÁLOGOS E MEDO

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A partir daí, Nefarious é um filme totalmente centrado nos dois atores conversando. As atuações de ambos são ótimas, com um óbvio destaque para Sean Patrick Flanery, que age de forma totalmente diferente se está falando como Edward ou como Nefarious (o nome do demônio). Mas antes das atuações sequer terem chances de serem boas, um filme como este só funciona com um bom roteiro. E, meu amigo, o diálogo é extremamente bem escrito. É o tipo de coisa que eu, também como escritor, sonho em fazer um dia.

Tem vários momentos de destaque – curiosamente tanto assustadores quanto engraçados. Mas talvez minha parte preferida seja quando o demônio explica o motivo da rebelião dos anjos, a criação dos humanos e o plano dos agora demônios para vencer o Todo-poderoso. Este é um destaque, mas tem vários outros momentos impressionantes, como quando o demônio explica os passos necessários para uma possessão dar certo. É assustador como ele explica que, cada vez que a vítima cede a uma pequena tentação, o demônio consegue assumir um pouquinho mais de controle.

A NEFARIOUS PLOT: TEOLOGIA E RELIGIÃO

Nefarious é um filme feito para convencer as pessoas de forma lúdica da realidade da religião católica, segundo a dupla que dirige e escreve o filme. Isso é algo que me incomoda um pouco. De fato, ele é bem convincente, mostrando os argumentos demoníacos de forma altamente racional. Mas não gosto de ser um filme religioso, ao invés de uma simples ficção. Felizmente, ele pode ser visto como uma boa história de terror, e funciona como tal.

Nefarious, o filme, tem a intenção de mostrar os bastidores da criação do livro A Nefarious Plot, que realmente existe. Porém, não se assuste, pois o livro não é baseado numa história real. E como veículo para vender o livro, funciona que é uma maravilha. Eu mesmo fiquei com vontade de ler, pois acredito que os diálogos e argumentos serão ainda mais desenvolvidos em um livro de 200 páginas do que em um filme de 90 minutos.

Independente da parte comercial e ideológica por trás do filme, se você gosta de um filminho de medo mais racional, e de cinema focado em pessoas conversando, consigo recomendar Nefarious fortemente. Certamente é um dos melhores filmes do ano para mim, e já tenho vontade de assistir a ele de novo.